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  • Luiz Gama, o folião-mor do Rio de Janeiro

    Da Redação em 06 de Setembro de 2021    Informar erro
    Luiz Gama, o folião-mor do Rio de Janeiro

    Todo mundo sabe que carnaval não é uma festa para amador. Cair na folia exige antes de tudo energia e disposição. Quem acha que idade é empecilho para brincar, está enganado. Que o diga Luiz Gama, ex-funcionário da metalúrgica Belgo-Mineira, tido como um dos foliões-mor do carnaval de rua do Rio de Janeiro. Aos 84 anos, ele brinca nos blocos, toca pandeiro nos Escravos da Mauá e ainda comanda o bloco Larga a Onça, Alfredo, no bairro das Laranjeiras.

    Em entrevista ao Bafafá, Luiz Gama, carioca nascido no Cosme Velho, fala de sua trajetória e sua paixão pelo carnaval. E dá uma dica: “Sempre respeitem o próximo e suas diferenças. Carnaval é inclusão e diversão!”, assegura. Sobre a disposição para brincar, não titubeia: “Sem entender o poder oculto inexplorado que está dentro de nós, a vida é o segredo! Vivo o agora!”.  

    Fale sobre sua trajetória profissional 
    Comecei a trabalhar aos 14 anos de idade, em novembro de 1947. Estava vendo meu irmão mais velho contar seu dinheiro, quando ele me disse: “Se você quiser ganhar dinheiro, a agência Ponte de Tábuas (Jardim Botânico), dos Correios e Telégrafos, está precisando de estafetas para a temporada”. Convenci meus pais e fui à luta! Era contrato temporário, para entregar telegramas aos destinatários nos bairros da Zona Sul (eu morava no Horto, no Alto do Jardim Botânico) no período do final de ano. A carga horária era pesada. Enfrentar chuva ou sol usando uniforme-farda era difícil, mas tinha que arriscar. Me tornei exímio em pegar e saltar de bonde em movimento!!!!  

    Na Belgo, minha trajetória foi extensa por várias áreas até me aposentar em janeiro 1990, após 26 anos de empresa e 43 “aninhos” de contribuição para a Previdência Social!   

    Como era brincar o carnaval antigamente? 
    Vivenciei o carnaval a partir da década de 1940, no Rio de Janeiro, então Distrito Federal. O centro da cidade tinha ornamentação nas principais ruas. A manifestação foliã com muitas fantasias tradicionais, máscaras criativas, confetes, serpentinas, lança-perfume... Assisti cortejos de ranchos, blocos e cordões, com o dobrado hino carnavalesco “Ó Abre Alas”, de Chiquinha Gonzaga, apropriado no andamento (utilizado atualmente) quando a palavra de ordem para abrir passagem na multidão. Enquanto durava o entrudo, a folia da Rua com mascarados, a moda era se molhar ao som das marchinhas e sambas. 

    Meu pai costumava nos levar, a mim e meus irmãos, fantasiados, ao passeio de bonde, do Jardim Botânico ao Tabuleiro da Baiana - Estação Largo da Carioca; era bem divertido... Me vem à lembrança as batalhas de confetes ao som de marchinhas e sambas.

    Brincávamos também carnaval no quintal da nossa casa no Horto Florestal, alto do Jardim Botânico, eu, meus irmãos e vizinhos. Minha mãe entrava na brincadeira, com serpentinas e confetes...

    Nos anos seguintes participei e assisti alguns blocos de Rua do Jardim Botânico. O tradicional Bloco carnavalesco da Bicharada, cortejo zoológico criado por Haroldo Lobo. A Sede do bloco era no Carioca Esporte Clube (que eu frequentava nas matinês carnavalescas), de onde saia o desfile.

    Nas Laranjeiras assisti os Canarinhos, costumava ir em companhia de uma prima que morava na Rua Mário Portela. Na década de 50, praticamente frequentei os mesmos blocos.

    Após aposentar-me em 1990 participei dos desfiles do Bafo da Onça, Cacique de Ramos, Suvaco do Cristo, Simpatia e quase amor, bloco de Segunda e outros.

    Como frequentador do Posto 9, passei a curtir o bloco Bafafá a partir de sua fundação em 2003. Me concentrava na Barraca do uruguaio, entre um mergulho e outro, esperando a hora do início dos trabalhos.

    Tenho lembrança também da Praça Onze, imortalizada em 1942 no samba de Herivelto Martins e Grande Otelo: “Vão acabar com a Praça XI / Não vai haver mais escolas de samba, não vai!...” Foi realmente um curioso reduto do carnaval carioca.

    Se os velhos cronistas não se enganaram, considerando que o primeiro carnaval oficial do "tempo da coroa" se realizou em 1641, seguidos nos primeiros anos da República até os dias de hoje, os cariocas estarão brincando, neste ano, o seu 377º carnaval.

    Era mais divertido?
    Era um carnaval bem divertido, ao mesmo tempo em que havia brincadeiras brutas, tinha encantamento! 

    Como e quando surgiu a ideia de criar o LOA?
    A ideia surgiu em 1990 conversando com minha mãe. Tive vontade de homenagear o local em que nasci - Cosme Velho, Ladeira do Ascurra, aos pés do Redentor, talvez um sonho, alimentado por alguns anos. Em setembro de 2007, conversando a respeito com dois amigos, o sonho começou a ser realizado. Já na semana seguinte, um dos amigos, Manoel Jorge, criou o nome: Bloco Carnavalesco Larga a Onça, Alfredo! O outro amigo, Alceu Mentzingen, o enredo: “Como a Onça Pintada apareceu no carnaval carioca”. Logo, logo, o LOA deu os primeiros passos no pátio da Maracatu Brasil ("nossa sede, nossa sede"); e, em 19/10/2007, houve a reunião de Fundação do bloco, na Quadra dos Guararapes, cedida pelo grande amigo Miguel Diniz. 

    Qualquer um pode fazer parte do bloco?
    Sim, qualquer pessoa é bem vinda! Para fazer parte da bateria (Bater'Onça) é necessário ensaiar!   

    Como é tocar nos Escravos da Mauá?
    Tocar no Escravos da Mauá é realizar-se, nos traz benefício para o corpo e alma. Somos todos por todos! 

    Qual é o segredo para tanta disposição? 
    Sem entender o poder oculto inexplorado que está dentro de nós, a vida é o segredo! Vivo o agora! 

    Adoro a música Vida da minha vida (Moacyr Luz), cujos versos poéticos finais dizem: “Vida da minha vida / Peço ao meu protetor/ Se for pra ser vivida/ Diga pra onde eu vou...”   

    Qual é recado para as novas gerações que pulam carnaval? 
    Sempre respeitem o próximo e suas diferenças. Carnaval é inclusão e diversão! Bebam moderadamente e beijem mais! E... Vamos nessa que é bom à beça! 

    Fevereiro 2017, entrevista concedida ao editor do Bafafá, Ricardo Rabelo.

    Foto: Divulgação



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      • Comentário do post Edison Carvalho:
        Poxa........, e deixou de mencionar os Blocos; do Assunção DO CASARIO DO SANEMAENTO, dos Cubanos e o da Lata.........!!!! Aliás deste último vai lá o primeiro verso do Grito de Guerra: "o bloco da Lata vai sair, com chuva ou com sol, porque não é preciso esquentar o tarol"..................!!!!!!

      • Comentário do post Jorginho:
        Luiz meu recado para as novas gerações : se espelhem em você , no caminho sincero de fazer amigo. É por isso que tanta gente gosta de você. BJ

      • Comentário do post Rose Lomba:
        Parabéns, Luiz Gama! Sua entrevista nos faz reviver bons momentos dos carnavais de décadas passadas.

      • Comentário do post Lucas Lula Dias:
        Salve, grande amigo Gama! Você nos dá a impressão de que desfila em todos, todos os blocos e em mais um. Creio que na sua secreta fórmula de vigor está uma grande quantidade de bom humor e amor à vida.

      • Comentário do post Luciano Menezes:
        Luiz Gama só não falou que o Larga a Onça Alfredo tem as melhores onças do carnaval. Talvez o segredo seja a alma do bom bloco



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