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“Bombom”, disco proibidão de Rita Lee e Roberto de Carvalho, ganha edição especial
Da Redação em 21 de Agosto de 2024 Informar erro
"Oh, oh, Brasil/ Quem te vê e quem te viu/ Pra frente, pra frente/ que até caiu". Esse é o início de "Arrombou o cofre", canção que detonava a ditadura militar brasileira e uma das responsáveis por tornar "Bombom", disco de Rita Lee & Roberto de Carvalho, proibido para menores de 18 anos.Além do aviso da proibição, estampado na capa, a linha dura da censura fez com que o LP de 1983 viesse com um lacre. E a primeira tiragem chegou com as duas faixas vetadas, "Arrombou o cofre" e "Degustação", riscadas com lâmina, o que tornava a audição impossível.Agora, a Universal Music celebra o LP com uma reedição em vinil amarelo, translúcido e marmorizado. Toda a parte gráfica é original, com fotos e layout de Miro, com exceção do alerta de proibido para menores, que foi retirado da capa.Ao lado das proibidonas, o disco trouxe dois dos maiores hits do casal: "On the rocks" e "Desculpe o auê". A primeira é a preferida do casal no disco e uma das composições mais geniais da dupla Lee & Carvalho. O rockão, dos mais pesados de toda a carreira de Rita, traz um jogo com palavras em que ela brinca com o vício e com os boatos de que estava doente: "Meus amigos dizem que essa coisa vicia/ Andaram até jurando que era anorexia". "Desculpe o Auê", como conta a própria Rita, é um bilhete com um pedido de desculpas depois de um "ataque de ciúme improcedente" e que Roberto musicou. Passou a morar no imaginário coletivo e é um dos hit-assinatura da dupla."Tentação do Céu" tem vocal de Roberto em outro rock inspirado pelo amor do casal, assim como "Fissura". "Eu dou valor ao seu amor/ quando a gente transa/ Deve ser meu karma fissurado por você", canta Rita. Uau!As proibidas vêm a seguir: "Degustação" é um "hino à escatologia infantil", como descreve Rita. A canção, claro, não passou no aval dos censores. "Arrombou o Cofre" traz uma lista de críticas ao governo e aos desafetos políticos. Em um dos documentos da época, os censores reprovam: "(...) injúria direta, consistente na ridicularização de alguns personagens políticos" e, um pouco mais adiante, "(...) há nítida incitação à rebelião popular, o que é vedado (sic) constituindo infração à Lei de Segurança Nacional".O lado B abre com "Menino", outra que por pouco não acabou proibida por causa dos versos considerados quentes demais pela censura: "Eu te levo no bico, te ponho/ dentro do meu ninho/ Eu te pego, eu te pico, eu te como, uh-uh/ À la passarinho". A new wave "Strip Tease" - que descreve um caso de amor em pleno elevador, no qual o casal vai arrancando a roupa - vem a seguir. Logo depois, a belíssima "Raio X", que foi trilha da novela "Champagne". "Bobos da Corte" é uma daquelas incríveis letras à frente do tempo, na qual Rita trata de questões de gênero: "Eu vou puxar você/ pra perto de mim/ e dar um amasso daqueles/ Que não dá pra dizer/ Se ele é ela/ Ou se ela é ele". Também foi trilha de novela, "Partido Alto".A "reberde" "Pirarucu" é, segundo Rita, "uma meditação com sotaque caipira" sobre o Brasil. "Yoko Ono" fecha o LP, que foi produzido por Rita, Roberto e Max Pierre e gravado em Los Angeles com músicos internacionais, parte deles que havia trabalhado com Michael Jackson, como Michael Landau e Steve Lukather (da banda Toto). O percussionista brasileiro Paulinho da Costa, outro que havia gravado com Michael, também toca no disco.Sem censura, "Bombom" é uma delícia a ser consumida sem qualquer moderação. Viva Rita & Roberto!Por: Guilherme Samora, jornalista, editor e estudioso do legado cultural de Rita Lee
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