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Robertinho Silva: Gosto de todos os estilos musicais
Agenda Bafafá em 23 de Maio de 2016 Informar erro
Carioca de Realengo, filho de pernambucano, nascido sob o signo de gêmeos, Robertinho Silva é apontado como o melhor percussionista do Brasil. Torcedor do Flamengo e da Mangueira, Robertinho é músico autodidata. Ainda criança, sem ninguém ensinar, aprendeu as primeiras batidas e passou a tocar em bailes e festas. “O meu primeiro contato com a música foi aos oito anos. Meus irmãos usavam as marmitas do almoço para fazer batucada. Eu peguei uma latinha de fermento Royal, botei milho e saí tocando chocalho (riso). Tempos depois passei a acompanhar a minha mãe ao centro de Umbanda que ela frequentava. Eu ficava olhando o percursionista que acompanhava os cultos. Rapidamente aprendi de cor todos os pontos. Um dia, esse cara faltou e eu peguei o tambor e saí tocando tudo o que ele tocava (risos). Acabei contratado pelo pai-de-santo”, conta. Seu talento não demorou a aparecer. Ao longo de 50 anos de carreira, tocou 28 anos com Milton Nascimento. Tem seis discos solos gravados, o último “Batucajé”, com músicas folclóricas como congados, maracatus, maxixe, umbanda, bolada. Robertinho Silva já tocou com feras como Sara Vaughan, Wayne Shorter (saxofonista do Mile Davis), Oliver Nelson, Airton Moreira, Flora Purin, Moacyr Santos. O artista, que é apontado como o embaixador brasileiro da percussão, falou com exclusividade ao Bafafá.Como foi sua infância?
Tive uma infância bem rural. Em Realengo, nos anos 40 e 50, parecia uma cidade do interior. Fui criado no meio da natureza, dos pássaros. A gente pescava, caçava rã, jogava bola de gude, soltava pipa. Meu pai era mestre de obra, eu era o caçulinha de uma família de cinco irmãos. O meu primeiro contato com a música foi aos oito anos. Meus irmãos usavam as marmitas do almoço para fazer batucada (riso). Eu peguei uma latinha de fermento Royal, botei milho e saí tocando chocalho (riso). Tempos depois passei a acompanhar a minha mãe ao centro de Umbanda que ela frequentava. Eu ficava olhando o percursionista que acompanhava os cultos. Rapidamente aprendi de cor todos os pontos. Um dia, esse cara faltou e eu peguei o tambor e saí tocando tudo o que ele tocava (riso). Acabei contratado pelo pai-de-santo (riso). Ficava todo contente porque tinha um pires que ficava sempre cheio de moedas. Depois minha mãe resolveu abrir um centro em casa e eu fui desenvolvendo ainda mais a percussão. Tocava também em bailes, forrós e bailes de carnaval. Gostava também de ver musicais nos cinemas, principalmente os bateristas americanos. Descobri também o jazz através do rádio. Meu pai tinha uma vila de casas que alugava para militares que vinham do interior do Brasil para fazer concurso para oficial. Eu fiquei sabendo que numa rua vizinha, tinha um soldado baterista, da Banda da II RI. Resolvi bater na porta de sua casa. Ele então me perguntou: “Você toca bateria?”. Eu respondi: “Toco”. Mandei um baião. Ele gostou de mim e passei a acompanhá-lo nos bailes carregando a bateria. Depois ele foi morar na vila de meu pai. Eu aproveitava que ele deixava a chave para a limpeza do quarto e montava a bateria e treinava (risos). Um dia, disse para ele: “Deixa dar uma canja?”. Ele ficou desconfiado e quis saber onde tinha aprendido. Acabou topando e deixou eu tocar a primeira música, mesmo assim escondido atrás do palco. Quando a orquestra começou a tocar, todos olharam para trás e falaram “Que é isso?”.A partir daí surgiram as oportunidades?
Eu tinha 17 anos. O saxofonista meu chamou para tocar num clube como baterista. Eu fui caçado por olheiros, igual a futebol. Tocava no Dancing e acabei parando na boite Drink junto com a orquestra de Djalma Ferreira, que era muito famoso. Meu primeiro show foi com Cauby Peixoto, no Bangu Atlético Clube.Quando conheceu o Milton Nascimento?
Conheci o Milton em 1966, através do Wagner Tiso. Ele disse para mim que o amigo de Três Pontas tocava violão e era compositor. No ano seguinte, Milton estourou no Festival Internacional da Canção. Em 69, me chamou para gravar seu segundo disco. O Milton ficou com meu nome gravado, pois tinha me visto tocar no Music Disc, o único estúdio que tinha quatro canais no Brasil. Foi lá que ele gravou o primeiro disco com o Tamba Trio. Depois disso, foram 28 anos de parceria ininterruptos.Chegou a trabalhar com Elis Regina?
Isso é uma história engraçada. Em 1970, quando a gente fez show no Teatro da Praia, a Elis me ouviu e chamou para tocar com ela. No dia seguinte a procurei. Ela, meio sem graça, disse: “Você vai me desculpar, mas o Milton é meu compadre, não posso tirar você dele”. A única música que gravei com Elis foi “O cais”, de Milton.Você toca todos os estilos musicais?
Gosto de todos. Ouço muita música erudita, indiana, folclore, afro, samba. Eu venho de uma época em que o baterista tem que estar preparado para tudo.Quais são os shows mais importantes de sua carreira?
No Teatro Municipal, no Copacabana Palace, no Carnegie Hall, em Nova Iorque, e no Montreux Festival.Gravou também com nomes renomados, né?
Gravei com Wayne Shorter (saxofonista do Mile Davis), Sara Vaughan, Oliver Nelson, Airton Moreira, Flora Purin, Moacyr Santos, entre outros.Tudo órbita em torno do samba no Brasil, ou pode surgir um estilo musical diferente?
O Samba predomina. A Bossa Nova seguiu o estilo. João Gilberto, que achava que os bateristas tocavam muito alto, incorporou à sua música o baterista Juquinha, o único que tocava bateria com escovinha. Por sugestão de João, Juquinha passou a tocar a escovinha com a mão direita e com a mão esquerda a baqueta no aro da caixa, igual ao tamborim. Aí nasceu a batida da Bossa Nova.Quais projetos está executando no momento?
Há seis meses toco o projeto Batucadas Brasileiras (www.batucadasbrasileiras.org.br), que ministra oficinas de percussão para jovens. Como viajo muito, convidei o Carlos Negreiro para me auxiliar. A idéia é fazer uma orquestra de tambores. Através do Maurício Nolasco, fizemos um projeto que acabou obtendo patrocínio da Petrobras. Para abrigar as oficinas escolhemos um prédio na Rua Camerino, 60, no bairro Saúde, uma área portuária onde existem muitas comunidades. Atendemos gratuitamente 120 alunos a cada semestre. São jovens entre 14 e 25 anos. As inscrições (por ordem de chegada) podem ser feitas pelo telefone 2516-2692, desde que os candidatos estejam matriculados na rede de ensino. Os alunos com mais de 18 anos saem do curso com registro na Ordem dos Músicos e estão aptos a tocar profissionalmente. O projeto abrange ainda uma oficina de fabricação de instrumentos.Março 2007
Entrevista concedida a Ricardo Rabelo.
Foto: André Az
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