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  • Monarco: O amor é a luz do mundo

    Agenda Bafafá em 28 de Maio de 2016    Informar erro
    Monarco: O amor é a luz do mundo

    Hildemar Diniz, o Monarco, nasceu no bairro de Cavalcanti, no dia 17 de agosto de 1933. Ainda criança foi morar em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, de onde só sairia com 10 anos de idade para Oswaldo Cruz, no subúrbio carioca. Foi no reduto do samba que descobriu a vocação de compositor e com apenas 21 anos passou a integrar a ala de compositores da Portela. Mesmo sendo figura destacada na azul e branco, nunca conseguiu ganhar uma disputa de samba enredo. Seu primeiro disco solo foi lançado em 1976, com sucessos como "O Quitandeiro" (com Paulo da Portela), "Lenço" (com Francisco Santana) entre outros clássicos que foram regravados por grandes nomes. Entre seus grandes sucessos estão "Vida de Rainha", "Passado de Glória" e "Coração em Desalinho", parceria com Ratinho de Pilares, gravada por Zeca Pagodinho.

    O sambista, líder da Velha Guarda da Portela, fala com exclusividade ao Bafafá. Garante que sua maior fonte de inspiração é o amor. “O amor é a luz do mundo, ninguém nunca vai me tirar dessa linha”. Questionado se tem algum sonho, não titubeia: “Meus sonhos foram realizados”.

    Fale sobre a sua infância? Meu pai separou da minha mãe cedo. Tive uma infância bonita, soltava pipa e pegava passarinho nos laranjais de Nova Iguaçu. Já na juventude, em Oswaldo Cruz, passei a gostar de samba e apesar de ganhar pouco dava para me divertir. Sempre fui muito festeiro, graças a Deus não tenho do que me queixar.

    Porque o nome Monarco? Era menino ainda, tinha uns oito anos. Um amigo estava lendo um gibi e me chamou de Monaco. Não tinha o “r” ainda (riso). Achei graça, aí os colegas ouviram e me batizaram com o apelido. O Monarco só veio depois em Oswaldo Cruz não sei nem como (riso).

    Como foi sua iniciação musical? Desde menino em Nova Iguaçu gostava de ver os blocos e escrevia umas músicas. Tinha o gosto pelo cavaquinho e fazia umas brincadeiras. Ao mudar para Oswaldo Cruz, as coisas melhoraram porque lá era o reduto do samba, da Portela. Para mim foi um prato cheio. No início, ainda garoto, ficava olhando de longe, tinha medo de entrar na quadra. Observava de cima do muro os bambas cantando com as pastoras no meio. Já sonhava com a possibilidade de um dia compor um samba e cantar ali também (riso). Esse sonho mais tarde tornou-se realidade. Fiz meu primeiro samba em 52, chamado “Retumbante Vitória”. Mais tarde, o João Nogueira trocou o título para “O Passado da Portela”. Esse samba me deu credibilidade perante os diretores e bambas da Portela, entre eles, Manaceia, Chico Santana, Alcides. Eles viram que esse garoto tinha que ser aproveitado (riso). Foi nessa época também que o Candeia chegou, viemos no mesmo cardume (riso). Tornei-me parceiro daqueles que eu via do muro. Eles gostaram da minha linha e fiz várias parcerias, compondo a segunda parte da música.

    Gostar de samba era coisa de malandro? Sambista era marginal, mas tudo passou. A sociedade viu que era uma cultura bonita, popular e acabou aderindo, deixando o sambista em paz. Nós fomos muito perseguidos.

    O amor é a sua maior fonte de inspiração? Não tenho outra: a chegada de um amor verdadeiro, a perda de um grande amor. A maioria das minhas músicas tem esse tema. O amor é a luz do mundo, ninguém nunca vai me tirar dessa linha.

    O que difere o samba daquela época com o de hoje? Eu continuo compondo da mesma maneira. O samba enredo é que pegou um andamento muito acelerado. O samba de terreiro continua igual. Era maxixado nos 20, depois veio a turma do Estácio e deu uma roupagem diferente. É nessa que estou indo até hoje.

    O que gosta mais, compor ou cantar? As duas coisas. Canto e componho de coração aberto.

    É bom fazer sucesso? É bom, a gente escuta a nossa música no rádio e às vezes ganha um dinheirinho (riso). Já vivi muito tempo também sem fazer sucesso e não era infeliz. Sucesso para mim é chegar até a minha idade com dignidade e a cabeça erguida.

    Confere que você nunca ganhou uma disputa de samba enredo na Portela? É verdade. Já fui à final, mas não ganhei. Também nunca liguei muito para samba enredo. Nunca também disputei em outra escola sem ser a Portela contra quem nunca disputaria. Só fui ganhar na Unidos do Jacarezinho umas quatro ou cinco vezes. Também na Unidos de Padre Miguel. Nunca disputei em escolas grandes fora da Portela, sempre respeitei a minha escola, perdendo ou ganhando. Quando perdia meu samba, no dia seguinte ia tirar a medida da roupa, nunca reclamei.

    O que está achando da explosão do samba na Lapa? Acho legal, é o lugar dele. A Lapa é de Noel, Ismael, Geraldo Pereira. Hoje estão dando ao samba o valor que ele merece. Ele é Patrimônio Cultural do Brasil.

    E o pagode? Estou cansado de falar que o pagode é uma reunião de sambistas. Hoje é que estão querendo fazer dele um gênero musical. O pagode era uma reunião onde os sambistas brincavam.

    Fica chateado pelo fato das rádios não tocarem samba? Fico triste. As pequenas é que tocam. No entanto, só as rádios MEC e Roquete falam os nomes dos autores. Tem rádio onde só falta escrever na parede: é proibido tocar samba. Tocando ou não, a meninada vem pros quintais, traz seu instrumento e canta.

    Quais são seus projetos? Seguir a minha trajetória, gozar o meu restinho de vida, continuar compondo. Graças a Deus tenho encontrado reconhecimento, estou fazendo shows em várias cidades do país. Estou feliz. O meu projeto é continuar cantando meus sambas.

    Tem algum sonho? Ver a Portela alcançar a glória, pois está há alguns anos sem ganhar. Meus sonhos foram realizados. Quero que meus filhos sejam felizes seguindo a minha trajetória (riso).

    Entrevista concedida ao Bafafá On Line - agosto de 2010.



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