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  • Roberto D'Avila: Sempre sonhei com um Brasil mais justo

    Agenda Bafafá em 28 de Maio de 2016    Informar erro
    Roberto D'Avila: Sempre sonhei com um Brasil mais justo

    Natural de Passo Fundo, no Rio Grande do Sul, o jornalista Roberto D'Avila foi jovem para Paris onde ganhou destaque como correspondente do programa Abertura. Na ocasião, fez dezenas de entrevistas com os exilados que se preparavam para voltar: Luiz Carlos Prestes, Brizola, Arraes, Celso Furtado, Augusto Boal, entre outros. Ao retornar ao País, criou com grande sucesso o programa Conexão Internacional para quem realizou entrevistas com personalidades como François Mitterrand, Fidel Castro, Federico Fellini, Ives Montand. Num fato tido como raro, Roberto D'Avila inverte os papéis e dá entrevista ao editor do Bafafá Ricardo Rabelo. O jornalista fala sobre o início de carreira, profissão, política e utopia. Questionado sobre quais entrevistas mais o marcaram, não titubeia: Os presidentes francês François Mitterrand e o cubano Fidel Castro. “Era a primeira entrevista de Fidel depois de 25 anos fora da TV brasileira”, destaca. Sobre o que mais gosta do Brasil, é só elogio. “A população brasileira é maravilhosa. Eu viajo muito, mas não conheço um povo tão alegre, feliz e até ordeiro”, afirma. Como foi sua juventude? Minha juventude foi muito feliz. Sou de uma cidade pequena do Rio Grande do Sul chamada Passo Fundo. É uma cidade do interior, e como tal, é um micro-cosmo do que há no mundo. Lá eu convivi com todos os tipos humanos mais interessantes. Tive a felicidade de nascer num estado muito politizado. Confere que chegou a estudar direito? Eu estudava direito em São Paulo e diante do momento difícil do Brasil saí do País por livre e espontânea vontade. Fui para a França com 23 anos, onde pude conviver com outros exilados, inclusive seu pai e mãe, gente que respeito muito. E o jornalismo, como aconteceu? O jornalismo veio meio por acaso. Antes de viajar eu conheci o Reali Jr. que foi correspondente durante muitos anos em Paris pelo jornal Estado de São Paulo. Na ocasião, cheguei a manifestar o interesse na profissão e quase fui demovido da idéia. O Reali chegou a dizer que, com a Ditadura, ser jornalista era um “rolo”. Não desisti. Quando cheguei em Paris em 1974, procurei o Reali e fiz um curso de jornalismo. Como foi o programa “Abertura”? O “Abertura” foi um pouco mais tarde. Antes disso cheguei a trabalhar para a TV Globo, TV Bandeirantes, Istoé, Jornal do Brasil. Sempre perto do Reali (risos). Em 1979, o Fernando Barbosa Lima criou o programa “Abertura” e eu passei a ser o correspondente em Paris. Tanto que eu fiz as entrevistas com os filhos dos exilados e você foi um dos meninos, na época com 15 anos, que entrevistei. Foram depoimentos que comoveram muito o público brasileiro e que tiveram uma certa importância na volta dos exilados. A Anistia completou 30 anos. Por ter sido repórter  do “Abertura”, você se considera artífice desta conquista? Não diretamente, mas acho que contribuí de alguma maneira lá fora. Fiz a primeira entrevista com Luiz Carlos Prestes, Brizola, Arraes, Celso Furtado, Augusto Boal e tantos outros. Acho que de certa forma, como repórter, dei a minha pequena contribuição. Quais foram as entrevistas com exilados que mais te marcaram? As duas primeiras (Prestes e Brizola) foram muito importantes, pois era a primeira vez que os dois apareciam na TV depois de 15 anos. Qual é o balanço que você faz deste acontecimento 30 anos depois? O Brasil evoluiu muito. Há 30 anos, tínhamos 90 milhões de habitantes, hoje somos 190 milhões (a maioria na cidade). O Brasil, com todo esse crescimento, teve uma grande mudança, não só com a democracia como com a distribuição de renda. O Lula fez um trabalho social mais profundo.  A Anistia acabou beneficiando também os carrascos. O que acha disso? É complexo. A tortura é um crime abominável, covarde, terrível e muito difícil de ser perdoado. Acontece que isso tem de ser colocado num contexto político. Com a anistia, o País fez um acordo. Se nós formos mexer nessas questões, o outro lado também vai querer isso. Não é positivo mexer nestas feridas, nós temos que olhar para a frente. Estou dizendo isso, mas não fui torturado. Quem sofreu isso deve pensar de uma outra forma. Você é um dos jornalistas com mais tempo na TV brasileira. Qual é o segredo? Estou na TV há quase 40 anos (risos). Acho que falo pouco e deixo meus entrevistados falarem. Nunca fiz um programa mais de uma vez por semana, assim não dá para o pessoal enjoar (risos). Além disso, sempre trabalhei para pequenas emissoras com audiências menores. Acho que tive sorte também e um pouquinho de talento (risos). Quais entrevistas internacionais mais te marcaram? Muitas me marcaram, das cerca de 70 que fiz com grandes personalidades. Entre elas, a do presidente francês François Mitterrand. Tinha muita admiração dele, tanto como administrador, como político. Fui o único jornalista da TV brasileira que o entrevistou. A do Fidel Castro também foi marcante, pois era a primeira entrevista dele depois de 25 anos fora da TV brasileira. Entrevistei ainda Marcelo Mastroiani, Federico Fellini, Ives Montand, Costa Gavras. Com o Fellini foram duas entrevistas. Da primeira vez foi no “Cine Cittá” e depois no bar preferido dele em Roma. Ela era uma grande figura, um mágico. O que está achando dos dois mandatos do Lula? Acho que o Lula é um fenômeno, vir de onde veio e fazer o que ele fez. Quase oito anos depois, ele tem a aprovação de 80% dos brasileiros. Isso diz mais que qualquer coisa. Você é um dos produtores do filme que conta a história do Lula? Me associei ao Luiz Carlos Barreto e estamos filmando a história do Lula, do nascimento em Caetés até as greves do ABC. Só até esta época porque não quisemos mostrar a fase política do Lula. O filme narra o lado humano, a história de um brasileiro de sobrenome Silva que conseguiu se transformar nesse personagem mundial. Quem sabe isso não fica para um Lula 2? (risos). O filme está muito bonito e estará nas telas a partir do dia 1º de janeiro. O que acha que pode acontecer nas eleições do ano que vem? Algum fato novo? O fato novo é a Marina. Mas, poderão vir outros. A tendência é haver uma polarização entre a Dilma e o Serra. Em política é impossível prever antes do tempo. A Dilma não tem participação em outras eleições e não será fácil partir diretamente para uma campanha presidencial. Ela não tem a experiência dos outros candidatos. Mesmo não tendo muito carisma, tem atrás de si o Lula. Esta será a grande incógnita da eleição: será que o Lula conseguirá transferir seus votos? Se conseguir, ela estará eleita. Senão... Vamos ter que aturar o Serra? (Risos). O Serra é grande político. Com 20 anos era presidente da UNE. Foi exilado, morou fora e depois ocupou vários cargos administrativos e legislativos. É reconhecidamente um grande administrador. Como presidente é uma incógnita. Mas, tem bagagem e história. Você tem alguma utopia? Tenho. Eu sempre sonhei com um Brasil mais justo e melhor. O que mais gosta do Brasil? A população brasileira é maravilhosa. Eu viajo muito, mas não conheço um povo tão alegre, feliz e até ordeiro. O que acha do Bafafá ter chegado a oito anos de vida? Isso mostra que você tem a têmpera de seu pai, o José Maria Rabelo, que fundou o jornal Binômio em Minas. Foi um pioneiro, conhecido como “o pai do Pasquim”, pai da imprensa alternativa. Nesta fase eletrônica, o Bafafá provou que pode durar pelo menos mais 40 anos. Entrevista concedida a Ricardo Rabelo, editor do Bafafá On Line. Outubro de 2009

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