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  • Toninho Geraes: Compor é como bater no garimpo

    Agenda Bafafá em 15 de Fevereiro de 2021    Informar erro
    Toninho Geraes: Compor é como bater no garimpo

    O cantor, compositor e cavaquinista Toninho Geraes é um dos mais respeitados sambistas do Rio de Janeiro. Natural de Belo Horizonte, está radicado no Rio desde 1983 para onde veio tentar a sorte como músico. O início de carreira foi tortuoso. Chegou a morar numa casa abandonada em Ipanema enquanto trabalhava com frete para sobreviver. Nas horas vagas participava de rodas de samba, entre elas do Império Serrano onde foi descoberto por uma gravadora.
     
    Autor de centenas de sambas, gravados por renomados artistas como Zeca Pagodinho, Martinho da Vila, Beth Carvalho e Agepê, Toninho lança em breve seu quinto disco, intitulado “Preceito” com músicas inéditas e algumas regravações.

    Quando questionado sobre a fórmula para o sucesso, faz analogia ao garimpo: “Compor é como batear no garimpo. Não pensem que vão tirar a grande gema da noite para o dia. Primeiro tem que trabalhar as pedrinhas pequenas para então conseguir pegar algo maior na bateia”, assegura o artista.

    Como foram a sua infância e juventude?
    Não era muito chegado nos estudos e trabalhava para ajudar no sustento da família. Fui “office boy”, vendedor de sapataria e de bilhetes de loteria (riso). Já garoto frequentava a zona boemia de BH e conhecia alguns compositores como Joel, Bolão, Lagoinha, Ataíde Machado.

    Como começou sua carreira de sambista?
    Aos 10 anos de idade, em Belo Horizonte. No meu bairro tinha um grupo de samba-choro chamado “Tonico e seu Chiclete”. Tonico era barbeiro e tocava saxofone. Eu era o mascote do grupo e cantava de vez em quando. O Geraldo Orozimbo, sambista que tinha disco gravado, era minha grande referência. Conviver com ele nas rodas era motivo de orgulho.

    E a vinda para o Rio de Janeiro?
    Caí na ilusão de vir para o Rio sem ter nenhum parente aqui. Foi no ano que a Clara Nunes morreu e a data acabou sendo marcante para mim. Já que não tinha lugar para morar, decidi ir para o melhor bairro da cidade, Ipanema. Me instalei numa casa abandonada na antiga Rua Montenegro (riso). Tinha uma roda samba na Barão da Torre com Maria Quitéria onde conheci o Roque, dono de kombi que fazia fretes na região. Além de trabalhar com ele, passei a tocar nessa roda. Mas, me dei muito mal no Rio e voltei para BH.

    Em 1983, o Geraldo Orozimbo me levou para disputar o enredo da escola de samba Cidade Jardim. Acabei ganhando a disputa, inclusive do próprio Geraldo (riso). Fiquei mais um tempo em BH tocando num conjunto de samba. Numa festa, contratamos o puxador da Mocidade, Ney Viana, para ser a atração. O irmão do Ney, o Zé Carlos, me viu cantando e acabou me convidando para vir ao Rio tocar cavaquinho no seu conjunto chamado “Inocentes do Samba”. Fui morar num quartinho na casa dele no subúrbio de Cascadura, em frente à quadra da Escola União de Jacarepaguá.

    Demorou a despontar?
    Em 1986, fui dar uma canja na quadra do Império Serrano. O pessoal da gravadora EMI me viu e convidou para ser um dos intérpretes do LP “Na Aba do Pagode” com vários sambistas. Logo depois, a gravadora me contratou para gravar o LP solo chamado “Chances Iguais”, produzido pelo Nivaldo Duarte, mesmo produtor do Roberto Ribeiro.

    Qual é a fórmula para compor?
    Não tenho fonte de inspiração. O que mais me inspira é estar sozinho, viajando na sonoridade do samba, nas melodias. Já explorei muito o tema amor, hoje meus temas são muito diversificados. Tenho trabalhado temas afros, o sincretismo, a religiosidade.

    Qual é sua dica para os jovens compositores?
    Compor é como batear no garimpo. Não pensem que vão tirar a grande gema da noite para o dia. Primeiro tem que trabalhar as pedrinhas pequenas para então conseguir pegar algo maior na bateia. Acho que é preciso praticar bastante, diversificando parcerias. Aprendi muito com os meus parceiros.

    Qual é o melhor mercado para o samba, Rio ou São Paulo?
    O Rio é uma cidade que respira samba (riso). Aqui vivem os grandes bambas. Mas, o melhor mercado hoje para samba no Brasil é São Paulo (riso). Lá é onde se ganha dinheiro. 

    Tem feito muitos shows?
    Bastante. O roteiro inclui São Paulo, Rio, Belém, Brasília.

    Como está vendo o estouro do samba na Lapa?
    Embora muita gente que nunca foi sambista esteja virando sambista, isso é bom. O samba está na alma do brasileiro. Tem muita gente nova aparecendo devido a esse momento que eu acho que tende a crescer mais ainda. Sejam bem-vindos os novos sambistas (riso).

    O samba é eterno?
    Com certeza. O Nelson Sargento certa vez disse “O samba agoniza, mas não morre”. Eu acho que ele nem chegou a agonizar.

    Você tem alguma utopia?
    Todos nós temos. A grande utopia da minha vida seria ir morar no interior de Minas, num lugar bem quietinho.

    Janeiro 2014

    Foto: Robson Freire



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