Marcelo Conceição é um garimpeiro urbano. Por 11 anos, viveu nas ruas do Centro do Rio de Janeiro e sobreviveu vendendo em feiras populares objetos que recolhia em calçadas e avenidas do centro e da zona sul da cidade. Quando passou a criar esculturas com o fruto do seu garimpo, sua vida mudou.
Atualmente, é reconhecido como artista, valorizado por colecionadores, saiu das ruas e, a partir do dia 18 de novembro, inaugura uma mostra individual no Museu do Pontal. A exposição Marcelo Conceição: Deslocamentos e travessias conta com mais de 100 obras, além de textos e vídeos, em que o artista fala sobre sua trajetória, os processos de criação e a importância da arte em sua vida.
Há quem compare as obras de Marcelo Conceição com a de outros artistas, mas ele garante que não tem referências no mundo da arte. Sua fonte de inspiração são os próprios materiais que recolhe na cidade.
- A força dele se relaciona com esse momento que estamos vivendo, em que pensamos no excesso de consumo e no descartável – diz o cenógrafo Jorge Mendes, curador da exposição e que conheceu o artista há cerca de seis anos, enquanto frequentava a Feira do Rolo, em São Cristóvão.
Integrante de uma família com 11 filhos, Conceição morava em Niterói, no Morro do Bumba, quando um deslizamento de terra soterrou a sua casa e matou um irmão e outros familiares e amigos.
A tragédia o levou a viver nas ruas do Centro do Rio de Janeiro, onde adotou a rotina de caminhante urbano, recolhendo objetos pelos locais por onde andava.
Passou a construir suas peças por sua observação das ruas e a vender para os passantes. Atualmente, vive em um apartamento alugado em Niterói e suas obras estão em diversas coleções.
Algumas dessas estarão na exposição, como as obras dos colecionadores Fabio Settimi, Ana Maria Chindler (Galeria Pé de Boi), Leonel Kaz, Paulo Tavares (Galeria GIM), Zaven Paré, além de acervo do próprio Museu do Pontal.
– No início, as pessoas diziam que eu era um artista e isso me incomodava, por que eu achava que a arte tinha que ter um lugar especial, não podia ser no meio da sujeira. Era como se falassem mal dos artistas. Hoje, eu entro com minha arte em um Museu e isso é muito forte. Acredito que meu trabalho pode abrir caminhos para muita gente – conta Conceição.
A exposição que chega este mês ao Museu do Pontal é a sua quarta participação em mostras, mas a primeira individual de grandes proporções. As peças contam diferentes etapas de sua trajetória, muito marcadas pelo uso de diversos tipos de material.
– A exposição do Marcelo Conceição é nossa segunda exposição individual, apenas. E não à toa com o Marcelo. Serão mais de 100 obras de diversas coleções que permitem um mergulho na obra de um artista que mesmo diante de uma trajetória de vida tão difícil, constituiu um repertorio de obras com uma expressão artística tão singular e potente, que se abrem a múltiplas interpretações – afirma o diretor executivo, Lucas Van de Beuque.
Durante a mostra, algumas peças estarão também à venda na Galeria Imaginária (GIM), loja de arte popular localizada no Museu do Pontal.
– A arte popular costuma ser muito figurativa. O Marcelo não é isso. Ele constrói esculturas abstratas com muita facilidade e de forma muito bem feita. Sua obra é um ponto fora da curva - afirma o colecionador Paulo Tavares, responsável pela GIM.