Sob curadoria de Julia Naidin, Fernando Codeço e Daniel Toledo, a exposição "Invento o Cais" é o resultado de uma experiência artística promovida pela CasaDuna – Centro de Arte, Pesquisa e Memória de Atafona com o desafio: Como criar a partir das ruínas e do caos?
Os artistas visuais participantes da residência de arte “CaosCaisCosmos”, realizadas em maio e julho de 2022 na praia de Atafona, no litoral norte do Rio de Janeiro foram convidados a trabalhar a partir das relações entre Natureza e Cultura em suas rupturas e continuidades.
A erosão marinha em Atafona contesta os limites da (domin)ação humana sobre a geologia da Terra, evidenciando uma crise (e uma crítica) no espaço público comum.
Ao longo dos anos, o avanço das águas do mar já destruiu mais de 500 construções na região. Hoje, o que se vê é uma paisagem desoladora e inquietante, que aponta um futuro provável também para outras zonas costeiras.
“As obras estabelecem relações diretas e indiretas com a erosão e com a paisagem, centrando-se sobretudo em reflexões ambientais, coletivas e processuais. O objetivo é transfigurar a noção de corrosão, ampliando-a para além da destruição e abrindo novas perspectivas de mundo e de modos de adaptação e agenciamento”, explica a curadora Julia Naidin.
“Invento o Cais” reúne criações de 14 artistas nacionais e estrangeiros de diferentes gêneros e idades, todas desenvolvidas no contexto singular de Atafona, articulando a beleza bucólica, a história pesqueira resiliente e a força bruta da erosão.
Para esta curadoria, foram revisitados trabalhos realizados em imersões anteriores em colaborações com a Escola sem Sítio (2019) e com o curador Andrés Hernández no projeto Erosões Visuais (2018), entre outros. São eles: Caroline Valansi, Daniel Toledo, Fernanda Branco, Fernando Codeço, Isabela Sá Roriz, João Paulo Racy, Julia Naidin, Lu By Lu, Mariana Moraes, Paulo Victor Santana, Raphael Couto, Tetsuya Maruyama, Sarojini Lewis e Thais Graciotti.
“São fabulações dos olhares de pessoas de origens diversas, que ressignificam o sentido da erosão e criam outras formas de coabitar o mundo a partir do caos, para oferecer uma perspectiva contemporânea e decolonial sobre a questão da emergência climática”, pontua o curador Fernando Codeço.
Cinco trabalhos integram a mostra de vídeos e nove abrangem instalação, objetos, fotografias, pintura, colagem e performance, numa espécie de panorama da arte ambiental.
De acordo com o último relatório da ONU, Atafona está entre os locais mais ameaçados pela elevação do nível do mar, que pode subir 21 cm até 2050 – uma alta que já registrou 13 cm entre 1990 e 2020.
Há mais de 50 anos, a comunidade local vive sob a sombra da destruição causada pela subida constante das águas. “Atafona é uma das áreas mais vulneráveis do mundo, um museu a céu aberto que é um espelho das questões climáticas globais, e que simboliza as consequências de modos de vida pautados pela exploração e o acúmulo”, finaliza o curador Daniel Toledo.
"Invento o Cais" terá vernissage com a presença dos artistas e curadores, e serão oferecidas duas visitas guiadas sob agendamento prévio para professores e estudantes da região. Além disso, duas oficinas com a/os artistas Caroline Valansi e Tetsuya Maruyama.
O objetivo é criar no espectador um impacto pedagógico que estimule o debate sobre a transformação ambiental a partir do contexto da criação artística. "Invento o Cais" é realizada em parceria com a produtora Imagem Palavra Movimento e fica em cartaz no Sesc Niterói até fevereiro de 2024.
O projeto foi contemplado pelo edital SESC Pulsar 2023/2024 e é fruto de anos de pesquisa e criação da CasaDuna, que desde 2017 explora as relações entre arte, filosofia e ecologia em suas residências e ações culturais. Esta é a segunda exposição da CasaDuna no Sesc, sucedendo a mostra “Rio Paraíba ao Mar” (contemplada pelo edital Sesc Pulsar 23), que apresentou pesquisas de Fernando Codeço e do Grupo Erosão.
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