MAIS COISAS >> Entrevistas

  • Alcione: “O samba é de todo o povo brasileiro”

    Agenda Bafafá em 15 de Fevereiro de 2021    Informar erro
    Alcione: “O samba é de todo o povo brasileiro”

    Alcione Dias Nazareth, conhecida artisticamente como Alcione e para os íntimos como “Marron”, é natural de São Luís do Maranhão. Radicada no Rio de Janeiro desde 1976, começou a ficar conhecida depois de se apresentar em casas noturnas cariocas e a ganhar concursos de calouros. Ao longo da carreira, foi premiada com 21 discos de ouro, cinco de platina e um duplo de platina. Ela acaba de lançar o CD Eterna Alegria com repertório de músicas inéditas.
     
    Em entrevista ao Bafafá, numa pausa da nova turnê, a artista fala sobre a infância, início de carreira, influências e muito mais. Questionada se tem alguma utopia, não pensa duas vezes: “Eu queria muito que a saúde fosse levada a sério no País. Eu não aguento mais ver gente morrendo na fila de espera dos hospitais, porque não foi atendido. A saúde do Brasil está doente”. Sobre o interesse das novas gerações pelo samba, é entusiasta. “Isso é muito importante. Tirou aquele mofo e que era coisa só de velha-guarda. O samba é de todo o povo brasileiro”, revela.
     
    Como foram sua infância e juventude?
    Gostei muito da minha infância, brincava muito com meus irmãos que faziam carrinhos de rolimã, jogavam bola e empinavam pipa. Sempre me diverti muito com brinquedos de menino (riso). Brincava também de boneca, que eram de palha e preenchidas com areia. Mas meu negócio sempre foi homem (riso). Tive uma infância muito feliz.
     
    Quando descobriu a vocação pela música?
    Foi aos oito anos de idade. Eu gostava muito de cantar, aprendi solfejo, teoria musical com meu pai e um pouco de clarinete. Minha mãe não gostou muito da ideia, disse que eu era muito magrinha para tocar esse instrumento e me incentivou a aprender acordeom, mas meu pai não gostava. Então, eu voltei para tocar clarinete e trompete. A partir daí fui criando intimidade com a música, propriamente dita, e também com o canto. Mas meu pai não queria que eu fosse profissional da música e do canto. Ele um dia me perguntou qual era a minha maior vontade e eu disse que era ir para o Rio de Janeiro cantar (riso).
     
    Foi fácil convencê-lo?
    Não muito. Como eu tinha acabado de me formar na Escola Normal, ele disse que eu teria que lecionar dois anos como professora no Maranhão, pois esse era o grande sonho dele. Ensinei dois anos lá e, depois, ele me deixou ir embora.
     
    Cantar samba era discriminado?
    No samba eu não sofri discriminação, porque comecei na casa de Candeia, na Mangueira. Lá, eu fiz amizade com Carlos Machado, Nelson Cavaquinho, Seu Aniceto do Império. Eu precisava conquistar a confiança deles. Eu tinha vindo para ficar e ter a confiança deles era muito importante.
     
    Quais eram e são suas referências musicais?
    Minha grande referência foi meu pai. Ele era músico, maestro, repentista, compositor e tocava na Banda de Música da Polícia do Maranhão. Era uma grande referência e estava dentro da minha casa. Já com relação às cantoras, comecei ouvindo muito Núbia Lafayette. Adorava seu repertório e voz. Eu queria cantar como ela. Também tinha Dalva de Oliveira, Ângela Maria. Depois, fui apresentada à Mahalia Jackson, por um amigo. Em seguida veio Ella Fitzgerald. Nunca imaginei que alguém pudesse cantar daquele jeito.
     
    Por que as rádios não tocam samba?
    Eu acho até que as rádios estão tocando mais samba. Há até um programa que é o Samba Social Clube que é muito bom. As rádios só precisavam tocar mais as grandes vozes da música brasileira. Eu queria ouvir mais Ângela Maria, mais Rosa Passos. Aliás, a gente não ouve Rosa Passos aqui no Brasil. Só nos EUA. As rádios precisam tocar mais cantores interessantes.
     
    O que acha do resgate do samba, principalmente entre os jovens?
    Isso é muito importante. Tirou aquele mofo do samba. Aquela coisa que samba era uma coisa só de velha-guarda. O samba é de todo o povo brasileiro. Antes, parecia que o samba pertencia só à velha-guarda.
     
    O que diferencia o pagode do samba?
    Pagode é uma reunião de sambistas, onde cada pessoa que chega faz e toca seu samba. Pagode não é ritmo, tampouco música. Qual é a melhor roda de samba do Rio? Eu gosto muito do Carioca da Gema, do Samba Luzia (atrás do Aeroporto Santos Dummont) e a do Samba do Trabalhador.
     
    Como está vendo o desfile das escolas de samba?
    Eu sou meio suspeita, pois eu adoro ver o desfile na avenida e acho todas as escolas bonitas. Adoro ver o Salgueiro. Sou uma mangueirense que adora quando o Salgueiro entra na avenida. Parece um cavalo manga-larga marchador. Ano que vem a Mangueira virá como tem que ser, com tudo em cima, com tudo que tiver direito e a Portela também. Houve a mudança na presidência e agora as escolas vão fazer um carnaval bonito na avenida.
     
    Quais são seus projetos?
    Posso adiantar que vou gravar o DVD do meu novo disco na Fundição Progresso. Aí, penso em escrever um livro, uma biografia com apoio de Diana Aragão. Tenho muita história para contar sobre minha família, amigos, das vitórias e das lutas.
     
    Tem alguma utopia?
    Quem é que não tem? Eu queria muito que a saúde fosse levada a sério no País. Eu não aguento mais ver gente morrendo na fila de espera dos hospitais, porque não foi atendido. A saúde do Brasil está doente. Precisam cuidar mais da saúde do povo brasileiro em todos os sentidos. Nós não temos médicos querendo ir para o interior. Eles não querem ir para lá, onde as pessoas têm mais necessidade. Os médicos que se formam agora têm que fazer um mutirão para o interior. Tem que atender aquele povo. Há lugares que as pessoas nem sabem o que é um médico.
     
    Que mensagem você deixaria para a nova geração?
    Amem o samba. É bom cantar samba, mas tem que ter responsabilidade. É isso que cria a estabilidade do artista.
     
    Setembro 2013
    Entrevista concedida a Ana Crys Tavares


    • MAIS COISAS QUE PODEM TE INTERESSAR

      Custódio Coimbra: O poeta da fotografia fala ao Bafafá
      Saiba Mais
      Exclusivo: Prefeito de Maricá fala ao Bafafá: "Fundo soberano chegará a R$ 2 bilhões em 2024"
      Saiba Mais
      Exclusivo: Ruy Castro fala ao Bafafá sobre o processo criativo durante a pandemia
      Saiba Mais


    • COMENTE AQUI

      código captcha

      O QUE ANDAM FALANDO DISSO:


      • Seja o primeiro a comentar este post

DIVULGAÇÃO