MAIS COISAS >> Entrevistas

  • João Donato: “A bossa nova é um samba de apartamento”

    Agenda Bafafá em 28 de Maio de 2016    Informar erro
    João Donato: “A bossa nova é um samba de apartamento”

    João Donato de Oliveira Neto, o João Donato, nasceu em 1934 em Rio Branco no Acre. Filho de um major da Aeronáutica veio jovem para o Rio de Janeiro. Sua carreira começou com apenas 15 anos tocando acordeom com Altamiro Carrilho e em jazz sessions na casa de Dick Farney. Admirador do jazz e da música afro-cubana, o pianista é apontado como um ícone da bossa nova. “A bossa nova é um samba de apartamento, menos barulhento, na base do violão acústico, sem pandeiro e tamborim. O jazz influenciou na harmonia”, afirma Donato. Em entrevista ao Bafafá, João Donato fala sobre a sua relação com o samba e o jazz, carreira, estilos musicais, influências, projetos e muito mais. Questionado se tem alguma utopia, afirma: “Todos os meus sonhos se tornaram realidade. Para isso, é só sonhar com intensidade e firmeza. O segredo é imaginar uma coisa e ela se tornar realidade”.

    O jazz influenciou a bossa nova ou a bossa nova influenciou o jazz?
     A influência do jazz tornou a nossa música um pouquinho diferente, principalmente a partir da bossa nova. Depois disso os americanos começaram a repetir a imitação, a influência da influência (risos). Esse estilo de cantar baixinho o Chet Baker já fazia. Muitas vezes você cria um estilo de música e descobre que em outros lugares alguém fez parecido, sem nunca você ter se encontrado antes. Ou então você é influenciado diretamente, você ouve uma pessoa e se identifica. O João Gilberto influenciou muita gente, as pessoas começaram a cantar, gravar discos.

    A bossa nova é samba ou é jazz?
    A bossa nova é um samba de apartamento, menos barulhento, na base do violão acústico, sem pandeiro e tamborim. O jazz influenciou na harmonia.

    Porque a Bossa Nova não se renovou?
    Os tempos mudaram, os anos 50 eram de um jeito, o ano 2009 é de outro jeito (risos). A bossa nova foi se transformando, mudou para tropicália, tecno-pop. Ela se transformou.

    Acha que outro estilo parecido com a bossa nova pode surgir?
    Estão surgindo muitos estilos. A influência do samba está sempre presente nessas invenções de hoje (risos). É nítida também a influência do Brasil na música como um todo.

    A música americana te influenciou?
    Morei nos EUA durante 12 anos, mas tive mais contato com a música latina. Nas noites de Nova Iorque e Los Angeles ela tem seu espaço pela influência mexicana, cubana, porto-riquenha. Foi nestas cidades que eu encontrei trabalho. Quando fui procurar o jazz constatei que os músicos de jazz tocavam nas orquestras latinas de Perez Prado, Tito Puentes, Machito, Eddi Palmieri (risos). Nos EUA, pelas circunstâncias, fui mais influenciado pela música afro-cubana. O jazz foi o que eu vi de menos lá. Ele era restrito a poucos lugares e mais reservado a grandes nomes.

    Confere que o calçadão da Praia de Copacabana era o melhor lugar para se fala mal dos outros?
    Na década de 50, eu costumava conversar com o João Gilberto no calçadão da Praia, em frente ao Copacabana Palace, nos intervalos dos shows. Não tinha programa melhor do que bater papo e falar mal dos outros, acerca de quem não compreendia a nossa música. 

    Qual foi o seu papel na fundação da bossa nova?
     Ajudei a divulgar a música instrumental que era mais jazzística enquanto que a bossa nova era mais suave. Eu colaborei mais na parte instrumental tocando com os instrumentos mais abertos, com um som mais natural, mais dinâmico.

    Sua carreira é marcada por parcerias. Alguma parceria nova?
    Tenho parcerias novas com Fernanda Takai, Marcelo D2, Carlinhos Brown, Joyce, entre outros.

    O Donatinho é teu sucessor?
    Ele sempre demonstrou tendências musicais, mas eu não ensinei nada para ele (risos). Ele estudou música com Antonio Adolfo, mas com certeza a nossa convivência deve ter marcado a sua personalidade.

    Você gosta do Rio de Janeiro? O Rio de Janeiro me acolheu desde que vim do Acre. Cheguei e fiquei, sou um “acreoca” (risos). Aqui é ótimo, o meu lugar é aqui.

    Tem algum projeto a curto prazo?
    Gravar um disco com o Donatinho, Marcelo D2 e outro com o Jacques e a Paula Morelembaum.

    Alguma utopia?
    Sinceramente não. Todos os meus sonhos se tornaram realidade. Para isso, é só sonhar com intensidade e firmeza. O segredo é imaginar uma coisa e ela se tornar realidade.

    Entrevista concedida a Ricardo Rabelo, editor do Bafafá. Novembro de 2009



    • MAIS COISAS QUE PODEM TE INTERESSAR

      Exclusivo: Ruy Castro fala ao Bafafá sobre o processo criativo durante a pandemia
      Saiba Mais
      Exclusivo: Prefeito de Maricá fala ao Bafafá: "Fundo soberano chegará a R$ 2 bilhões em 2024"
      Saiba Mais
      Exclusivo: Igor de Vetyemy, presidente do IAB-RJ, fala sobre o 27º Congresso Mundial de Arquitetos UIA2021RIO
      Saiba Mais


    • COMENTE AQUI

      código captcha

      O QUE ANDAM FALANDO DISSO:


      • Seja o primeiro a comentar este post

DIVULGAÇÃO