Em cópias digitais e legendadas, 10 das récitas exibidas integraram a temporada europeia recente e trazem diversidade na programação em montagens clássicas e releituras mais contemporâneas, tornando a atualidade lírica mundial acessível ao público brasileiro através da tela.
Uma récitas será dedicada à descoberta de um músico importantíssimo, Josef Myslivecek, compositor tcheco admirado por Mozart e prestigiado em toda a Itália no século XVIII, personagem infelizmente caído mais tarde no esquecimento. O filme-espetáculo Il Boemo reconstitui sua vida trágica e movimentada em um grande momento do cinema e da música, que teremos a honra de apresentar em avant-première com a presença do diretor Petr Vaclav, convidado para o festival.
A ópera francesa estará especialmente bem representada este ano. Uma Carmen espetacular, uma dessas superproduções das quais apenas Zeffirelli detém o segredo, que encontra nas Arenas de Verona seu palco ideal e em Elina Garanca uma intérprete impecável. Um Hamlet surpreendente, dominado pelos talentos de Ludovic Tézier e Lisette Oropesa, dois notáveis cantores e atores. Romeu e Julieta, de Gounod, ganha uma montagem grandiosa e inebriante, encenada por Thomas Jolly, o diretor que Paris escolheu para conceber o espetáculo de abertura das próximas Olimpíadas, com Elsa Dreisig e Benjamin Bernheim nos papéis-título.
E também a esfuziante obra-prima de Jacques Offenbach, La Vie Parisienne, apresentada pela primeira vez em sua versão original, com os figurinos extravagantes do estilista Christian Lacroix, que assina também a direção do espetáculo. E, enfim, para os amantes da dança, apresentaremos, em homenagem ao coreógrafo Maurice Béjart, uma série de três balés sobre composições de Stravinsky, Mahler e Ravel.
Como sempre, a Itália também estará presente com – apresentada pela primeira vez no festival – Il Trittico, de Puccini, espetáculo composto de três obras relativamente pouco conhecidas, porém marcantes, nas quais o público também poderá apreciar o encanto e o talento surpreendente da soprano Asmik Grigoria. E – é claro – o Scala de Milão, que nos oferece um Rigoletto tão sombrio como excepcional com, no papel-título, o excelente cantor mongol Amartüvshin Enkhbath, no papel do pai da doce Nadine Sierra, como uma comovente Gilda.
Enfim, last but not least, também a ópera alemã estará brilhando nas telas do Rio. Pela segunda vez desde a sua primeira edição, o Festival ousa apresentar a tetralogia de Wagner na sua forma integral, com Das Rheingold projetado ao ar livre e as três outras obras do ciclo sendo exibidas em salas de cinema do país. Uma produção da ópera de Berlim, numa encenação surpreendente do eterno provocador Dmitri Tcherniakov, sob a batuta de Christian Thieleman, que encarou o desafio de substituir Daniel Barenboim, missão da qual se desincumbiu com energia e brio.
A madrinha da edição de 2023 do Festival será a mezzo-soprano Eléonore Pancrazi, que virá especialmente da França para brindar nossos ouvidos com sua voz jovem e promissora num recital exclusivo.
Como sempre, o Festival segue dedicado à sua missão de democratização da ópera, com a organização da já célebre masterclass de canto lírico por Raphaël Sikorski e apresentação de diversas conferências gratuitas destinadas ao público adulto e às crianças das escolas. Agradecemos ao Theatro Municipal, ao Espaço Cultural Laura Alvim e aos cinemas do grupo Estação por acolher nossas atividades.