Olhar o Bicentenário da Independência pelo papel da ciência desenvolvida no Brasil e sua importância para a construção do país é o fio condutor das duas exposições que o Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST) inaugura no próximo dia 4 de agosto. São elas Um Mapa Para a República e Produzindo Ciência: A Fábrica de Aparelhos da Escola de Engenharia de Juiz de Fora.
Na avaliação do diretor do MAST, Marcio Rangel, esse é um momento fundamental para ressaltar essa relação. “Nosso objetivo com essas duas exposições temporárias e com várias outras atividades é discutir e analisar a contribuição da ciência para a formação da nação brasileira, da identidade nacional e do que hoje denominamos Brasil. Às vezes não fica tão evidente para o público o papel preponderante que a ciência teve na configuração do nosso país”, reflete o diretor.
Com enfoques distintos, ambas as exposições perpassam épocas relevantes no desenvolvimento científico e tecnológico, como explica o diretor. “Enquanto Um Mapa para a República aborda o primeiro mapa científico no período republicano, Produzindo Ciência: A Fábrica de Aparelhos da Escola de Engenharia de Juiz de Fora apresenta objetos e instrumentos científicos utilizados na formação de engenheiros. Parte desse acervo são objetos produzidos no Brasil e representam o desenvolvimento de uma tecnologia nacional”, completa Rangel.
Um Mapa para a República
A mostra que ficará em cartaz no Centro de Visitantes do MAST percorre os embates científicos que resultaram na elaboração do mapa do Brasil na República, cuja realização foi um importante acontecimento científico nacional. Entre os documentos que serão apresentados está a Carta Geral de 1922, primeiro mapa do Brasil na República criado para comemorar o Centenário da Independência, além de cinco instrumentos do acervo do Clube de Engenharia, ligados à topografia e à cartografia, utilizados para realizar o mapeamento do território nacional. Outros documentos e medalhas também compõem a mostra.
Um Mapa para a República mostra a disputa entre o projeto do Estado Maior do Exército, que apostava no método de triangulação para mapear o território, e o do Clube de Engenharia, que preferia confeccioná-lo por meio da compilação e levantamentos astronômicos, modelo que acabou sendo o escolhido devido à rapidez e por estar em sintonia com os padrões internacionais estabelecidos pela Comissão do Mapa ao Mundo ao Milionésimo.
Para a curadora e pesquisadora do MAST, Moema Vergara, a exposição evidencia a relação entre astronomia, engenharia e história, fortalecendo a cultura científica e tecnológica no Brasil.
“O Brasil sempre teve mapa, desde o período colonial e respeitando a produção científica da época. Esse é emblemático não porque tenha mais rigor científico do que os outros, mas porque foi feito dentro de um projeto internacional que é a Carta do Mundo ao Milionésimo. O Brasil foi o único país da América Latina que moldou seu próprio mapa, sendo os das demais nações elaborados pelo serviço geodésico americano”, ressalta.
Para desenvolver o projeto, o MAST fez um acordo de cooperação com o Clube de Engenharia, que emprestou parte de seu acervo, além de uma parceria com a Fundação Biblioteca Nacional. Já a Carta Geral de 1922 foi emprestada em regime de comodato pelo Museu da Escola Politécnica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Para marcar a abertura da mostra, uma Mesa de Debates será realizada no dia 5 de agosto, no Auditório do Prédio Ronaldo Mourão, às 15h. Participam do evento o diretor do MAST, Marcio Rangel; a vice-presidente do Clube de Engenharia, Maria Alice Ibanez Duarte; representando a Diretoria Cultural e Cívica do Clube de Engenharia, Ana Lúcia Moraes e Souza; o diretor do Museu da Escola Politécnica da UFRJ, Heloi José Fernandes Moreira; e a cocuradora Maria Gabriela Bernardino. A mediação será da curadora Moema Vergara.
Produzindo Ciência: A Fábrica de Aparelhos da Escola de Engenharia de Juiz de Fora
No início dos anos 1950 a Escola de Engenharia de Juiz de Fora deu origem ao seu Parque Tecnológico (PARTEC). Era a única instituição de ensino superior do Brasil a ter entre uma de suas propostas institucionais a produção e comercialização de instrumentos científicos para a indústria, ensino e laboratórios. Uma produção que em nada perdia em qualidade em relação aos objetos importados.
Apresentar parte desse acervo universitário, que é um dos mais significativos do país, é o objetivo da exposição Produzindo Ciência: A Fábrica de Aparelhos da Escola de Engenharia de Juiz de Fora. O MAST, em parceria com a Universidade Federal de Juiz de Fora / Faculdade de Engenharia, apresenta 17 instrumentos, que vieram especialmente para a mostra que será no Prédio Sede do MAST. Dada a importância deste acervo, o MAST assinou um convênio com a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) para a preservação do acervo do MDCT-UFJF.
Para a mostra foram selecionados instrumentos científicos produzidos pela Escola de Engenharia de Juiz de Fora, entre eles um modelo aerodinâmico, um conjunto de tubos sonoros e a Balança Tríplice Escala, que na avaliação do tecnologista do MAST que atua no Museu Dinâmico, Paulo Noronha, é um dos destaques da exposição.
"Ela foi inteiramente concebida na Fábrica de Aparelhos, pelo professor Josué Lage, no final da década de 1930. Foram produzidas milhares delas, comercializadas por todo o Brasil e exterior. Devido à sua precisão, facilidade e manejo, ainda hoje é utilizada em inúmeros laboratórios de universidades do Brasil. Foi também o primeiro equipamento científico patenteado pela UFJF”, ressalta. A exposição contempla também instrumentos produzidos pela fábrica francesa Le Fils D'Émile Deyrolle, da qual o Museu Dinâmico de Ciência e Tecnologia possui um raro e significativo acervo.
Sobre o PARTEC:
A criação do PARTEC faz parte de um projeto pioneiro voltado para a modernização da ciência e tecnologia no Brasil. Nesse sentido, é um importante centro para a produção de conhecimento no país, como explica Noronha.
“A história do PARTEC inicia-se na década de 1930, quando são implantadas as Oficinas da Escola de Engenharia de Juiz de Fora, que inicia suas atividades construindo e reformando equipamentos científicos para a Escola. No decorrer dos anos, o professor Josué Lage percebe, ao querer modernizar os laboratórios, a inexistência de fábricas de origem nacional que pudessem suprir a demanda da Escola por materiais didáticos de ensino de ciências para os estudantes de engenharia. Além da inexistência de produtos nacionais, o custo para importação destes equipamentos era extremamente caro”, afirma Paulo Noronha.
UM MAPA PARA A REPÚBLICA
Mesa de Debates: 5 de agosto, às 15h
Auditório do Prédio Ronaldo Mourão
Participantes: Marcio Rangel (Diretor do MAST), Maria Alice Ibanez Duarte (Vice-presidente do Clube de Engenharia), Ana Lúcia Moraes e Souza (Clube de Engenharia), Heloi José Fernandes Moreira (Diretor do Museu da Escola Politécnica da UFRJ), Maria Gabriela Bernardino (cocuradora da mostra / MAST).
Mediação: Moema Vergara (curadora da exposição / MAST)