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  • Arnaldo Baptista: O Eterno Mutante

    Agenda Bafafá em 03 de Maio de 2016    Informar erro
    Arnaldo Baptista: O Eterno Mutante

    Arnaldo Baptista foi fundador da banda Os Mutantes, apontada como uma das mais originais do final da década de 60 e início de 70. Ele dividia o palco com a então mulher, a jovem cantora Rita Lee e o irmão Sérgio Dias. Natural de São Paulo, nascido em 1948, o artista é tido como um ícone do rock experimental, que tinha como marca letras e sons originais. Depois de sucesso fulminante, deixa a banda em 1973 por discordâncias internas após a separação com Rita. Já em carreira solo, em 1974, lança Loki?, considerado seu melhor trabalho. Em 1982, em profunda depressão, tenta o suicídio, mas apesar de sofrer traumatismo craniano recupera-se meses depois. Sua história foi revelada no documentário “Loki – Arnaldo Baptista”, de autoria de Henrique Fontenelle. Arnaldo vive há 30 anos com a companheira Lucinha Barbosa, num sítio em Juiz de Fora, Minas Gerais.

    Em entrevista ao Bafafá, Arnaldo Baptista fala da carreira, música, vida pessoal e o lançamento dos discos remasterizados. E revela que só não toca no Rio de Janeiro por falta de convites: “Isso é estranho, mas nunca ninguém me procurou para fazer show no Rio de Janeiro”. Questionado se tem alguma utopia, brinca: “Que todos os amplificadores da terra sejam a válvula, não digitais”.

    Como está vendo os 40 anos do disco Loki?"

    Naquela época eu estava num clima totalmente diferente de hoje. É incrível que o que eu fiz naquela época ainda se encaixa nos dias atuais. É uma espécie de viagem no tempo (riso). Estou surpreso com a receptividade, pois quando eu gravei esse disco não tinha consciência de que isso fosse acontecer. Vejo que deu certo e estou muito contente por isso.

    O mundo mudou muito nestes 40 anos?

    Mudou bastante. Basta ver a Internet, um fenômeno incrível. Antigamente para comprar um instrumento Fender ou Gibson eu tinha de ir aos EUA, hoje tem aqui na loja perto de casa.

    O que ficou de mais expressivo desse período?

    Foi o fato de eu estar distante e próximo ao mesmo tempo. Nos shows eu consigo uma comunicação interessante com o público.

    Quem foi e quem é Arnaldo Baptista?

    Sou um eterno mutante. A cada dia que passa aprendo uma coisa.

    Você imaginava ser cultuado por diferentes gerações?

    Eu ainda não tenho consciência disso.

    Confere que só toca com amplificador valvulado?

    Não existe nenhum lugar para alugar um amplificador PA valvulado. Estou fazendo poucos shows por causa disso. Já que você diz que eu sou cultuado poderia ter uma empresa que me fornecesse esse equipamento (riso). Ele é muito melhor que os atuais digitais. Tem um som com os graves definidos. Para meus shows tenho que alugar esse equipamento.

    Você acha que as gravadoras estão morrendo?

    Hoje está tudo espalhado pela Internet. Eu tenho a impressão que vivemos um novo tipo de realidade para comprar discos. Acho que elas não estão morrendo, pelo contrário, estão se difundindo que nem igrejas (riso). Já as gravadoras tradicionais têm um enfoque muito diferente da nova realidade.

    E o papel do rádio?

    Ele ainda tem seu lugar. Muitas vezes tem mais alcance que a televisão e difunde a sua música. Vai sobreviver, principalmente com a digitalização.

    Você gosta da atual produção musical no Brasil?

    Não, sinceramente, não. De uma certa forma eu sempre me guiei mais pelo que vem de fora. O Brasil ainda está evoluindo musicalmente, apesar de ter características interessantes como a origem indígena.

    Quais pessoas você mais admira no Brasil e no exterior?

    Um cara em São Paulo, o Rubens Amorim, um audiófilo que faz constantes adaptações e regulações sonoras. Outra pessoa é a minha esposa Lúcia, uma santa que conseguiu viver comigo. Gosto muito também do Ray Brown (contrabaixista do Oscar Peterson), do Jimmy Page, entre outros.

    O que acha do Mick Jagger?

    Ele é uma figura importantíssima como cantor, mas não o considero um músico muito bom como guitarrista.

    Tem alguma mensagem para seus admiradores?

    Sim: endereçar a nossa mente para a consciência com ciência.

    Você é uma pessoa espiritualizada?

    O espírito é uma coisa bem sutil de dizer. Eu não creio muito nele, acho que nós somos uma espécie de máquina no sentido de comparação biológica com computadores.

    Acredita em Deus?

    Não.

    Como está vendo o desenvolvimento do Brasil?

    Tenho a impressão que ele devia dar mais prioridade à energia solar. O Brasil é um dos países que mais tem sol no mundo. 

    Ainda vota?

    Não voto mais há muitos anos.

    Como é a sua vida no dia a dia?

    Quando estou em casa estudo violão, bateria. Pratico exercícios diários, sou vegetariano e gosto de pintar. Meu hobby é o som, construir equipamentos e melhorar os que eu possuo.

    Sua obra foi digitalizada?

    Depois de mais de 30 anos fora de catálogo estou relançando meus discos remasterizados pela Classic Master. Entre elas estão dois álbuns inéditos: o Ao Vivo Shining’ Alone, de 1981 gravado no TUCA-SP e o Elo Mais Que Perdido, canções que não entraram no Elo Perdido. Toda a obra está agora catalogada e organizada. 

    Quais são seus projetos?

    Antes de tudo conseguir um amplificador PA valvulado (riso) e consequentemente fazer shows, inclusive gravando um deles ao vivo para a produção de um CD. Além disso, quero implantar energia solar em minha casa e possuir um carro com a mesma tecnologia.

    Quando você volta aos palcos?

    Vou fazer um show no dia 03 de agosto no Cine Teatro Brasil em Belo Horizonte.

    E no Rio de Janeiro?

    Isso é estranho, mas nunca ninguém me procurou para fazer show no Rio de Janeiro. Gostaria muito de tocar na Cidade Maravilhosa.

    Você tem alguma utopia?

    Tenho. Que todos os amplificadores da terra sejam a válvula, não digitais.

    Julho 2014

    Foto: divulgação



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