O Festival Multiplicidade 2023 se encaminha para o final, com exposições dos coletivos 2050 e Studio Krya, formado por garotos que já estão no futuro hi-tech, crias da Favela do Santo Amaro, no Catete.
Realizado até o dia 26 de novembro no Futuros - Arte e Tecnologia, o Festival Multiplicidade recebe este ano três outros festivais na edição comemorativa pelos seus 18 anos, com o tema "É ontem": Ultrasonidos e NFT.Rio, com residências artísticas, instalações expositivas, debates, shows e festas, e, encerrando a programação, os coletivos 2050 + Studio Krya, iniciativas pensadas e criadas para promover, de um lado, a favela como centro de tecnologia e inovação e, do outro, a ancestralidade como perspectiva de futuro.
Na parceria dos coletivos 2050 + Studio Krya, os visitantes serão transportados para a Favela do Santo Amaro, com ambientação, vídeos e trilha sonora feita a partir da sonoridade que eterniza o cotidiano do morro, destacando figuras icônicas - como Dona Telma, famosa por sua generosidade e tradição no Dia de São Cosme e Damião, e o Ch do Corte, barbeiro que eleva a autoestima dos moradores com seu talento e carisma.
A mostra inclui obras físicas, digitais e esculturas em 3D dos artistas Rxbisco, Clyckbycria, Gean Guilherme, Velez e Ottis, todos crias da comunidade do Santo Amaro, no Rio.
Com projetos de renome para o Museu do Amanhã, L'Oréal e Kenner, a 2050 agora traz sua expertise para o Multiplicidade, apresentando obras que desafiam as fronteiras entre o real e o digital. Gean Guilherme oferece a coleção "Menor Portando", coleção de CryptoArt criada com o propósito de examinar e debater as várias trajetórias pré-determinadas para jovens que residem em favelas. Essa coleção é composta por seis personagens, criados a partir de pessoas reais, que passaram por um processo de escaneamento e modelagem.
Clickbycria captura a forma e o tom em que a comunidade se movimenta no dia a dia, destacando a riqueza cultural e a colaboração entre tecnologia, audiovisual e a comunidade. Ele traz não só uma forma de autoestima, mas uma forma de reconhecimento cultural a quem há muito tempo se vê à margem. Já o Rxbisco retrata o cotidiano das favelas cariocas e explora o estilo de vida através de suas ilustrações digitais, destacando a resistência, a autenticidade e a representatividade preta dessas comunidades.
Com a sua série "Da onde eu sou cria", Velez materializou a "Jaqueira", uma escultura totalmente idealizada e impressa em 3D que representa uma parte histórica do Santo Amaro, conectando, mais uma vez, conceitos digitais e físicos. Depois de expor em Tóquio e Nova York, Ottis apresentará no Multiplicidade a sua coleção "Renascimento digital", que junta a essência do Graffiti - descoberto em sua infância - com novas tecnologias em uma série de obras pintadas digitalmente com o óculos de Realidade Virtual.
Além da exposição fixa, entre os dias 8 e 26 de novembro, o evento vai trazer a palestra Encruzilhada tecnológica: robô não faz macumba, com o professor de língua e cultura yorubá da UFRJ Bàbá Ọ̀nà e outros convidados, discutindo como o pensamento ocidental molda nossa compreensão das tecnologias e como podemos decolonizar nosso letramento digital. Destaque também para o Metabaile, uma experiência imersiva multimídia, que integra os universos físico e digital, com o DJ Crazy Jeff, do Santo Amaro, e dançarinos.
O Studio Krya, por sua vez, propõe um mergulho nas fronteiras entre passado e futuro, sagrado e profano tecnológico, promovendo perspectivas africanas, negras da diáspora, dos povos originários e periféricos. O destaque no Multiplicidade será a "Relíquia dos Relíquia", um experimento tecno-artístico que utiliza Inteligência Artificial de Linguagem Natural. Através de um totem com tela digital, o público se conecta ao Relíquia, que está em outra dimensão, e faz perguntas por meio de um teclado.
"Este projeto busca hackear as contradições entre circuitos digitais e saberes ancestrais, transportando o público para o intrigante 'Kryaverso' por meio de um portal guardado pelo enigmático 'Relíquia'", explica Osvaldo Eugênio, diretor de inovação do Studio Krya.
A Galeria 3 do Futuros será o palco desse encontro entre tecnologia e tradição, oferecendo um espaço de experimentação e interação para os visitantes. O estúdio criativo vai complementar a experiência com duas palestras provocativas sobre "Tecnologia e Ancestralidade", explorando criticamente a interseção entre o pensamento ocidental e as tecnologias modernas, promovendo a descolonização do letramento digital. No dia 24 de novembro o Studio Krya se reúne ao 2050 para abordar as confluências e divergências sobre tecnologia, favela, corpo e futuro.
Por fim, o público será convidado a dançar, conectar-se e transformar-se em um espaço-tempo singular no Metabaile, uma ativação inovadora que vai transcender as fronteiras da realidade virtual e analógica, encerrando o festival no dia 25 de novembro. O futuro já chegou.
PROGRAMAÇÃO
De 8 a 26/11 - Exposição 2050 + Studio Krya (Galeria 3)
Com a confluência necessária para percorrer os caminhos, a ocupação 2050 + Studio Krya visa encruzilhar as possibilidades entre tradição e tecnologia, favela e asfalto, origem e porvir.
A exposição conta com obras digitais e físicas de Clickbycria, Gean Guilherme, Ottis, Rxbisco e Velez, artistas do morro do Santo Amaro, no Rio, e intervenções do Studio Krya – a obra interativa e inédita "Relíquia dos Relíquia", experimento tecno-artístico que utiliza a IA para explorar as contradições e os limites entre as mídias digitais e os saberes ancestrais, a partir da provocação: "Se a Inteligência artificial é alimentada sempre a partir de dados previamente selecionados, o que acontece se a nutrição das máquinas não for mais euro-cristã-colonial?".
Nas intervenções, o mundo material sente as tensões do que precisa ser dito, vivido e sentido. Se a tecnologia não é neutra, que ela seja também nosso campo de experimentação como suspiro coletivo. Respiremos juntos novos tempos.
Dia 24/11 - Roda de conversa - 2050 e Kryas - 18h
A roda de conversa será um espaço de troca entre a 2050 e Studio Krya, nas suas confluências e divergências sobre tecnologia, favela, corpo e futuro.
Dia 25/11 - Palestra "Robô não faz macumba" e Metabaile - 15h30 às 22h
A palestra "Encruzilhada tecnológica: robô não faz macumba" tem por objetivo apresentar perspectivas críticas sobre a relação entre a tecnologia moderna e a sabedoria ancestral, com a participação de Babá Onã e Janice Mascarenhas.
O Metabaile é uma experiência multissensorial que integra, através da música, dimensões da realidade virtual e analógica, com a participação do DJ Crazy Jeff, do Santo Amaro, e dançarinos.
Classificação indicativa: livre