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  • Guto Goffi, do Barão Vermelho

    Agenda Bafafá em 01 de Junho de 2021    Informar erro
    Guto Goffi, do Barão Vermelho

    Flávio Augusto Goffi Marquesini, mais conhecido como Guto Goffi, começou ainda adolescente na música. Só não sabia que seu futuro estava destinado a ser o baterista da maior banda de rock do Brasil, o Barão Vermelho. Ele confirma que sugeriu o nome do grupo, em referência ao aviador alemão Manfred Von Richthofen, que lutou contra os aliados na Segunda Guerra. “Sabia da existência do piloto que tinha esse apelido. Gostava do nome, achava que tinha um impacto sonoro legal”, confessa. O que poucos sabem é que Guto é um dos principais compositores do Barão, ao lado de Cazuza e Frejat. Entre suas músicas, “Puro Êxtase” e “Tão longe de tudo”, sucesso nas paradas em todo o Brasil.

    Em entrevista ao Bafafá, Guto conta fatos de sua infância e juventude, os primórdios da carreira, a fundação da banda e detalhes sobre a respeitada escola de percussão Maracatu Brasil que criou em 2000. Ele garante que, apesar de uma pausa nos shows, o Barão Vermelho vai voltar. “Não posso anunciar quando ainda, mas vamos voltar brevemente aos palcos”.

    Como foram a sua infância e juventude?

    Morei até os seis anos em Botafogo, depois no Andaraí numa casa de vila. No meio disso, passei dois anos na Califórnia, nos Estados Unidos, onde minha mãe foi fazer mestrado. Morei lá de nove aos 11 anos. Tive uma infância normal, estudava em colégio público onde cantava o hino nacional hasteando a bandeira (riso). Morava na Rua Silva Teles, antes de instalarem a quadra do Salgueiro. Nesta região, o samba sempre foi muito forte e acabou me influenciando (riso). O primeiro disco que comprei foi do Martinho da Vila. Embora gostasse, fui parar no rock (riso). Quando adolescente comecei a ouvir bandas de rock e nunca mais saí disso (riso). Quando completei 14 anos voltamos a morar em Botafogo.

    Como foi a introdução à bateria?

    Comecei em bandas no colégio mesmo sem saber tocar direito. Mas, já tinha vontade de aprender. Exercitava só a parte criativa. Em 1978 me inscrevi na Pro-Arte onde fui aluno do professor Joca Moraes até 1982 quando surgiu o Barão Vermelho. Com isso caímos na estrada e o resto aprendi com a vida mesmo (riso). Com isso sequer conclui o segundo grau, coisa que só fui fazer depois dos 40 ao fazer um supletivo (riso).

    Qual é a razão de ter sugerido o nome Barão Vermelho à banda?

    Sabia da existência do piloto que tinha esse apelido. Gostava do nome, achava que tinha um impacto sonoro legal. Acabou pegando (riso).

    Você esperava que o sucesso viesse a galope?

    Sempre acreditei muito no sucesso do que eu faço. Sonho muito, meu sonho é imensurável (riso). E olha que o João Araújo, pai do Cazuza, que era diretor da gravadora Som Livre, não apostou na gente. Quando soube que o filho cantava e fazia música ficou apavorado, pois tinha receio de que achassem que só gravaria o disco pelo fato da banda ser do filho dele (riso). Mas os cinco integrantes, que não se conheciam, acreditaram no projeto. E olha que o primeiro disco só vendeu sete mil cópias. O segundo também estava indo para a morte quando o Ney Matogrosso gravou “Pro Dia Nascer Feliz” chamando a atenção para a banda. A partir daí a nossa versão estourou e tocou seis meses no rádio (riso). Foi um sucesso absurdo e abriu as portas para nós.

    A saída de Cazuza abalou a banda?

    Abalou total. Estávamos fazendo sucesso com o disco Maior Abandonado e prestes a fazer uma turnê com jatinho particular e tudo. De repente o cantor sai... Ficamos uns seis meses sem falar com ele (riso). Mas, logo depois ele ficou doente e a gente relevou.

    Foi natural o Frejat assumir o vocal?

    O Frejat compunha as melodias das músicas e acreditava que tinha voz para cantar. Chegamos a testar alguns cantores e acabamos escolhendo o Frejat (riso). E olha que é difícil cantar numa banda de rock! Sua voz hoje tem grave, médio e agudo. Isso ele aprimorou com exercícios e na prática.

    Quando revelou seu lado compositor?

    Quando o Barão Vermelho começou, eu e o Maurício Barros, tínhamos três músicas. Com a chegada do Cazuza surgiram letras novas e nem me animava a escrever e compor já que gostava do que ele fazia. Quando saiu não podíamos ficar sem letrista, aí comecei a compor com o Frejat. As primeiras músicas foram “Torre de Babel”, “Declare Guerra”. Acho que devo ter umas 40 músicas em parceria com o Frejat na banda, entre elas, “Puro Êxtase”, “Meus bons amigos”, “Tão longe de tudo”, esta última só minha.

    Qual é a sua fonte de inspiração ao compor?

    Eu deixo vir naturalmente. Em 2001, lancei o disco “Alimentar” com 20 músicas que tinha composto ao longo dos anos. Depois que me livrei delas, fiz mais 10 na sequência (riso). Minhas letras têm amor, sofrimento, solidão.

    Como é o relacionamento entre os músicos da banda?

    Tivemos uma fase que entramos em choque por causa do desgaste dos anos. Fizemos uma primeira parada em 2001. Isso ajudou a refletir um monte de coisas. Quando voltamos em 2004 e fizemos uma turnê até 2007, foi excelente. Depois paramos novamente e voltamos em 2012. Acho que tem mais a ver a gente só tocar se for a formação original. Não tenho mais a mesma disposição e saúde de antes e, além disso, toco minha escola de percussão e um hostel. Não posso anunciar ainda, mas vamos voltar brevemente aos palcos.

    As gravadoras caducaram?

    As gravadoras não sabem ser vanguarda, são as últimas a descobrir os novos talentos.

    A Internet está sendo uma revolução na música?

    Para o artista que não tinha acesso a estúdios foi ótimo. A obra dos artistas pode e poderá ser vista sempre, mesmo daqui a 100 anos (riso).

    E o papel das rádios?

    Importantíssimo. As músicas do Barão Vermelho são cantadas de norte a sul do Brasil. O pipoqueiro conhece, o índio conhece (riso). Só o rádio tem esse poder!

    E a volta do vinil?

    Acho bárbaro, tem um som ótimo. O som de MP3 é 10 vezes pior. Mesmo assim, a indústria não deve voltar com força, pois com as impressoras 3D qualquer um vai poder gravar um LP em casa. Olha que merda...

    O que o levou a abrir uma escola de percussão?

    Antes da parada do Barão, eu comecei a ter contato com artesãos de instrumentos da cultura popular e mestres que tocavam tambor de criola e outros ritmos. Adorei e corri atrás desses caras comprando instrumentos diferentes, alguns feitos com sementes. Com isso acabei montando uma coleção de tambores exóticos, diferentes. Aí pensei: preciso fazer algo novo. Em agosto de 2000, resolvi abrir um local com loja de instrumentos, salas para aula de bateria, estúdios para alugar e ainda um bar com música ao vivo. Um dia, passando na Rua Ipiranga me deparei com uma casa para alugar. Aluguei a parte da frente e depois a casa toda (riso). Com isso, organizei workshops com artesãos de instrumentos, de batucada. Fiz ainda oficinas de ritmos brasileiros. Hoje a escola dá aula de vários instrumentos. Com isso contribuímos para a retomada do carnaval de rua carioca já que vários blocos nasceram em nossas oficinas.

    Ainda dá aula de bateria na comunidade da Maré?

    Sim. Participo de um projeto social na Maré onde dou aula para jovens uma vez por semana. Toco repinique, fico também na frente da bateria como maestro. É uma das coisas mais maravilhosas que eu já fiz. Estou amando. Acho que é por aí que o Brasil pode virar o jogo no futuro.

    O projeto DiscoZeca está fazendo um ano. O que tem a dizer desta experiência?

    Acontece toda sexta-feira. Tínhamos a coleção de vinil do jornalista Ezequiel Neves sem uso. Resolvi fazer o projeto DiscoZeca para tocar esses discos e pockets shows com instrumentistas. Está sendo um sucesso e acaba de fazer um ano. O público encontra ainda um bar com cervejas importadas e artesanais. Por enquanto estamos pagando os custos, mas estamos procurando empresas interessadas em patrocinar.

    Vai votar em quem para presidente?

    Honestamente eu vou de Dilma. Se formos comparar o que o PT fez nos últimos 12 anos chega a ser humilhante com outros governos. Conseguiu tirar 40 milhões de pessoas da miséria absoluta. Isso não tem preço. Embora ache que corrupção é problema de polícia e do Ministério Público.

    Tem alguma utopia?

    Que as pessoas não falem mal do Brasil. Tem gente que só sabe fazer isso. Para mim vivemos no melhor país do mundo, acredito demais nele. Ninguém elogia as coisas boas, só critica. Boto fé que o Brasil vai atropelar e arrebentar no futuro.

    Agosto 2014. Entrevista concedida ao editor do Bafafá Ricardo Rabelo.


    ÁUDIOS

    Guto Goffi, do Barão Vermelho, fala ao Bafafá


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