Com “Bora!”, o Ballet de Londrina, uma das companhias mais longevas do interior do Brasil, abre um novo capítulo de sua história: pela primeira vez é coreografada por um artista externo, Henrique Rodovalho, diretor da Quasar Cia de Dança.
A criação de Rodovalho estreou em 2022 e foi indicada ao Prêmio APCA no ano seguinte, nas categorias Elenco e Coreografia.
A obra nasceu após o impacto da pandemia de COVID-19 e resultou naquele que o coreógrafo considera um dos seus espetáculos mais leves e alegres, um chamado para ir adiante – como propõe a interjeição do título.
Mas também lança a enigmática pergunta: avançar para onde? Por meio desta aparente contradição, faz um estudo irônico e irreverente sobre o movimento do homem na pós-modernidade – contexto do fim das utopias e das relações líquidas.
Animada pela música eletrônica do compositor japonês Aoki Takamasa e do multiartista português Komet, a coreografia contagia, apresentando-se, em alguns momentos, como uma sequência de fotografias cinéticas que revelam a fragilidade dos afetos no século XXI, entre o desejo de pertencimento e a necessidade de manter a individualidade.
É possível identificar o “efeito manada” das redes sociais, que, ao mesmo tempo que garantem o sentimento de integração com grupos de pensamento parecido, é o ambiente da solidão, dos cancelamentos, das bolhas e dos haters.
O cenário, assinado pelo coreógrafo e por Renato Forin Jr., leva ao palco estruturas luminosas que contornam um vazio branco reflexivo.
Ele remete à imensidão do espaço virtual, como se os bailarinos dançassem sobre uma grande tela. Num átimo, os limites deste quadro se quebram e os movimentos do elenco contornam os leds, que flutuam em outro não-espaço – o da nuvem.
Em contraste à dimensão espacial asséptica, tecnológica, os figurinos de Cássio Brasil, convidado de São Paulo, trazem cores quentes, entre o ocre e o alaranjado, que apelam para a sedução do calor humano. Os cortes e as formas lembram a urbanidade e a juventude.
Como são típicos da linguagem de Rodovalho, os movimentos exploram curvas sinuosas do corpo, destacam quadris e braços, jogam com contrastes de velocidade e trabalham a interpretação sarcástica do semblante dos dez bailarinos.
Além das apresentações, a companhia paranaense também oferece na cidade uma oficina de dança contemporânea voltada a bailarinos de nível intermediário e avançado. O minicurso será conduzido por Boletti, com participação de integrantes do elenco, no dia 14 de setembro, às 14h30, no Teatro Nelson Rodrigues (Av. República do Paraguai, 230), com carga horária de uma hora e meia. As inscrições são gratuitas, com trinta vagas disponíveis.
As inscrições poderão ser realizadas através do e-mail funcartlondrinapr@gmail.com. Com o título “Nome Completo – Oficina de Dança Contemporânea Ballet de Londrina”, currículo resumido indicando formação e/ou experiência. A reserva de vagas é por ordem de recebimento do e-mail contendo as informações necessárias.
O Ballet de Londrina tem direção de produção de Danieli Pereira e é formado pelos dançarinos Alessandra Menegazzo, Deborah Grossmann, Higor Vargas, Ione Queiroz, José Villaça, Luca Salvatore, Matheus Nemoto, Nayara Stanganelli, Viviane Terrenta e Wesley Silva. A companhia está vinculada à Funcart - Fundação Cultura Artística de Londrina, com patrocínio da Secretaria de Cultura e da Prefeitura Municipal de Londrina.