A Pallas Editora amplia a sua conhecida Coleção Orixás com o lançamento de Ossaim — O senhor das folhas (296 páginas, R$ 52), de Rogério Athayde. O livro representa um acontecimento editorial raro: é o primeiro título inteiramente dedicado a Ossaim enquanto divindade — e não apenas às folhas associadas a ele, preenchendo uma lacuna histórica na literatura sobre as religiões de matriz africana no Brasil.
O livro será lançado na quarta, 4 de dezembro, às 19h, na Blooks Livraria, com bate-papo entre o autor e Luiz Rufino, seguido pelos autógrafos.
Embora Ossaim seja reconhecido como o guardião das folhas, da cura e do feitiço, a sua figura permanece envolta em silêncio e mistério. Todas as obras publicadas até agora sobre o tema abordam somente o poder das ervas e os seus usos litúrgicos, deixando o orixá em segundo plano. “Um livro sobre Ossaim. Mas já não havia livros sobre Ossaim? Não, não havia”, afirma Athayde já nas palavras iniciais do livro, sinalizando a importância de olhar para o orixá além da botânica sagrada.
No candomblé, a máxima kosi ewé, kosi orisá (“sem folha, não há orixá”) tornou Ossaim presença constante nos textos que tratam de liturgias, banhos, rezas e obrigações. Entretanto, as dimensões simbólicas, mitológicas e filosóficas do orixá — como as suas histórias, cores, objetos, comidas rituais e como se relaciona com outras divindades — nunca haviam sido reunidas e analisadas em profundidade.
É justamente essa travessia que o sobrinho-neto do imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL), Austregésilo de Athayde (1898-1993) propõe. Babalawo, professor universitário, escritor e doutor, Rogério conduz o leitor pela seara de Ossaim com precisão ritual e sensibilidade poética. O seu livro não pretende revelar o que a tradição guarda, mas apresentar fundamentos e aproximar o leitor da cosmologia iorubana que sustenta o orixá das folhas.
“Gente graúda, com anos e anos de pesquisa, já publicou excelente material sobre as folhas, seus usos medicinais e mágicos. O que é muito, muito importante, sem dúvida. Mas não é o que pretendo fazer aqui. Este será um livro sobre Ossaim, o que sabemos ou não sobre ele, o que dizem dele, as confusões feitas com seu nome, suas coisas e suas histórias", adianta Rogério na introdução de Ossaim — O senhor das folhas.
“Antes de entrar na mata é preciso pedir licença”, ensina Rogério no livro prefaciado por Renato Noguera, para quem “Rogério Athayde não fala somente sobre as folhas, mas sobre o intraduzível, sobre a errância dos nomes e sobre a pluralidade de sentidos que atravessam a divindade. Ossaim aparece aqui como mito, ideia, personagem, enigma – sempre cercado de mistério e reverência”.
Coleção histórica ganha novo fôlego
Com a chegada deste Ossaim e de Oxóssi, de Vagner Gonçalves da Silva e José Pedro da Silva Neto, também publicada neste final de 2025, a Coleção Orixás se encaminha para a reta final. Ela vem sendo publicada aos poucos pela Pallas Editora há mais de duas décadas e é referência na bibliografia afro-brasileira contemporânea.
Iniciada por nomes como Nei Lopes (Logunedé), Helena Theodoro (Iansã), Reginaldo Prandi (Ogum) e Armando Vallado (Iemanjá), e o supracitado Vagner Gonçalves da Silva (Exu) a coletânea de livrinhos se consolidou como espaço de divulgação qualificada de estudos, narrativas e reflexões sobre o panteão iorubano e as suas ramificações no Brasil.