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  • Cristina Buarque: "Na minha família todo mundo cantava"

    Da Redação em 15 de Março de 2022    Informar erro
    Cristina Buarque:

    Maria Christina Ferreira é a irmã mais nova de Chico Buarque. Diferente do irmão cantor e compositor seguiu carreira apenas de cantora obtendo grande respeito, principalmente no mundo do samba. Com 15 discos gravados, mãe de cinco filhos, a artista se mudou para a Ilha de Paquetá em 2008.
     
    Em entrevista ao Bafafá, Cristina fala sobre os primórdios na música, a retomada do samba entre os jovens, política e governo Dilma. Ela garante que a mandatária é vítima de golpes baixos vindos de políticos da oposição e da mídia. “É tentativa de golpe o tempo todo, o papel da imprensa é lamentável”, fuzila.

    Como foram sua infância e juventude?

    Nasci em São Paulo e morei na cidade até os 27 anos de idade. Estudei lá, casei lá e tive um monte de filhos lá (riso). Estudei em colégio de freira, mas me salvei (riso). Eu sou a mais nova de sete filhos. Meu pai também gostava de música, ele foi muito boêmio no Rio de Janeiro, apesar de paulista. Minha mãe era carioca e também gostava de música. Ambos tocavam piano.

    E a vocação pela música, como aconteceu?

    Na minha família todo mundo cantava, principalmente a Miúcha que tocava violão. Ela ensaiava com a gente, ensinava músicas. Ela ensinou o Chico a tocar violão, mas eu não aprendi porque era muito preguiçosa para assimilar. Comecei a tocar de orelhada.

    Estudou alguma coisa paralelamente?

    Estudei fonoaudiologia até o terceiro ano, ai fui tendo filhos e perdi o interesse.

    Gosta de compor?

    Componho pouco, só mais de brincadeiras, letras para blocos. Eu sou mesmo é cantora.

    E o amor pelo samba, como aconteceu? 

    Descobri Ataulfo Alves, Noel Rosa e Ismael Silva e era convidada a rodas na casa do Candeia. Também frequentava as rodas do Opinião. Sempre gostei muito de samba. Fiz muito show de teatro vazio, naquela época samba não era popular como hoje. A plateia era mais de cabeças brancas.

    Como aconteceu a retomada do samba no Rio de Janeiro?

    A partir de 95 com as rodas de Teresa Cristina, no Bar Semente, no antiquário do Lefê Almeida na Rua do Lavradio, o Marquinhos Oswaldo Cruz nos Arcos e o bar Mandrake em Botafogo com as rodas do Galotti. Hoje tem roda todos os dias, em todos os lugares, em qualquer lugar do Brasil.

    Como está vendo a redescoberta dos jovens pelo samba? 

    Demorou, mas aconteceu. Os jovens estão mandando bem resgatando sambas que estavam esquecidos, pesquisam pela Internet. Virou certa moda também. Alguns conversam ao invés de ouvir a música e os músicos ficam berrando.

    Essa retomada aconteceu antes em São Paulo?

    Em São Paulo tinha vários grupos de samba na Zona Leste, Mauá, tanto na capital como no subúrbio. Interessante é que o repertório era de clássicos da Portela, do Estácio, da Mangueira e até músicas menos conhecidas. O prazer deles era esse. Que é o que sempre gostei de fazer (riso). Em São Paulo, fiz um trabalho com o Terreiro Grande, um grupo de samba com o qual gravamos dois discos. Hoje uma parte menor do grupo se reúne num bar em São Paulo perto de Tatuapé.

    Está com algum projeto?

    Estou parada mesmo. Já ralei muito e cansei um pouco! Vivo com pensão de viúva e um apartamento em Botafogo que está alugado e com cujo aluguel eu pago a prestação da casa que comprei na Ilha de Paquetá.

    Como foi a opção de morar em Paquetá?

    Quando eu morava em Botafogo tinha uma faxineira que revirava todo o meu apartamento na hora de arrumar. Então eu inventava alguma coisa para fazer na rua (riso). Um dia resolvi pegar a barca e conferir o lugar onde só tinha ido quando criança. Saí andando, parava num bar para tomar uma cerveja, andava um pouco mais. Achei o máximo e resolvi morar aqui em 2008. Em Paquetá as pessoas são mais gentis e calmas. Morei dois anos de aluguel e depois que minha mãe morreu, comprei uma casa. Cansei dessa coisa das pessoas se atropelarem, tudo cheio. Ninguém respeita sinal, os velhinhos então sofrem. Aqui em Paquetá você não pega condução, gasta pouco dinheiro. Você conhece as pessoas, é uma vida de interior. Vou parar de falar bem porque tem muita gente querendo vir morar aqui (riso). Tem coisas ruins também: quando chove fica tudo cheio de lama, cai a Internet, as barcas são irregulares ou quebram, falta luz...  Paquetá não é agradável (riso). 

    Como está vendo a conjuntura política?

    Está cabeluda, né? É tentativa de golpe o tempo todo, o papel da imprensa é lamentável. Eu não leio mais jornais, só pela internet. Muita gente não tem noção do que foi a ditadura e fica apoiando a volta dos militares.

    A Dilma é incompetente? 

    Não acho. É impossível governar um país com esses políticos. Claro que tem coisa que ela pode ter feito errado, nada que justifique sua destituição. Ela está sendo vítima de golpes baixos vindos do PSDB. O impeachment é uma palhaçada! O Cunha está ferrado, tentou se defender envolvendo a Dilma e ela não aceitou. A Dilma vai ter os votos que garantem seu mandato.

    E o Lula vem candidato em 2018?

    Estamos nessa! Vai ser mais fácil de ganhar do que com a Dilma agora. Ele tem o que a Dilma não tem: carisma. É competente também.

    Tem alguma utopia?

    Quero sossego. Já é uma certa utopia, né?

    Dezembro de 2016, entrevista concedida ao editor do Bafafá Ricardo Rabelo.


    ÁUDIOS

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