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  • Ary do Cavaco: Não almejo mais nada

    Agenda Bafafá em 28 de Maio de 2016    Informar erro
    Ary do Cavaco: Não almejo mais nada

    O compositor e cavaquinista Ari Alves de Souza, conhecido como Ary do Cavaco, já ganhou seis sambas-enredo na Portela. Ex-torneiro mecânico, teve infância pobre em Madureira onde engraxava sapato para ajudar a mãe viúva.
     
    Aos 20 anos descobriu a vocação para o samba frequentando a quadra da azul e branco. 
     
    Autodidata na música, Ari ganhou respeito dos mais velhos. “Naquele tempo enfrentei uma barra pesada, pois a escola tinha grandes compositores como Candeia, Waldir Rosa, Casquinha, Monarco. Era muito difícil para um garoto conseguir penetrar numa escola de samba”, assegura.
     
    Seus sambas já foram gravados por Paulinho da Viola (Lapa em Três Tempos), Zeca Pagodinho (Nega do Patrão) e Jair Rodrigues (Na Beira do Mangue), entre outros.

    Em entrevista ao Bafafá, Ari do Cavaco fala sobre a infância e juventude, os primórdios no samba e sua fonte de inspiração. Ao ser questionado porque não integra a Velha Guarda da Portela, mostra humildade: “Até eu não sei a razão. Sou nato ali, no entanto nunca fui convocado. Estou de prontidão para quando isso acontecer”, segreda o compositor.

    Como foi a sua infância?
    Fui criado em Coelho da Rocha, no município de São João de Meriti, na Baixada Fluminense. Sou contemporâneo de David Correa e o Beto Sem Braço que conheci criança. A minha infância foi como a de todo garoto pobre que perdeu o pai cedo. Jogava bola, trabalhava, engraxava sapato e vendia pão para ajudar a minha mãe que tinha mais cinco filhos. Graças a Deus não chegamos a passar dificuldades porque fomos à luta. Todo mundo foi trabalhar e por isso nunca passamos fome.

    E a adolescência?
    Não tive muito tempo para estudar e só cheguei ao terceiro ano primário. No Senai conclui o curso de torneiro mecânico, profissão que só larguei em 1970. Me liguei cedo ao samba, a partir do momento que fomos morar em Madureira. Isso, mesmo contra a vontade da minha mãe já que naquele tempo samba era coisa de malandro. Fui levado para a Portela pelo Natal que aceitou ouvir algumas composições que tinha feito. Isso foi em 1962, quando tinha 20 anos. Naquele tempo enfrentei uma “barra pesada”, pois a escola tinha grandes compositores como Candeia, Walter Rosa, Casquinha, Monarco. Era muito difícil para um garoto conseguir penetrar numa escola de samba. Eu aproveitei quando o Paulinho da Viola chegou na Portela em 1964 e fui me infiltrando, tocando cavaquinho.

    Você estudou música?
    Não estudei. Tudo o que eu faço é de ouvido. Aprendi a tocar cavaquinho por necessidade, pois senti que na Portela naquele tempo era difícil cantar samba de terreiro. Quando o Paulinho da Viola chegou e trouxe o Jair do Cavaquinho, a escola ficou sem outro cavaquinho para acompanhar os compositores. Aprendi a tocar o instrumento muito rápido com um amigo que era gari. Foi quando passei a dar o tom para os outros e consequentemente a mostrar meus sambas também (riso).

    Qual é tua inspiração ao compor?
     As coisas da vida. Nunca fui de fazer parcerias, prefiro compor sozinho. Meus temas mais freqüentes são a cidade, as coisas do Brasil.

    Por que não integra a Velha Guarda da Portela?
    Até eu não sei a razão. Sou nato ali, no entanto nunca fui convocado. Estou de prontidão para quando isso acontecer.

    As escolas de samba mudaram?
    Mudaram. Quando cheguei na Portela ela desfilava com 800 componentes e uma bateria com 80 músicos. Quando ganhei com o samba “A Lapa em Três Tempos”, a Portela já desfilava com quatro mil pessoas e uma bateria de 300 componentes.

    O samba virou marcha?
    Não, é que agora você tem que dar mais andamento. Antigamente a bateria tinha uma batida tradicional, dava para identificar a escola pela sua bateria. Hoje isso não é possível porque elas estão acelerando para poder desfilar em 01h20 com quatro mil componentes.

    Você gosta do samba que é produzido atualmente?
    Não gosto muito desse samba “choradeira”, gosto mais do samba tradicional. Gosto de ouvir sambas antigos, de Jamelão, Chico Alves. Esse negócio de pagode, eu me lembro que a gente saía na madrugada com o Joãozinho da Pecadora e o Nei Viana   e já fazia isso. Hoje tem gente que se acha o “rei do pagode”, apesar disso ser feito há muito tempo.

    O que acha do funk? Eu não sei o que é isso (riso).

    O que acha do Zeca Pagodinho?
    Maravilhoso, é um compositor humano, amigo. Gosto muito dele. Ele já gravou dois sambas meus. 

    Continua compondo?
    Sim, estou preparando o meu primeiro CD com músicas de minha autoria. Devo lançar até o final do ano.

    O que faz no dia-a-dia para ocupar o seu tempo?
    Vou na casa dos compositores onde procuro trabalhos para fazer. Graças a Deus tenho uma aposentadoria que me permite viver. Vou levando a vida assim até onde Deus quiser.

    Você tem algum sonho?
    Meus sonhos eu já realizei vendo trinta mil pessoas cantando minhas músicas no Maracanãzinho e a Portela desfilar seis vezes com meus samba-enredos. Não almejo mais nada, estou feliz e vivo feliz. Sinto-me realizado (riso).

    Junho de 2009
    Entrevista exclusiva ao Bafafá.



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