Parte do projeto Mulheres Em Cena: Corpo e Violência, Bonecas Quebradas é um processo colaborativo de construção de cena e dramaturgia, que se ampara em algumas fontes e referências, tais como: o conceito de cuerpo roto e de cuerpo sin duelo, apresentados por Ileana Diéguez Caballero em seus ensaios e palestras; a Isla de las Muñecas, na cidade do México, com suas imagens e lendas; bem como o conceito de objects-trouvés, de Tadeusz Kantor, com os qual as bonecas encontradas nos canais de Xochitlmilco (México) parecem dialogar.
O conceito de cuerpo roto, apresentado por Diéguez, trata de um conjunto de alegorias e representações, e de sua extensão em relação à dimensão da ausência, mais do que das implicações do ser morto. Trata de uma investigação do fragmento-rastro, daquilo que conta uma história de despedaçamento, de violência impingida. Em sua obra Cuerpos sin duelo: yconografias y teatralidades del dolor, a autora desenvolve o conceito acima, apresentando exemplos de obras artísticas que partem deste paradigma temático e lançam a ausência, o luto, os desaparecimentos da América Latina, como tema e paradoxo para as Artes da Cena, estas, fundamentalmente estruturadas a partir da presença do corpo.
Os rumos do projeto foram se delineando melhor e cercando com uma maior precisão a história dos feminicídios quando foi assinado o Acordo de Livre Comércio com os EUA (NAFTA). Desde 1994, são mais de 4.000 mulheres desaparecidas e mais de 2.000 mortas em Ciudad Juarez. Todos os crimes seguem o mesmo padrão: sequestro, violência sexual, morte por asfixia, perfurações corporais, esquartejamento e desaparecimento dos cadáveres. Poucos corpos são encontrados (por empreendimento particular, por parte dos parentes das jovens, muitas vezes). Quando localizados, geralmente em um período de tempo muito grande após o assassinato, encontram-se em um estado que impossibilita a investigação minuciosa. Sabe-se, por investigações de grupos independentes, que os culpados dos assassinatos em Juarez são homens muito poderosos, que continuam soltos, corrompendo o judiciário e ramificando-se pelos demais poderes estatais do país. Delegados e promotores buscam os chamados “bodes expiatórios” - quase sempre parentes das vítimas - num esforço para enquadrar tais homicídios na ordem da chamada “violência doméstica” ou dos “crimes passionais”.
Encenação: Verônica Fabrini
Dramaturgia de processo: Isa Kopelman, Lígia Tourinho, Luciana Mitkiewicz e Verônica Fabrini
Dramaturgo convidado: João das Neves
Realização: Bonecas Quebradas Teatro
Elenco: Ilea Ferraz, Lígia Tourinho e Luciana Mitkiewicz
Direção musical: Silas Oliveira