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  • Jards Macalé: Nunca fui tropicalista

    Agenda Bafafá em 17 de Agosto de 2020    Informar erro
    Jards Macalé: Nunca fui tropicalista

    Jards Anet da Silva, mais conhecido como Jards Macalé, é carioca da Muda onde morou até os cinco anos quando se mudou para Ipanema. Filho de oficial da Marinha, jogava futebol na praia onde ganhou o apelido que carregaria a vida toda. Macalé era um dos piores jogadores do Botafogo na época.
     
    O interesse pela música veio cedo incentivado pelos pais. Aos 15 anos, ao lado de Chico Araújo, filho do maestro Severino Araújo, formou o duo violão e bateria chamado "Dois no Balanço". Nos anos seguintes, chamou atenção e acabou tendo músicas gravadas por Eliseth Cardoso, Nara Leão e Gal Costa. Ele é ainda autor de trilhas sonoras de épicos do cinema nacional, entre eles Amuleto de Ogum, de Nelson Pereira dos Santos, Macunaíma, de Joaquim Pedro de Andrade e O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro, de Glauber Rocha.
     
    Aos 65 anos, o cantor, violonista, compositor, arranjador e ator, Jards Macalé mantém agenda cheia e muitos planos. Numa simpática entrevista ao Bafafá, Jards Macalé fala um pouco de tudo: juventude, música, política, Bossa Nova e Tropicalismo. “É um engano dizer que a Bossa Nova tenha estagnado. O mundo inteiro, é influenciado até hoje por essa tal de bossa nova”, assegura. Macalé nega também que tenha integrado o tropicalismo. “Apesar de ter intimidade com os tropicalistas nunca fui tropicalista”.
     

    Como foram a sua infância e adolescência?
    Nasci na Tijuca, na Muda, no Maciço da Tijuca, na Rua Pucuruí, atual Max Fleuss. Tinha como vizinhos Vicente Celestino e Gilda de Abreu. Meu pai, minha mãe (que canta lindamente) e minha avó amavam a Música. Mudamo-nos para Ipanema quando eu tinha 5 anos. Era levado aos concertos de música pela minha avó (Cinema Odeon) e a óperas (Teatro Municipal) por meu pai que era sócio contribuinte da Orquestra Sinfônica Brasileira. Por causa da minha aproximação com Severino Araújo, tornei-me copista da Orquestra Tabajara e depois da Orquestra Sinfônica Brasileira através do Maestro Edino Krieger.
     
    Quando descobriu a vocação pela música?
    Diz minha mãe que eu vivia balbuciando sons.
     
    Qual é a origem do apelido Macalé?
    Em 1950 e tal havia um jogador do Botafogo que não era lá muito bom.  Nas peladas me gozavam: "Passa a bola Macalé".
     
    Mal começou a tocar e formou a banda Dois no Balanço em 1959?
    Conheci Chico Araújo, filho do maestro Severino Araújo, líder da Orquestra Tabajara. Morávamos no mesmo quarteirão em Ipanema. Ele tocava bateria e formamos um duo violão e bateria a que demos o nome se "2 no Balanço". Mais tarde outros músicos participaram e chegamos a "8 no Balanço".
     
    Quando teve a primeira música gravada?
    "Meu Mundo é Seu", parceria com o violonista Roberto Nascimento, gravada por Elizeth Cardoso em 1963.
     
    Como foi sua incursão pelo tropicalismo?
    Maria Bethânia veio da Bahia para substituir Nara Leão na peça "Opinião" do Teatro Opinião do RJ. Ficou hospedada lá em casa durante o ano de 1964. Começaram a freqüentar minha casa (Ipanema) Caetano, Gal, Zé Ketti, João do Vale, Grande Otelo, entre outros. Quando começaram as pré-discussões sobre o Tropicalismo eu estava na Pró-Arte, escola de música, estudando composição e orquestração com o Maestro Guerra-Peixe, violoncelo com Peter Dauelsberg, análise musical com Ester Scliar, técnica violonística com Jodacil Damasceno. Apesar de ter intimidade com os tropicalistas nunca fui tropicalista.
     
    E a Bossa Nova, teve alguma influência em sua música?
    Tornei-me amigo de Dori Caymmi, filho de Dorival Caymmi, através de Nelson Motta. Freqüentava a casa de Dori em Copacabana, onde toda a chamada "Bossa Nova" passava: Tom Jobim, João Gilberto, Os Cariocas, Vinicius de Moraes, Baden Powell, Luis Eça, entre tantos. Estudei também especificamente "Bossa Nova" com um músico que atualmente mora em Paris chamado Normando Santos. Aprendi muito assistindo aos ensaios desse pessoal.
     
    Porque a Bossa Nova  estagnou e não renovou como o samba?
    É um engano dizer que a Bossa Nova tenha estagnado. O mundo inteiro, até hoje, é influenciado por essa tal de Bossa Nova. Na mão do João Gilberto (Bossa Nova é a batida do João) tem elementos tão sutis de divisão, maneira de cantar, divisões, que surpreendem a todo momento. Mesmo porque João me confidenciou que a Bossa Nova não existe. O que existe é o Samba. Bossa Nova é uma marca que nem Coca-Cola. Portanto, a Bossa Nova é justamente a renovação do samba.
     
    Por que optou pelo exílio em Londres ao lado de Caetano e Gil? O que ficou desta experiência na Inglaterra?
    Caetano me convidou para trabalhar o disco "Transa" em Londres. Fui para colaborar nos arranjos, fazer a direção musical, tocar meu violão e sair da opressão da ditadura militar que violentava o Brasil. 
     
    Quando gravou o primeiro disco?
    Em 1972. Convidei o baterista Tuti Moreno e o guitarrista Lanny Gordin. O repertório é composto com meus parceiros Capinan, Waly Salomão, Duda, Vinicius de Moraes.
     
    E a famosa vaia que levou em 1975, no Festival Abertura da Rede Globo?
    Foi para a composição "Gotham City", minha e de meu parceiro José Carlos Capinan. Entramos com guitarras, (ainda se tinha preconceito com guitarra);  entrei com uma bata branca aos berros de: "Cuidado, há um morcego na porta principal, cuidado, há um abismo".
     
    Já musicou épicos do cinema nacional. Qual é o segredo de uma boa trilha?
    A liberdade. Som, ruído e silêncio são os materiais.
     
    Quais são os seus projetos em andamento?
    Próximo CD chamado "MACAO", a ser lançado em junho; uma vídeo-biografia; uma biografia em andamento; lançamento de dois filmes como ator ("Conceição" e "Tira o óculos e Recolhe o Homem"); participação em um filme a ser rodado com músicas de Lupicínio Rodrigues e vários shows no Brasil e exterior.
     
    E a política? Desiludido?
    Sou um pessimista otimista e um otimista pessimista.
     
    Como está vendo a atual fase musical do país?
    Não estou vendo... Nem ouvindo.
     
    Acredita no surgimento de novos estilos musicais?
    Sempre.
     
    Tem alguma utopia?
    As palavras de ordem de minha geração: PAZ & AMOR.
     
    Entrevista concedida em novembro de 2008


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