Laura, espetáculo solo criado e interpretado por Fabrício Moser, faz temporada comemorativa em novembro, na Sala Murilo Miranda do Teatro Glauce Rocha. O solo biográfico, completa dez anos de sua estreia.
A peça surgiu a partir de uma experiência íntima e dolorosa do autor: o assassinato de sua avó materna, em 1982, em Cruz Alta — Rio Grande do Sul. O projeto conta com apoio do Programa Funarte Aberta.
A partir de depoimentos, sons, fotografias, vídeos, documentos e objetos, o artista reconstrói fragmentos da vida de Laura, atravessando memórias íntimas e coletivas.
Em cena, Fabrício rememora a figura de sua avó — não para construir uma biografia linear, mas para abrir um espaço de escuta e invenção, onde lembranças e silêncios ganham corpo e voz. A montagem, de forte dimensão poética e afetiva, transforma ausência em presença; tragédia em encontro; e uma história silenciada em um ato compartilhado.
Rodas de conversa com o público, sobre a obra e sua temática, ocorrem às quintas-feiras, logo após as sessões, com pessoas convidadas, de diferentes áreas do conhecimento e profissionais.
Entrevistas e pesquisa de documentos e objetos
Para criar o texto, Moser realizou um trabalho de pesquisa extenso. Este envolveu entrevistas com familiares e conhecidos; visitas a lugares que fizeram parte da vida de Laura; e um levantamento das fotos, documentos e objetos pessoais — inclusive o inquérito policial e recortes de jornais da época.
Esses itens, combinados a elementos simbólicos — como a moldura de uma fotografia, transformada em espelho; cartas; rosas; e sons — são incorporados à cena, como dispositivos de dramaturgia e performance.
Artes integradas
O solo articula diversas linguagens — teatro, performance, artes visuais, dança, vídeo e narração — para compor uma tessitura poética não linear. Em vez de seguir uma biografia tradicional, a obra abre um campo de escuta e invenção, no qual o ator se coloca como mediador entre uma história silenciada e o público.
A cena torna-se, assim, uma travessia pessoal e coletiva; e um espaço de invenção e de reencontro com a memória.
A obra estabelece um diálogo profundo entre memória, ancestralidade, silêncio e presença. Propõe um encontro sensível entre artista e público, a partir de um enredo real, marcado por violência e apagamento histórico. Reafirma seu caráter intimista e sua relevância artística, ao transformar uma experiência biográfica em dramaturgia contemporânea.
Na construção dramatúrgica, o artista reflete sobre a relação entre memória pessoal e história coletiva; e sobre como as marcas do passado se inscrevem nos corpos e podem ser ressignificadas em cena.
A criação parte da ideia de que a arte permite ao espectador mergulhar no significado mais profundo dos fenômenos representados, valorizando as associações poéticas, em lugar de uma narrativa linear e rígida.
Em cena, Fabrício aciona lembranças, vestígios, arquivos e afetos para reconstruir e ao mesmo tempo inventar — a presença de Laura. O público é convidado a participar dessa jornada, ativando seus próprios repertórios de memória e experiência.
A dramaturgia do espetáculo se ancora também na reflexão sobre os modos como a memória é guardada, transformada e transmitida. A peça se insere em uma linhagem de experiências cênicas que utilizam materiais autobiográficos como eixo poético, revelando o corpo do intérprete como um espaço de escuta e de inscrição de histórias.
Além disso, adota uma lógica associativa e imagética que privilegia atmosferas, objetos e fragmentos — permitindo ao espectador atravessar o espetáculo de maneira sensorial e reflexiva.
Rodas de conversa
Com convidadas e convidados de diferentes áreas, e de formato aberto, as rodas de conversa das quintas-feiras, após as sessões tem mediação do artista. Os(as) participantes se distribuem em duplas, uma a cada dia.
Sobre o artista
Fabrício Moser é ator, diretor, professor e pesquisador. Doutor em Artes Cênicas pela USP (2025), mestre pela UNIRIO (2011) e bacharel pela UFSM (2006). Vive no Rio de Janeiro desde 2009. Tem ampla atuação artística e acadêmica, especialmente no campo do teatro autobiográfico, documental e acessível. Com os solos Laura (2015) e Aquilo que acontece entre Nascer e Morrer (2019), além do duo Sobre Desvios (2012), circulou por diversas cidades, do Brasil e do exterior — incluindo Argentina, Uruguai, Portugal e Espanha. Teve trabalhos analisados em publicações acadêmicas e revistas especializadas, como Questão de Crítica, Pós (UFMG) e Sala Preta (USP). Atua também como docente de pós-graduação, no país e fora dele; coordena cursos de artes aplicadas à saúde e à educação; e desenvolve pesquisas sobre teatro, neurodiversidade, processos criativos e acessibilidade. Participou, ainda, de em festivais, júris, programas de fomento e atividades de formação em diversas instituições de cultura, nacionais e internacionais.
Classificação indicativa: 14 anos
Duração: 1h
Rodas de Conversa
- 6/11 – Ana Paula Brasil e Nathália Mello
- 13/11 – Gabriela Lírio e Gabriel Morais
- 20/11 – Cadu Cinelli e Cassiana Lima Cardoso
- 27/11 – Francisco Taunay e Rafael Cal
Criação, atuação e produção: Fabrício Moser
Colaboração artística: Ana Paula Brasil, Cadu Cinelli, Gabriela Lírio, Francisco Taunay, Nathália Mello e Rafael Cal
Apoio: Programa Funarte Aberta