“Apocalipse nos Trópicos”, novo longa de Petra Costa, produzido por Alessandra Orofino, ganhou a sua primeira exibição mundial na mostra principal do Festival de Veneza, nesta quinta-feira, dia 29 de agosto, sob longos aplausos do público presente no cinema do Palazzo del Casinò.
O documentário que investiga a crescente influência exercida por líderes religiosos na política no Brasil integrou a mostra principal fora de competição no prestigioso evento italiano.
“Exibir ‘Apocalipse nos Trópicos’ pela primeira vez em Veneza é extremamente significativo. O Festival de Veneza é um palco essencial para debates globais relevantes, e apresentar o filme aqui reforça a importância de discutirmos o impacto das forças religiosas na política brasileira, dentro um contexto internacional”, celebra a cineasta, que logo na sequência de Veneza leva o documentário aos festivais norte-americanos de Camden (Maine, 12 de setembro) e Nova York (NY, 29 de setembro).
Sucessor ao celebrado “Democracia em Vertigem” (2019) – indicado ao Oscar e listado pelo New York Times como um dos 10 melhores filmes do ano –, “Apocalipse nos Trópicos” entrelaça passado e presente, mergulhando nas contradições de uma jovem democracia, e, ao fazê-lo, oferece um reflexo para o resto do mundo.
“Se em “Democracia em Vertigem” fui confrontada com o fato de que a democracia pode rapidamente desmoronar, em Apocalipse chego a uma conclusão ainda mais perturbadora. Cresci acreditando que o secularismo era uma tendência irreversível e que a separação entre igreja e estado era um dado. Este filme me mostrou o quanto eu estava enganada: uma parte crescente da população brasileira está se alinhando com igrejas evangélicas fundamentalistas que buscam dominar a política. Eles estão convencidos de que estão lutando uma guerra cósmica entre as forças do bem e do mal”, analisa a diretora, que assina ainda o roteiro do projeto com a colaboração com Nels Bargenther, David Barker e Alessandra Orofino.
O filme oferece um acesso inédito aos bastidores do poder, acompanhando figuras centrais da política brasileira, como o presidente Lula, o ex-presidente Bolsonaro, e o televangelista Silas Malafaia que exerce enorme influência no cenário.
Ao expor o papel crucial do movimento evangélico na recente turbulência política do Brasil, Petra também revela a ideologia apocalíptica que motiva esses líderes. O documentário captura ainda as consequências dessa guerra ideológica, deixando claro que o fundamentalismo religioso não será facilmente suprimido, e ignorá-lo pode ter consequências ainda mais drásticas.
Sinopse:
Quando uma democracia termina e uma teocracia começa? Em Apocalipse nos Trópicos, Petra Costa investiga a crescente influência que os líderes religiosos exercem sobre a política no Brasil. Costa obtém um acesso extraordinário aos principais líderes políticos do país, incluindo o presidente Lula e o ex-presidente Bolsonaro, assim como ao mais famoso televangelista do Brasil: um pastor maior que a vida que parece controlar o segundo como um mestre de marionetes. À medida que o filme revela o papel crucial que o movimento evangélico desempenhou na recente turbulência política do Brasil, ele também expõe a teologia apocalíptica que impulsiona seus principais protagonistas. Assim como em seu filme indicado ao Oscar, Democracia em Vertigem, Costa documenta um tempo de profunda confusão e desespero com lucidez e um olhar poético. Entrelaçando passado e presente, ela nos imerge nas realidades contraditórias de uma jovem democracia que está por um fio e, ao fazer isso, reflete o resto do mundo.
SOBRE PETRA COSTA
Há mais de uma década, Petra Costa tem contado histórias na interseção entre o pessoal e o político, tentando entender a sociedade desigual em que vivemos, com foco em seu país natal, o Brasil. Seu último e terceiro documentário, Democracia em Vertigem, foi indicado ao Oscar e listado pelo New York Times como um dos 10 melhores filmes do ano de 2019.
SOBRE ALESSANDRA OROFINO
Alessandra Orofino é especialista em comunicação de massa e mobilização em larga escala. Cofundadora do NOSSAS e diretora-geral do programa Greg News, ela também integra conselhos de organizações focadas em estratégia cultural. Após as eleições de 2022, foi convidada para a equipe de transição do presidente Lula, destacando-se por sua atuação em estratégias de comunicação e impacto social.