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  • Marcel Powell: Um dos produtos que o Brasil tem de melhor é a música

    Agenda Bafafá em 29 de Maio de 2016    Informar erro
    Marcel Powell: Um dos produtos que o Brasil tem de melhor é a música

    Nascido em Paris, em 1982, o violonista Marcel Powell carrega um sobrenome importante no cenário musical mundial. Filho do saudoso Baden Powell descobriu a música aos três anos e com apenas 12 anos gravava o primeiro disco. Sua iniciação foi com o próprio pai, tido como um professor exigente e severo. Em entrevista ao Bafafá, Marcel Powell fala sobre a carreira, inspiradores musicais e projetos. Ele garante que a música é um dos produtos que o Brasil tem de melhor, mas admite que São Paulo tem mais mercado. “Acho que o Rio de Janeiro é muito mais vitrine”, assinala.

    Como foi sua iniciação musical?
    Comecei tocando violino na Alemanha quando tinha três anos de idade numa cidade chamada Baden Baden. Depois mudamos para o Brasil e eu abandonei a música. Somente aos nove é que realmente descobri o violão iniciado pelo meu pai a pedido meu. Ele deixou a gente a vontade, mas disse que se quiséssemos ser músicos era para fazer direito e que iria se encarregar pessoalmente pela formação. Foi rápido, com três meses de aula de violão já estava fazendo show com ele. Olha que papai era bem severo. Minha estréia foi na antiga casa de jazz que funcionava no edifício do hotel Meridien, a Rio Jazz Club. Na primeira fila estava o Rafael Rebello. Aos 12 anos gravei o primeiro disco intitulado “Baden Powell e filhos”. O segundo aos 15 anos, chamado “Suíte Afro Consolação”, em Tóquio. Entre um e outros fizemos muitos shows no Brasil e na Europa.

    Chegou a estudar música em conservatório?
    Toda a minha formação foi em casa com o meu pai até ele falecer quando tinha 18 anos. Foi quando gravei o meu terceiro disco “Samba Novo” e depois o quarto chamado “Aperto de mão”, que me rendeu muitas indicações de prêmios. O mais recente foi “Corda com Bala” com produção de Victor Biglione.

    O fato de ser filho de Baden te exige mais?
    Papai era muito exigente, apesar de eu não ter sentido isso. Sou exigente comigo mesmo (riso). Ele me ensinou a ter disciplina. Apesar de saber da importância dele na música brasileira isso nunca atrapalhou. Sou muito bem resolvido com isso.

    Quais são teus inspiradores musicais?
    Meu pai é um deles, além de Rafael Rabello, João de Aquino (primo irmão do papai), o clarinetista cubano Paquito de Rivera, Sivuca, Dominguinhos, o pianista francês Michel Petrucciani, Arturo Sandoval. Da safra mais nova gosto do violonista Alessandro Penezzi, Yamandú Costa, Hamilton de Holanda, o também bandolinista Daniel Migliavacca, o violonista Caio Marcio e Gabriel Improta. Incluo ainda o francês Nicolas Krassik que toca música brasileira como poucos. Entre os cantores, Diogo Nogueira, Leny Andrade, Emílio Santiago, entre outros.

    Como define seu estilo?
    Antes de tudo meu estilo é de música instrumental brasileira. Ainda estou buscando um estilo, mas não deve fugir do que faço.

    Concorda com o João Donato de que a "bossa nova é um samba de apartamento?"
    Eu não vivi nessa época apesar de ser filho de um dos expoentes da bossa nova (riso). Talvez ele diga isso pelo contexto em que o estilo foi criado, dentro de um apartamento. Essa expressão pode também dar a conotação menor em relação ao samba. Na verdade são duas coisas diferentes. A batida da bossa nova é mais simplificada, mas a harmonia é mais incrementada. A do samba não tem uma harmonia tão sofisticada, porém a batida é mais rica. São duas coisas diferentes, não vou dizer que um é melhor que o outro. Concordo com a ideia do João Donato, já que foi criado dentro de um apartamento.

    Como é fazer música no Brasil?
    Um dos produtos que o Brasil tem de melhor é a música. No entanto, você tem de ter perseverança para seguir em frente. São Paulo tem mais mercado. Faço mais coisas fora do Rio do que dentro do Rio. Acho que o Rio de Janeiro é muito mais vitrine.

    No exterior tem mais ganhos e reconhecimento?
    Atualmente tenho mais reconhecimento no Brasil do que no exterior, embora faça muitos shows lá fora. 

    O que está achando da atual música brasileira?
    Tem novidades maravilhosas: Maria Gadú, Diogo Nogueira, Márcio Local, a música instrumental como um todo.

    O que acha do funk? Não sou fã do funk, não gosto e não costumo ouvir. Eu arrisco dizer que tem o funk “raiz” que é bacana. No entanto, tem certas letras e não é uma questão de gosto, que são grosseiras.

    E da música sertaneja?
    A mesma coisa. Até gosto do Zezé & Di Camargo.

    Quais são teus projetos em andamento e futuros? Acabei de gravar um disco com o cantor Augusto Martins com músicas do Zé Ketti que faria 90 anos se estivesse vivo. A ideia é que seja lançado este ano ainda. Tem também outro disco em parceria com o bandolinista Daniel Migliavacca.

    Março de 2011
    Entrevista concedida ao editor do Bafafá, Ricardo Rabelo.



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