A exposição sobre o cordelista Jota Rodrigues visa arrecadar fundos para reconstruir museu do artista em Nova Iguaçu.
Sua incrível trajetória – do menino pobre e analfabeto até os 8 anos, que nasceu no município de Águas Belas, no semiárido de Pernambuco, a patrono de diversas bibliotecas na Baixada Fluminense – será recontadana exposição Jota Rodrigues: o verso e a vida na Sala do Artista Popular no Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (CNFCP-Iphan).
Jota deixou um legado imenso – inclui mais de 400 folhetos de cordel, xilogravuras, fotografias, entrevistas gravadas em áudio e vídeo, discos, novelas e até roteiro de filmes. Parte destes registros compõem a mostra, sob curadoria dos antropólogos Ricardo Gomes Lima e Ana Carolina Nascimento.
Outro mérito da exposição Jota Rodrigues: o verso e a vida é comemorar a 200ª edição da Sala do Artista Popular (SAP), 36 anos depois da inauguração deste espaço, em 1983, justamente com a exposição Jota Rodrigues: folhetos, romances/literatura de cordel.
Serão apresentados ao público e colocados à venda folhetos de cordel de sua autoria, uma antologia publicada em livro, uma caixa para colecionadores com 250 títulos (os últimos exemplares impressos pelo próprio artista) e ainda camisetas e bastidores em madeira com tecidos impressos com suas xilogravuras.
Também integram a mostra manuscritos, xilogravuras, ferramentas de trabalho, fotografias, gravações e os objetos que Jota Rodrigues reuniu ao longo de mais de oito décadas em suas atividades na música, na medicina popular e na poesia.
No dia da inauguração será também lançado o livro Arte, Poesia e seus (en) cantos - Literatura de cordel nos territórios culturais (Editora Areia Dourada, SP, 2019, 248 págs), organizado pelas historiadoras e pesquisadoras Sylvia Nemer e Elis Regina Barbosa Angelo, que reúne trabalhos de professores, pesquisadores e poetas sobre a produção de literatura de cordel no Rio. Durante o lançamento, às 16h, vai acontecer uma mesa redonda reunindo os autores e alguns cordelistas.
A literatura de cordel foi reconhecida pelo Iphan em 2018 como Patrimônio Cultural Brasileiro.
A influência do pai violeiro e a do primeiro ofício, guiando um cego que memorizava versos e cantava de porta em porta, foram decisivas para a arte de Jota Rodrigues. “Aquilo foi me envenenando de uma tal maneira que o meu caminho era só aquele mesmo, não tinha outra coisa que me dominava”, contou. Mas à vontade de criar histórias se impunha a barreira de não saber ler e escrever. Foi o poeta cego que o incentivou a se alfabetizar, aconselhando-o a catar pedaços de carvão ou tijolo e riscar nas calçadas, copiando o formato das letras.
“Como Jota nunca teve uma educação formal, se alfabetizou sozinho, e cometia erros de grafia e métrica, terminou sendo rechaçado pela maioria dos cordelistas. Pelo mesmo motivo, nunca conseguiu publicar numa editora. Ele tinha 12 anos quando compôs seu primeiro cordel, mas só 27 anos depois, ao comprar um prelo, pôde imprimir seus folhetos, que vendia nas feiras e praças” conta Ricardo Gomes Lima.
Jota foi chofer de caminhão, marceneiro, dirigiu pau de arara, foi pintor, pedreiro, catador de papel nas ruas. Depois de passar por várias cidades, fixou-se no Rio de Janeiro. Aqui teve seu trabalho reconhecido pela folclorista, professora da UERJ e então diretora da Divisão de Folclore do Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (INEPAC), Cascia Frade. Ela abriu pra Jota as portas das universidades, levando-o para dar palestras que ficaram famosas e requisitadas no meio acadêmico.
Em 2008, Jota ganhou o Premio Culturas Populares do Minc, atual Secretaria Especial de Cultura. Com o dinheiro construiu um pequeno centro cultural na sua casa, em Nova Iguaçu, onde reuniu suas grandes paixões, literatura de cordel, ervas medicinais e música popular.
Recentemente uma chuva de granizo danificou o telhado da casa e para recuperá-lo e poder reabrir o centro cultural, algumas obras de Jota Rodrigues estarão à venda no Museu de Folclore Edison Carneiro.