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  • Moacyr Luz: Minha parceria com Aldir Blanc não acabou

    Agenda Bafafá em 23 de Maio de 2016    Informar erro
    Moacyr Luz: Minha parceria com Aldir Blanc não acabou

    O carioca Moacyr Luz é um dos mais respeitados compositores de samba da atualidade. O artista já compôs mais de 200 músicas, grande parte em parceria com Aldir Blanc. Membro da Academia Brasileira da Cachaça, Moacyr adora botequins, carnaval, blocos de rua e a Cidade Maravilhosa. Sobre o fim da parceria com Aldir Blanc, ele rebate: “Minha parceria com Aldir Blanc não acabou. Tenho 90 músicas gravadas com ele e umas 200 em parceria. Em janeiro de 2006, produzi o CD de 60 anos de Aldir com duas músicas nossas inéditas. A amizade continua”.

    Em entrevista exclusiva ao Bafafá 100% Opinião, Moacyr fala sobre vários temas, entre eles a juventude, o início de carreira, política e muito mais. Sobre o fim da parceria com Aldir Blanc, ele rebate: “Minha parceria com Aldir Blanc não acabou. Tenho 90 músicas gravadas com ele e umas 200 em parceria. Em janeiro de 2006, produzi o CD de 60 anos de Aldir com duas músicas nossas inéditas. A amizade continua”.

    Como foi sua infância?
    Nasci em Jacarepaguá por acaso, pois não tinha vínculo nenhum com o bairro. Aos dois anos fui morar no Catumbi. Com quatro anos me mudei para Botafogo e depois para Copacabana. Com 11 anos fui morar em Bangu – da beira do mar para a beira do caos (riso). Deixei de pegar “jacaré” para pegar rãs nos valões (riso). Quando meu pai morreu eu tinha 15 anos e minha mãe resolveu morar no Méier, onde começou a minha vida musical. Ainda na fase de luto, descobri o violão através de Hélio Delmiro e ele foi um acalanto muito forte para mim. Acabei adotado musicalmente pelo Hélio e passei a estudar violão. Ainda tentei fazer faculdade de literatura e de história, mas não conseguia prestar atenção. É como se estivesse andando sem direção e de repente encontrasse o caminho. Trinta e oito anos depois continuo com a mesma disposição de andar nesse caminho, de querer fazer música. Então, naquele momento, falei: “isso aqui vai ser minha vida”. Claro, que isso ainda dava um certo susto na família de escolher a música como profissão.

    E o início de carreira?
    Demorei uns três anos para tomar uma decisão na minha vida. Fui tocar na noite, em piano-bar, casas noturnas, bares. Fiz como todos fizeram. No início da década de oitenta, a gente estava vivendo uma nova liberdade de expressão musical que eram os discos independentes. O Antônio Adolfo gravou o primeiro disco independente do Brasil chamado “Feito em Casa”. A partir daí todo mundo passou a fazer seus discos independentes. Entre 1979 e 1982, eu gravei mais de 30 músicas nas vozes de outras pessoas. No início da minha carreira, eu queria viver como os meus ídolos da época como Aldir Blanc, Paulo César Pinheiro, sendo apenas compositor. Só que viver de direito autoral no Brasil continua sendo impossível. As minhas músicas feitas com Aldir foram gravadas por nomes como Maria Bethânia, Nana Caymmi, Leila Pinheiro, Elba Ramalho. Chegou uma hora que eu falei que essas músicas estavam espalhadas nas vozes de outras pessoas. Foi quando resolvi criar uma identidade para mim. Em 1988, gravei meu primeiro disco. O sucesso veio em 1989, com a música “Coração do Agreste” da novela Tieta cantada pela Fafá de Belém. Ela estourou no rádio, ganhei o Prêmio Sharp como a música do ano. Logo depois vieram “Saudade da Guanabara” cantada pela Beth Carvalho e “Mico Preto” cantada pelo Gilberto Gil. Você é mais compositor do que cantor? Eu fico feliz de cantar as minhas músicas. Mas, a profissão mesmo de que tenho orgulho é a de compositor.

    Quanto tempo durou a parceria com Aldir Blanc?
    Minha parceria com Aldir Blanc não acabou. Tenho 90 músicas gravadas com ele e umas 200 em parceria. Em janeiro de 2006, produzi o CD de 60 anos de Aldir com duas músicas nossas inéditas. A amizade continua. Hoje não existem mais aquelas parcerias como antigamente. Tenho muito orgulho de dizer que acabei de fazer 11 músicas com o Hermino Belo de Carvalho e estou lançando um disco com o percursionista Armando Marçal, o Marçalsinho, filho do Mestre Marçal.

    Qual é a sua fonte de inspiração?
    Eu não componho a noite. Prefiro o silêncio da manhã que me orienta melhor. Pego o violão e curto a pureza de acordar. Levo 15 minutos para compor uma música. Gravo em um gravador e dou para meu parceiro letrar. Se estiver na rua e tenho alguma melodia, ligo para minha casa e canto na secretaria eletrônica (riso). A grande maioria de minhas músicas são inspiradas na cidade. Ando diariamente em tudo o que é botequim, paisagem. Gosto do subúrbio. 

    O que está achando do renascimento do carnaval de rua?
    Eu tenho apostado nisso há muito tempo. Há 12 anos fundei o bloco Nem Muda Nem Sai de Cima na Tijuca. O carioca sempre reage. Já cheguei a ir ao Cordão da Bola Preta com pouca gente. Hoje não consigo nem andar. A irreverência do carioca é que transformou isso de novo, já que o carnaval oficial no sambódromo foi ficando pasteurizado. 

    Gosta também de promover rodas de samba?
    Toda segunda-feira organizo a roda “Samba do Trabalhador” no Clube Renascença com um público médio de 1.000 pessoas. Começa três horas da tarde e vai até nove horas da noite. O nome não é uma ironia. É uma homenagem a nós músicos que trabalhamos toda sexta, sábado e domingo. É uma forma da gente curtir a nossa música. A roda virou um fenômeno, já gravamos CD, DVD e entrevistas para a BBC de Londres e TVs do Japão e da Austrália. Agora estou começando uma nova roda intitulada “Samba, Luzia”, no Clube Santa Luzia, atrás do Aeroporto Santos Dumont. Acontece num terraço, com a Baía de Guanabara batendo na parede do clube.

    Como está vendo a crise social no Rio de Janeiro?
    Nós vivemos dois governos de muita maquiagem. Os Garotinhos deixaram o Rio de Janeiro quase que expulsos. Eu penso o seguinte: acho um absurdo você pegar um artista que nunca tocou num barzinho de rua e chamá-lo para fazer o primeiro show no Canecão. No caso da Rosinha, ela nunca foi vereadora, prefeita e assumiu o estado mais importante do Brasil. O Rio de Janeiro é uma das esquinas do mundo. 

    O que mais admira nas pessoas?
    Admiro o bom humor, sinceridade, pouca arrogância. Saber admirar o sucesso das pessoas sem se preocupar que aquilo esteja nublando a sua própria vida. O que mais abomina? A inveja. A pessoa que fala da vida alheia, que não produz e continua achando que pode levar vantagem em tudo.

    Alguma utopia?
    Tatuí na Praia de Copacabana, ver o Flamengo ganhar com jogadores que corram atrás da bola, assistir música brasileira nos especiais de TV, ter um fígado que me deixe beber até morrer (riso). 

    Janeiro 2007
    Entrevista concedida a Ricardo Rabelo.
    Foto: Divulgação



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