Completando 10 anos de concessão do direito de uso da terra, o Quilombo São José da Serra se faz representar pela primeira vez com sua arte no Rio. A exposição "Bonecas que contam histórias – Saberes das mulheres do Quilombo São José da Serra" será aberta na Sala do Artista Popular, do Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular (CNFCP/Iphan), Catete, dia 22 de maio, às 17h. A famosa roda de jongo do Quilombo completa a abertura: o início será às 18h30.
Patrimônio com mais de 150 anos de história, o Quilombo São José da Serra preserva as tradições, mas também abre-se às possibilidades de acessar novas formas de arte. As bonecas unem artesãs jovens e maduras em sua produção.
Secretária da Associação do Quilombo, Luciene Valença afirma que as bonecas de palha de milho e bucha dão continuidade ao fazer ancestral, mesmo sendo uma arte recente.
“No Quilombo, a renda da mulher é que faz diferença na vida da família. Nosso artesanato tem uma importância imensa por tudo que significa”, define Luciene Valença. A criação das bonecas se inicia em meados dos anos 2000, para geração de renda e aproveitamento da bucha e da palha de milho antes descartadas. Diante da grande quantidade de matéria-prima, um técnico da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Rio de Janeiro (Emater) levou até lá uma professora que ensinou o artesanato das bonecas a Tia Tetê, matriarca já falecida.
Em seguida, no ano de 2007, o Artesanato Solidário/ Artesol e o Ministério do Turismo, com apoio da Prefeitura Municipal de Valença, organizaram um curso para que Tia Tetê repassasse a técnica a um grupo maior.
Terezinha do Nascimento Fernandes era carinhosamente tratada por todos como Tia Tetê (1944-2023), nascida e criada no território da Fazenda São José. Tia Tetê foi das principais vozes na luta pelo reconhecimento territorial e contra o racismo estrutural, esteve à frente do centro de Umbanda local, a Tenda Espírita São Jorge Guerreiro e Caboclo Rompe Mato, responsabilidade herdada de sua mãe, Zeferina do Nascimento (1925-2003).
Tia Tetê integrava práticas religiosas à mobilização política, reforçando a identidade coletiva e a noção de pertencimento e proteção do território. As bonecas transformaram palha de milho em arte e memória viva.
Para Luciene Valença o trabalho das artesãs fortalece os laços entre as gerações. “Assim também como o nosso terreiro de Umbanda, que graças a Deus, reúne várias gerações e cuida do nosso Jongo, mantemos o ensino do nosso artesanato, dentre outros trabalhos criativos que realizamos no Quilombo. As mulheres do Quilombo fazem coisas incríveis. E realmente isso ajuda muito a gente, não só financeiramente, mas também é muito bom estar desenvolvendo uma atividade em grupo, trocando ideias, opinando em formas de aplicar técnicas à palha e à bucha. É muito bom pra gente”, conta.
O Programa Sala do Artista Popular (SAP), do CNFCP/Iphan, que desde 1983 fomenta a venda dos trabalhos feitos nos mais distantes rincões do país, já contou com participação superior a 4.000 artesãos.
Realização: Associação Cultural de Amigos do Museu do Folclore Edison Carneiro (Acamufec) | Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular do Instituto de Patrimônio e Histórico e Artístico Nacional (CNFCP/Iphan)