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  • Guilherme Boulos: Fazer ruir a Casa Grande, esta é a minha utopia

    Da Redação em 22 de Junho de 2017    Informar erro
    Guilherme Boulos: Fazer ruir a Casa Grande, esta é a minha utopia

    Nascido em São Paulo em 1982, Guilherme Castro Boulos é um dos principais ativistas da nova geração de esquerda. Formado em filosofia pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP), é professor de psicologia e membro da Coordenação Nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST). Aos 19 anos, largou a vida de classe média para viver num acampamento de sem tetos onde ganhou respeito e credibilidade ao liderar ocupações e protestos em São Paulo e em todo o país.  

    Em entrevista ao Bafafá, Guilherme Boulos, casado e pai de duas filhas, faz um balanço da conjuntura nacional. “Diretas são a única saída democrática para a crise atual”, assinala. Segundo Boulos, nenhum presidente eleito por via indireta terá autoridade moral e legitimidade para governar o Brasil. Segundo ele, Temer não tem outra saída a não ser renunciar. Questionado se tem utopias, não titubeia: “Fazer ruir a Casa Grande, esta é a minha utopia”.

    Acredita que é real a possibilidade de eleições diretas?

    Sim, acredito. 89% da população defende esta saída, segundo a última pesquisa Vox Populi. É a única saída democrática para a crise atual. As outras são manter este governo ilegítimo e comprovadamente corrupto ou então eleição do presidente por um Congresso desmoralizado. Evidentemente, para esta posição da maioria se transformar em realidade precisa de uma mobilização popular mais ampla do que tivemos até aqui.

    O Temer vai “sangrar” até a última gota?

    Temer não tem outra saída. Se ele renuncia agora, sem algum tipo de acordo, pode ir do palácio direto para a cadeia, ao perder o foro especial. Seguindo as mesoclises ao seu gosto, manter-se-a até o limite no governo para salvar seu pescoço.

    A Câmara caminha para a “solução” Rodrigo Maia com mandato tampão. Ele tem condições de governar o país?

    Nenhum presidente eleito por via indireta terá autoridade moral e legitimidade para governar o Brasil. Saídas como esta só aprofundarão a crise política.

    Em caso de diretas, quem seriam os candidatos?

    Existe uma série de pré-candidatos se apresentando. Mas este não deve ser o debate principal agora. Defender as diretas não deve ser confundido coma defesa de qualquer candidatura.

    Em relação à Lava Jato, tudo indica que não há provas contra Lula?

    Mesmo após dois anos intensos de linchamento, Moro e os procuradores de Curitiba não conseguiram apresentar uma única prova contra Lula. Tem extrato de alguma conta na Suíça? Tem gravação, filmagem? Nada, só delações, algumas delas contraditórias até mesmo com versões anteriores do próprio delator, como no caso do Leo Pinheiro. Visivelmente há da parte da Lava Jato uma presunção de culpa contra Lula.

    Como vê a atuação do juiz Sérgio Moro?

    Sergio Moro é um promotor de toga. Se houvesse seriedade no judiciário brasileiro, estaria na geladeira pelo CNJ. Seja pelos inúmeros abusos de prerrogativa, seja pelo recebimento de salários muito acima do teto constitucional. Mais aí teria que afastar boa parte dos juízes. Muitos dos atuais moralizadores da nação teriam que limpar antes seu próprio quintal.

    Acredita que a deposição de Dilma não passou de um plano engendrado pelas mídias corporativas?

    É evidente que não, embora o papel da mídia neste processo foi decisivo. Mas aí atuou uma coalizão, que envolveu o pântano parlamentar liderado por Cunha, interesses econômicos, sem contar com os erros crassos do próprio governo, em especial de sua política econômica com Joaquim Levy.

    O que pode ser feito para eleger um Congresso mais concatenado com os ideais do país?

    O problema é estrutural. O sistema político da Nova República está falido. Precisamos de uma profunda democratização do Estado brasileiro, uma verdadeira revolução política.

    Acredita que o prefeito João Dória fará um governo sem percalços?  

    Já está tendo problemas. Uma hora a política feita só por gestos espetaculares nas redes sociais, na lógica de maximizar os likes, se esgota. Não basta. Administrar São Paulo não é administrar uma empresa.

    Qual a mensagem de esperança que daria para os brasileiros angustiados com a situação política do país?

    A crise atual também sinaliza abertura para saídas populares. O esgotamento de um modelo cria alternativas, de um lado e de outro. Isso gera a antipolítica, um Bolsonaro e saídas autoritárias, mas também abre espaço para um caminho de aprofundamento da democracia e soluções populares. O fascismo surgiu de crises, as grandes rupturas populares também. Temos uma oportunidade para a esquerda se reinventar, mas para isso é preciso retomar o enraizamento junto às maiorias e ousar propor algo além do que já foi feito.

    Tem alguma ambição legislativa?

    Este é um momento de fortalecer a resistência social. É a esta construção que me dedico.

    E utopias, tem alguma?

    Sem elas a luta política não faz sentido. Quem quer que seja de esquerda no Brasil deve ter como horizonte derrubar a Casa Grande, com tudo o que ela significa de desigualdade, privilégios, espoliação, violência ao povo, ranço autoritário... Fazer ruir a Casa Grande, esta é a minha utopia.

    Junho 2017, entrevista concedida ao editor do Bafafá Ricardo Rabelo



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