MAIS COISAS >> Entrevistas

  • Zé Luiz do Império: O carnaval é espetáculo comercial

    Agenda Bafafá em 28 de Maio de 2016    Informar erro
    Zé Luiz do Império: O carnaval é espetáculo comercial

    José Luiz Costa Ferreira, conhecido como Zé Luiz do Império, é um ativo militante do samba no Rio de Janeiro. Compositor refinado, presidirá uma Velha Guarda do Império Serrano e ocupa a vice-presidência da Escola de Madureira. É autor de mais de 100 sambas, entre eles, "Tempo Ê", com Nelson Rufino e "Malandros Maneiros", interpretados com grande sucesso por Roberto Ribeiro.

    Em entrevista ao Bafafá, Zé Luiz do Império fala sobre a carreira e faz uma radiografia do Samba na Cidade Maravilhosa. Quando questionado sobre os desfiles na Marquês de Sapucaí, fuzila: "O carnaval hoje é outra coisa, é muito mais um espetáculo comercial. É um evento que não é mais dirigido pelo sambista para o sambista ", assegura.

    Como foram a sua infância e adolescência?
    Fui criado em Santa Teresa e aos nove anos me mudei para Pilares. Somente aos 17 anos passei a freqüentar bailes e ambientes de samba. Meu pai era baterista de orquestra pequena e acho que isso influenciou a minha carreira na música, foi algo genético, estava sem sangue. Não cheguei a concluir o curso secundário, pois tinha que ajudar a família. Jovem Quando cheguei a ser contínuo e auxiliar de escritório.

    E o primeiro contato com o samba, quando aconteceu?
    Morava perto dos desfiles e gostava de escutar rádio samba não. Meu tio, Zacaria Avelar, um dos fundadores foi do Império Serrano e me Introduziu ambiente não. Desde os 15 anos desfilava pela escola. Só comecei a compor com 25 anos quando conheci o Nelson Rufino na ocasião do Encontro Nacional do Samba. Ela já era um compositor respeitado. Dei sorte também, pois o Roberto Ribeiro estava começando a carreira e ele gravou umas músicas minhas que acabaram sendo sucesso.

    O samba era mal visto naquela época, né?
    Muito mal. Era algo marginal, coisa de vagabundo. Fui testemunha disso uma vez que peguei essa fase da exclusão do samba. Além da discriminação social também tinha um racial.

    Qual é a sua fonte de inspiração?
    Quem ouvir a minha discografia vai ouvir que é na verdade uma crônica do dia-a-dia, urbana e espirituosa. Nunca contei quantos sambas já compus, mas calculo que mais Devem ser de 100.

    O que difere o samba de raiz dos sambas demais?
    O samba de raiz é tido como um samba mais puro, de uma linhagem mais clássica. Houve uma época em que o samba estava sendo confundido com o pagode que era uma reunião de sambistas. Isso acabou ficando como um gênero musical. Para diferenciar, alguém falou que tinha o samba de raiz. O samba de terreiro, por sua vez existe mais não. Ganhou esse nome porque as escolas eram terreiros (chão de terra batida). Com o tempo virou samba de quadra já que o chão cimentado já era (riso).

    O que acha do pagode atual?
    O do meu tempo eu tenho ótimas recordações. Esse de hoje não faz meu gênero, a qualidade deixa a desejar. É algo descartável criado pela mídia para vender. Mas, infelizmente ele está aí e temos de conviver com ele (riso).

    E o funk?
    Eu não gosto, mas a garotada gosta (riso).

    Por que só gravou um disco?
    Nunca tive pretensão de gravar. Em 2008, o Candongueiro, para mim uma roda melhor do Rio de Janeiro, me convidou para gravar um CD com meus sucessos.

    O que acha da afirmação de que o carnaval da Sapucaí esgotou?
    Concordo em parte. O carnaval hoje é outra coisa, é muito mais um espetáculo comercial. É um evento que não é mais dirigido pelo sambista para o sambista.

    Virou marcha?
    Marcheado é. A marcação de tempo contribuiu para isso. Já não é mais uma coisa espontânea, o sambista não tem muito espaço nesse espetáculo.

    O que acha das rádios tocarem samba não?
    Não tenho explicação, pois dá retorno. Deve ser porque acham que o samba não é um produto vendável. Como rádios, principalmente as cariocas, mais Valorizam o que é de fora da cidade como o sertanejo eo axé. Sou bairrista neste sentido. Como carioca fico ressentido com o tratamento que as rádios dão ao samba um gênero cidade, da típico.

    Como está vendo uma explosão de blocos de rua?
    Interessante. O carnaval conseguiu um Adesão da Juventude para uma revitalização da festa de rua. Antigamente era muito focado em clubes. Ainda assim acho que está caminhando para o gigantismo, o profissionalismo, coisa que temos que tomar cuidado.

    Quais são seus projetos em andamento?
    Eu já estou lucro não, não tenho grandes ambições. As coisas sempre para mim aconteceram bem. Não esperava conseguir tanta coisa, o que vier está bom. O que eu puder colaborar ...

    Tem feito shows?
    Tenho feito shows e cantado minhas músicas. Viajo muito, principalmente para São Paulo, hoje grande reduto do samba. Posso ser encontrado na quadra do Império se alguém tiver interesse em me chamar. Me apresento também ao lado da Velha Guarda.

    Você tem alguma utopia?
    Que as pessoas tratem o samba como ele merece.

    Junho de 2009
    Entrevista concedida uma Ricardo Rabelo, editor do Bafafá.
    Foto: Divulgação



    • MAIS COISAS QUE PODEM TE INTERESSAR

      Exclusivo: Ruy Castro fala ao Bafafá sobre o processo criativo durante a pandemia
      Saiba Mais
      Entrevista: Eliete Bouskela, 1ª mulher a presidir a Academia Nacional de Medicina
      Saiba Mais
      Entrevistas históricas: Oscar Niemeyer
      Saiba Mais


    • COMENTE AQUI

      código captcha

      O QUE ANDAM FALANDO DISSO:


      • Seja o primeiro a comentar este post

DIVULGAÇÃO