Edições únicas das icônicas obras “Relevo Espacial, 1959/1986” e “Parangolé P4 Capa 1, 1964/1986” estão na exposição "O que há de música em você", na Galeria Athena até 11 de novembro.
Elas foram produzidas em 1986, para a primeira exposição póstuma de Hélio Oiticica (1937 – 1980), organizada pelo Projeto HO, na época coordenado por Lygia Pape, Luciano Figueiredo e Wally Salomão, com o objetivo de arrecadar fundos para a organização, catalogação e conservação das obras e documentos deixados pelo artista.
Desde então, essas obras permaneceram em uma coleção particular, e agora voltam a público, depois de 37 anos, sendo o ponto de partida para a exposição “O que há de música em você”, com curadoria de Fernanda Lopes.
Icônicas para o desenvolvimento do pensamento de Oiticica, as duas obras são de grande importância – o Parangolé, inclusive, foi vestido por Caetano Veloso na época de sua criação.
Partindo delas, e da célebre frase de Hélio Oiticica: “O q faço é música”, a exposição apresenta um diálogo com fotografias, vídeos, objetos e performances de outros 20 artistas, entre modernos e contemporâneos, como Alexander Calder, Aluísio Carvão, Andro de Silva, Atelier Sanitário, Ayla Tavares, Celeida Tostes, Ernesto Neto, Felipe Abdala, Felippe Moraes, Flavio de Carvalho, Frederico Filippi, Gustavo Prado, Hélio Oiticica, Hugo Houayek, Leda Catunda, Manuel Messias, Marcelo Cidade, Rafael Alonso, Raquel Versieux, Sonia Andrade, Tunga e Vanderlei Lopes.
Na fachada da galeria estará a grande obra "Chuá!!!", de Hugo Houayek, feita em lona azul, simulando uma queda d´água.
Os diálogos se dão de diversas formas, seja por um aspecto mais literal da ideia de música, de movimento, seja pela questão da cor e por discussões levantadas por Oiticica naquele momento que continuam atuais.
A relação de Hélio Oiticica com o samba e com a Estação Primeira de Mangueira é bastante conhecida, mas a curadora também quer ampliar essa questão. “Quando Hélio fala de música, ele não está se referindo só ao samba, mas também ao rock, que é o que ele vai encontrar quando chega em Nova York. Para ele, são ideias de música libertárias, pois dança-se sozinho, sem coreografia, são apostas no improviso, no delírio. Acho que a partir disso é possível fazer um paralelo com a discussão de arte, repensando seu lugar, seus limites, suas definições e repensando também a própria ideia e o papel da arte”, afirma a curadora.
SOBRE O PROJETO HO
Em 1981, os irmãos de Hélio Oiticica, Cesar e Claudio, diante da urgência do desafio de guardar, preservar, estudar e difundir a sua obra, formularam o Projeto Hélio Oiticica, uma associação sem fins lucrativos com esses objetivos.
Contando com a construção inicial de companheiros e amigos de Hélio, com os quais se formaram um conselho e uma coordenação, e com fundos provenientes da venda de obras de terceiros pertencentes ao acervo da família, instalou-se o Projeto HO.
Os membros do Projeto, apesar de trabalhando sem remuneração e durante suas horas de lazer, conseguiram uma série crescente de realizações entre as quais merecem destaque a publicação do livro de textos: Aspiro ao grande labirinto e as exposições retrospectivas realizadas em Rotterdam, Paris, Barcelona, Lisboa e Minneapolis com a edição dos respectivos catálogos.
Além disso, houve a participação em 16 exposições no Brasil, sendo 10 coletivas e seis individuais e 12 exposições no exterior, sendo 11 coletivas e uma individual.
Em 1996, foi inaugurado o Centro de Arte Hélio Oiticica com a grande retrospectiva que tinha percorrido a Europa e os Estados Unidos. No período que se surgiu, o acervo participou de 39 exposições no Brasil, 11 individuais e 28 coletivas, e de 51 exposições no exterior, sendo 9 individuais e 42 coletivas.
SALA CASA
No mesmo dia também será inaugurada a exposição “Jonas Arrabal - Ensaio sobre uma duna”, com trabalhos inéditos em diversas mídias, reunidos em conjunto, como uma grande instalação pensada especialmente para ocupar a Sala Casa da Galeria Athena.
Bronze, sal, chumbo, betume e resíduos orgânicos são alguns exemplos de materiais utilizados pelo artista nos últimos anos, traduzidos aqui entre objetos e desenhos. Em sua pesquisa poética há um interesse particular sobre o tempo e a memória, numa aproximação com a ecologia, meio ambiente e a história, propondo uma reflexão sobre a transformação constante das coisas, dos lugares e como isso nos afeta e nos permite novas percepções.