O cachorro que se recusou a morrer, é um drama bem humorado, fruto da memória afetiva do ator-autor Samir Murad (o Dr. Silvério da novela Terra e Paixão), filho de imigrantes libaneses.
A história mistura tempos e espaços, tocando uma dimensão onírica do real.deriva de suas memórias e das histórias contadas por seu pai: um imigrante libanês em sua luta pela sobrevivência numa terra estranha.
Conflito, êxodo, o novo mundo, casamento por encomenda, saúde mental afetada, são conteúdos que, como um mascate andarilho, o ator mambembe carrega em sua mala e que pretende vender ao seu público. Dessas referências nasce um contato intimista e revelador entre artista, teatro e espectador.
Um casamento por encomenda e uma tríade formada pelo pai, a mãe e a irmã mais velha, afetada mentalmente (inclusive por internações) pelo casamento sem amor dos pais. Marcas que não desvanecem e perpassam por toda a relação familiar do autor-ator, extraídas não apenas de suas memórias, mas de relatos gravados por seu próprio pai antes de falecer.
Conflitos que estão em cada um de nós e ajudarão a resgatar sentimentos no público, por meio de recursos cênicos despojados, apoiados principalmente pelo trabalho de corpo e voz do ator. Assim o texto oscila entre o drama e o humor, trazendo à cena uma cultura machista, forjada em dogmas religiosos que até hoje permeiam a maioria dos lares brasileiros.
Em alguns momentos, projeções mesclam imagens criadas com fotos reais antigas, assim como da casa onde tudo se passou, o que acentua o clima dos escombros da memória. A forte presença da trilha sonora, marca a cultura árabe familiar. Não faltam ao espetáculo os gestos, a mímica e as pantomimas que emprestam emoção à palavra.
Criação, texto e atuação: Samir Murad
Direção: Delson Antunes e Samir Murad
Cenografia: José Dias
Figurino e adereços: Karlla de Luca
Iluminação: Thales Coutinho
Trilha Sonora: André Poyart e Samir Murad
Videocenário: Mayara Ferreira