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  • Bloco Timoneiros da Viola desiste de desfilar, confira a nota

    Da Redação em 15 de Janeiro de 2024    Informar erro
    Bloco Timoneiros da Viola desiste de desfilar, confira a nota

    Foto: Divulgação


    O bloco Timoneiros da Viola, em Madureira, tomou a decisão de suspender as atividades. O presidente da agremiação, Vagner Fernandes, garante que tal qual o Escravos da Mauá, chegou à conclusão que há um projeto em curso de desconstrução do genuíno Carnaval de rua do Rio de Janeiro.
     
    Confira a nota:
    O negócio agora são os megablocos. É preciso concentrar 500, 600, 1 milhão de pessoas num cortejo para ser digno de receber apoio. Todos. Do dinheiro para bancar as estrelas do pop-funk brasileiro às autorizações exigidas pelo Corpo de Bombeiros, Batalhão da Polícia Militar e Delegacia local. A maioria conta com despachante. Sim, um bloco precisa contratar despachante, engenheiro civil para assinar a estrutura do desfile, ambulâncias com médicos e enfermeiros. É por isso que o número de blocos “clandestinos” tem aumentado. É difícil, é desgastante.  

    O Timoneiros é um bloco que fora criado para celebrar o samba e o choro. É uma agremiação suburbana, cujos partícipes são majoritariamente pobres, pretos e sambistas. É um quilombo que se materializa uma vez ao ano, no domingo que antecede o Carnaval. Em 2024, sairíamos no dia 4 de fevereiro. Ou seja, daqui a praticamente três semanas. Ninguém faz mágica em um evento desta magnitude, que reúne dezenas de milhares de pessoas nas ruas de Oswaldo Cruz e Madureira.
     
    É preciso planejamento. E para planejar é preciso recurso, pois que são cerca de 250 profissionais envolvidos. Não há como reunirmos 40, 50 mil pessoas nas ruas sem ordenamento. Seria uma irresponsabilidade. Não é viável. O Carnaval de rua tomou proporções gigantescas. O Timoneiros da Viola é o maior bloco de rua da Zona Norte do Rio.
     
    Desde de setembro de 2023, sentamos em 10 mesas de reuniões de empresas privadas. Sim, DEZ. O governo do Estado fez um edital oferecendo R$ 30 mil para cada bloco contemplado da capital e de todas as regiões fluminenses.
     
    Se for uma liga de blocos o valor sobe para R$ 100 mil. Se em uma liga 10 blocos forem associados, o prêmio é de R$ 10 mil para cada um. Um trio elétrico custa R$ 32 mil atualmente, um truck cerca de R$ 15 mil.
     
    Uma estrutura de palco consome algo em torno de R$ 40 mil. Seria ingênuo de nossa parte crermos que conseguiríamos realizar uma festa segura com um carro de som de outrora. Não há espaço mais para o romantismo no Carnaval a céu aberto . É imprescindível a profissionalização. 

    Vale ressaltar que a Riotur não subvenciona blocos de rua. E nem tem tal obrigação. O caderno de encargos do Carnaval carioca conta com recursos destinados somente à estrutura dos cortejos, que envolve banheiros químicos, gradeamento e afins. Mas isso pode ser mudado. O poder público precisa tomar as rédeas da situação. A desconstrução do Carnaval de rua do subúrbio é projeto.
     
    E a iniciativa privada é a maior responsável pela aniquilação da festa além túnel. Ninguém debate. As Comissões de Cultura da Câmara e da Alerj nos servem atualmente para condecorar. A quantidade de gente que tem projeto cultural reconhecido impressiona. Se perguntarmos qual o impacto destas iniciativas junto à sociedade civil ninguém saberá responder. Mas o importante é distribuir medalhas e moções. É um escracho. 

    Há muito o que fazer. Enquanto o Carnaval de rua do subúrbio não for tratado com a deferência e o respeito devidos continuaremos a considerar divertido a turma que samba com a vassoura na mão na Sapucaí. Pobres e pretos são os maiores prestadores de serviços no Sambódromo.
     
    Não precisa mandar equipe do IBGE fazer estatística. Basta você circular no backstage. Do montadores de frisas aos garçons dos camarotes, passando por recepcionistas e seguranças, a mão de obra é majoritariamente de pretos e pobres.
     
    Justamente aqueles que o Timoneiros exalta no território e regiões adjacentes em que residem. Trabalhar é preciso, viver a folia, não. A lógica do empresariado do Carnaval nunca foi proporcionar alegria, mas fazer dinheiro sob a lavagem de imagem da esperança e do congraçamento. No Timoneiros, a felicidade não é pré-fabricada. Ela existe, é real. Difícil trazer empresas para um projeto que nunca teve como meta converter-se em business. A gente sempre quis exaltar tão e somente os expoentes do samba e do choro.  O Timoneiros é uma utopia social, política e cultural suburbana em meio a distopia na qual se transformou o maior espetáculo da Terra, como gostam de exaltar. 

    Não há tristeza nesta saída de cena. Há, cremos, talvez, o início de um debate que merece ser travado nas mesas oficiais, com as autoridades competentes. O Timoneiros e os outros blocos e agremiações suburbanas estão para o Rio como os blocos afros estão para Salvador.
     
    Todo mundo ama, mas na hora da “briga” a omissão impera. Hoje, os cariocas têm, como os soteropolitanos, o circuito Barra-Ondina, que reúne as celebs e as subcelebridades do entretenimento nacional, e o circuito Campo Grande, no qual estão agregados os projetos afrodiaspóricos.
     
    Nada mudou neste Brasil tão vasto e desigual. A casa grande ainda manda. A senzala grita de um lado, mas também se deixa cooptar por outro, provocando fissuras nos movimentos reivindicatórios que só legitimam a autoridade e o poderio dos que dominam o mercado da folia.
     
    O Timoneiros não deixa o Carnaval do Rio por falta de gestão e aguerrimento. Na trincheira, lutamos com as armas que temos. Nós combatemos com arte. Eles nos aniquilam com o poder e a falta de apoio. Está em curso, há algum tempo, uma arquitetura da destruição do Carnaval suburbano. Coretos? Não existem mais. Os poucos remanescentes são subvencionados por vereadores ou deputados reinantes na localidade. É uma vergonha. Todo mundo vê, mas, por conveniência ou cafajestismo, finge não enxergar. Naveguemos! O mar é sempre imprevisível. 

    Vagner Fernandes 
    diretor-presidente do Timoneiros da Viola


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      • Comentário do post Romário:
        Uma lástima fazer isso vom o Carnaval fo Rio de Janeiro que a pouco tempo goi muito alegre e divertido


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