MAIS COISAS >> Entrevistas

  • Victor Biglione: Fui um dos primeiros a misturar rock e jazz no Brasil

    Da Redação em 10 de Maio de 2016    Informar erro
    Victor Biglione: Fui um dos primeiros a misturar rock e jazz no Brasil

    Nascido em Buenos Aires, na Argentina, Victor Biglione se mudou com a família para o Brasil aos cinco anos de idade. Depois de morar três anos em São Paulo, acabou se fixando no Rio de Janeiro, onde teve o primeiro contato com a guitarra. “Minha mãe um dia levou um hippie chamado Fardo para ficar hospedado lá em casa, em Copacabana. Ele pegou o violão e tocou a música Vênus, do conjunto alemão Shocking Blue. Eu me apaixonei na hora e nunca mais larguei a guitarra”, revela o artista.

    Depois de integrar a banda A Cor do Som, ganhou notoriedade e partiu para carreira solo, tendo gravado 15 discos e dezenas em parceria com artistas nacionais e internacionais como Chico Buarque, Gal Costa, Milton Nascimento, Caetano Veloso, Wagner Tiso e Andy Summers (do The Police). Aos 49 anos, é apontado como um dos melhores guitarristas do País e referência para várias gerações de músicos.

    Questionado se tem estilo próprio, afirma: “Fui um dos primeiros a misturar rock e jazz no Brasil e a aproveitar tudo o que a guitarra podia dar de sonoridade nestes estilos”.

    Em entrevista exclusiva ao Bafafá On Line, Victor Biglione fala sobre a infância, juventude, ascensão profissional, carreira e os projetos em andamento. Recentemente, Victor ganhou o Kikito de Ouro, em Gramado, pela trilha do filme “Condor”, que será exibido no Festival do Rio.

    Como foi a sua infância e adolescência?

    Minha infância foi bem diferente da adolescência. Nasci em Buenos Aires, onde morei até os cinco anos de idade. Aquele período foi bem conturbado, pois dificilmente meus pais dormiam em casa, em função do engajamento deles no Partido Comunista. Quem cuidava de mim eram minhas avós e minhas tias, que me deram uma infância muito boa.

    De cinco para seis anos (no final de 1964) me mudei para o Brasil e fui morar em São Paulo com meus pais. Dois anos depois, eles se separaram e eu vim passar uma temporada no Rio de Janeiro com minha mãe. Quando cheguei, fiquei deslumbrado. Implorei a ela para poder ficar e disse que até limpava a casa (risos). Minha infância no Rio foi pra lá de boa. Fui criado na Rua Sá Ferreira, em Copacabana, pertinho da praia. Minha casa era muito movimentada e todos gostavam de cinema, bossa nova, rock e música clássica.

    Como foi o primeiro contato com a guitarra?

    Aos 12 anos. Primeiro, eu detestava, pois eu gostava de botão e achava que o som do instrumento me desconcentrava no jogo (risos). Minha mãe um dia levou um hippie para ficar hospedado lá em casa, chamado Fardo. Ele pegou o violão e tocou a música Vênus do conjunto alemão Shocking Blue. Eu me apaixonei na hora e nunca mais larguei a guitarra. Resolvi aprender a tocar e contratamos um professor particular que até hoje é meu amigo, o Luiz. Ele me passou os acordes básicos e passei a tocar de ouvido (só fui estudar anos depois). Aos 15 anos, lendo um anúncio da revista Pop, eu achei um cara chamado Gaetano Galife e acabei aprendendo com ele os segredos da guitarra, como fazer os ornamentos, as articulações. Conheci na ocasião também o Celso Blues Boy, na época com 18 anos, e passamos a tocar juntos. Aos 18 anos, me apaixonei pela harmonia do jazz e da MPB. Até hoje o Celso não me perdoou e não quer papo comigo. Ele me chamou na casa dele e disse que nossa amizade tinha acabado, pois eu estava “traindo” o blues (risos). Eu disse para ele que não queria ficar apenas neste estilo, já que a música é ampla e oferece muitas possibilidades. Passei então a estudar jazz e aos 18 anos fui morar com meu pai, em São Paulo, para estudar no CLAM - Centro Livre de Aprendizagem Musical, que o Zimbo Trio comandava na época. Era uma beleza de escola, onde passei um ano estudando harmonia. Isso foi a base da minha vida musical. Depois disso, o Tom Jobim me deu uma recomendação para estudar na Berklee College of Music, em Boston, e posso dizer que a partir daí já estava encaminhado musicalmente.

    Existia um preconceito contra a guitarra?

    Teve até passeata contra as guitarras (risos). O que houve foi a guerra da MPB contra a entrada do Iê, Iê, Iê, que copiava a música italiana. Depois a guitarra se adaptou totalmente ao cenário da música brasileira.

    Quantas bandas você já integrou?

    Famosas mesmo só a Cor do Som. Quando garoto tive algumas bandas, mas nenhuma chegou a fazer sucesso, entre elas “Fruto” com o Celso Blues Boy. Com a Cor do Som fiquei dois anos e gravei dois discos (Magia Tropical e As Quatro Faces do Amor). Discordei da concepção deles que era mais comercial, querendo ficar nas paradas de sucesso. Chamaram o Lincol Olivetti para fazer os arranjos e eu fui contra e acabei saindo.

    Você tem algum estilo próprio?

    Fui um dos primeiros a misturar rock e jazz no Brasil e a aproveitar tudo o que a guitarra podia dar de sonoridade nestes estilos.

    Bebe também da MPB?

    Minha primeira gravação para a MPB foi há trinta anos, com o disco Mico de Circo, do Luiz Melodia. Depois gravei Aquarela do Brasil com a Gal Costa, em homenagem a Ari Barroso. Venho trabalhado com a MPB direto desde então. Hoje tenho feito parcerias com Marcos Valle, Wagner Tiso (com quem faço um tributo a Tom Jobim) e recentemente com Marcel Powell.

    O que acha do rock produzido no Brasil?

    Muito fraco. O Andy Summers, com quem tenho dois discos gravados, diz que não é possível que num país como o Brasil se toque esse pop rock que está por aí. Ele chama isso de ridículo (risos). Gosto do Barão Vermelho e do Frejat, mas o forte da banda era com a poesia do Cazuza. Atualmente, não consigo destacar nenhuma banda nova de rock. O Lobão é um cara muito inteligente, mas como músico é outro papo. Para mim, o Lenine utiliza o rock com genialidade. Nem o Sting e o Seal encostam nele no estilo Word Music. Tem muita gente que acha que se for à butique e comprar aquela calça maneira, botar um piercing e fizer dois acordes, já é roqueiro. Não é bem assim. O rock é muito sério, tem que estudar, ler, ir ao cinema. Nossa garotada infelizmente anda muito desinformada.

    O que está achando da vida cultural do Rio de Janeiro?

    O resgate do samba e do choro e a revitalização da Lapa é muito legal. Mas, acho que deveria haver mais interesse pela bossa nova, um estilo musical que o Brasil deu ao mundo. Acho estranho um jovem da Zona Sul se interessar só por samba. É meio que uma forçação de barra.

    Como você está vendo o carnaval do Rio de Janeiro?

    O carnaval de rua do Rio de Janeiro é sensacional. É uma das grandes coisas que a cidade ressuscitou e cuida muito bem. Eu adoro. Acho interessante essa mistura de estilos nos blocos.

    O que acha do Bafafá?

    Venho acompanhando o Bafafá há seis anos. Acho que é um jornal revolucionário, lida com os assuntos de uma maneira muito séria, com excelentes colunistas.

    Quais shows mais destaca em sua carreira?

    O que me emocionou mais foi em Montreal, no Canadá, num palco de rua. Há pouco tempo fiz um show com o Wagner Tiso no Parque dos Patins que eu gostei muito.

    O que está achando da volta do Led Zeppelin?

    Amo o Led Zeppelind, mas esta volta busca mais arrecadar um troco, né? (risos). O Robert Plain não tem mais aquela voz, acho meio forçado. A volta do Pink Floyd é mais forçada ainda. Me incomoda estes super-shows com luzes piscando, telões e sinto saudades dos concertos no palco sem essas porcarias.

    E o show dos Rolling Stones em Copacabana?

    Achei a festa muito boa, bonita e valorizou o bairro de Copacabana. No entanto, acho terrível ver os músicos tocando naquele estado, tentando ser estereótipos do que já foram. Na minha carreira eu vou sempre para frente, não procuro resgatar o passado.

    Quais são seus projetos em andamento?

    Acabei de receber o segundo Kikito da minha carreira em Gramado com o filme “Condor” de Roberto Mader. Ele narra a história da operação Condor que aterrorizou a América do Sul nos anos 70. Estou fazendo também a trilha e a direção musical do filme “Elvis e Madona” de Marcelo Laffitti. Destaco também o projeto instrumental em tributo a Tom Jobim com formação de jazz-guitarra-trio (guitarra jazzística, baixo acústico e bateria), minha parceria com Wagner Tiso (que é eterna) e um novo trabalho com o Marcel Powell. O filme Condor vai ser lançado em 31 de março de 2008, no dia do Golpe, e será exibido em avant prémiére dia 02 de outubro deste ano no Festival do Rio. Setembro 2007



    • MAIS COISAS QUE PODEM TE INTERESSAR

      Dr. Paulo Falcão: "A cirurgia bariátrica é um tratamento eficaz contra a obesidade"
      Saiba Mais
      Entrevista com Carla Madeira, autora do best-seller “Tudo é rio” e destaque de hoje na Bienal do Livro
      Saiba Mais
      Exclusivo: Igor de Vetyemy, presidente do IAB-RJ, fala sobre o 27º Congresso Mundial de Arquitetos UIA2021RIO
      Saiba Mais


    • COMENTE AQUI

      código captcha

      O QUE ANDAM FALANDO DISSO:


      • Seja o primeiro a comentar este post

DIVULGAÇÃO