A marchinha de carnaval é um estilo musical que vem atravessando décadas e está incorporada à cultura musical do país, principalmente do Rio de Janeiro. Seu principal expoente é o compositor João Roberto Kelly, autor de sucessos como Cabeleira do Zezé, Mulata Bossa Nova e Maria Sapatão.
Carioca, começou a tocar piano aos 11 anos e aos 19 iniciava a carreira compondo musicais para a TV Rio, TV Continental e TV Globo. Como intérprete, Kelly tem 10 discos mas perde a conta de suas letras gravadas por outros cantores.
Falando ao Bafafá, João Roberto Kelly, de 85 anos, negou que Cabeleira do Zezé tenha sido composta para satirizar os homossexuais e garante que faz referência a um garçom cabeludo que trabalhava num bar no Leme.
"Pelo contrário, muito pelo contrário. Essa música não tem nada a ver com os homossexuais. Ela é na verdade um registro daquela fase dos Beatles em início de carreira em 1964. Eu estava num bar no Leme e apareceu um garçom cabeludo chamado José Antônio, que não tinha nada de bicha, pelo contrário, era um tremendo paquerador, chegou a paquerar a mulher que tava comigo. Então eu disse: “Ô cara, o que é isso, você com essa cabeleira aí ?”. E brinquei: “Será que ele é Beatles, Bossa Nova, Maomé, qual é a do cara?” (riso). Foi aí então que me inspirei para compor a música, com ajuda do Roberto Faissal e que estourou gravada pelo Jorge Goulart, que era um cantor de muito sucesso na época", conta Kelly.
E complementa: "Muita gente pensa que essa música foi feita para sacanear os homossexuais porque quando é cantada nos bailes o povo grita “bicha” depois do refrão. Sabe onde que nasceu esse “bicha”? No auditório do Sílvio Santos. Quando ele queria esquentar o seu programa, ele então cantava a música e as moças que dançavam em seu show gritavam “bicha”, que acabou incorporado", revela o compositor.
João Roberto Kelly conta também como foi compor Mulata Bossa Nova.
"Um dia, eu fui a um concurso de Miss Brasil no Maracanãzinho e vi uma mulata quase negra evoluindo maravilhosamente com um “pisar” de passarela muito elegante, muito fora inclusive dos padrões que todas as mulatas encaravam qualquer movimento de passarela. Eu olhei e disse: “Que moça diferente, merece ser fotografada numa música”. Era Vera Lúcia Couto. Me pergunta se eu gosto de mulata? (riso)", brinca o artista.
Kelly conta também o segredo para uma marchinha dar certo: "Sendo atual, com um tema que não fique velho nunca. Carnaval é antes de mais nada uma brincadeira".
O Bafafá se orgulha de ter seu bloco apadrinhado por Kelly. O bloco Bafafá surgiu em 2003 na retomada do carnaval de rua carioca e não pensou duas vezes em convidá-lo para ser padrinho. Ele prontamente aceitou e ainda compôs uma marchinha para o bloco intitulada "Bafafá de Ipanema".
Salve o João, muita saúde e muitos carnavais.