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Alfredinho: Sou católico praticante e socialista
Da Redação em 03 de Maio de 2016 Informar erro
Alfredo Jacinto Melo, o Alfredinho do Bar Bip Bip, sintetiza a alma carioca. Nascido no subúrbio de Santa Cruz, quando jovem estudou direito, abandonou e depois foi trabalhar com importação chegando a ter 22 funcionários até os anos 80. Ao contrário do que muitos pensam não foi fundador do Bip Bip, ele comprou o bar em 1984. Mas foi com ele que o local virou referência em samba e choro na Zona Sul do Rio de Janeiro e local preferido por gente de esquerda, jovens, intelectuais, músicos.Em entrevista ao Bafafá, Alfredinho demonstra que seu “mal humor” é muito mais ficção do que realidade pela simpatia e cordialidade. Com tiradas ácidas, marca de sua personalidade, fala sobre vários temas: primórdios do Bip Bip, política, música e os projetos sociais que coordena. Entre eles, a doação de 42 cestas básicas por mês para famílias pobres. “A minha utopia é que todo empresário impedisse que tivesse tantos pobres como hoje. A vida é curta, para que segurar tanto dinheiro?” Sobre o bar que dirige há 30 anos, não titubeia: “O segredo do Bip Bip é amizade e boa música”.
Confere que estudou direito?
Sim, até o terceiro ano. Desisti porque tinha muito burro na minha sala querendo chegar a delegado.
Como foi a decisão de realizar rodas de samba no bar?
A Cristina Buarque morava aqui do lado e frequentava o bar, chegando inclusive a me ajudar financeiramente. Ela e o Elton Medeiros, timidamente, aos domingos, começaram a fazer música. Ai o pessoal foi chegando, chegando. Por aqui passaram os maiores músicos de samba do país. Nunca paguei cachê. Seu pagasse acabava o Bip Bip. Primeiro que não posso cobrar de ninguém porque o espaço é aberto. Na Zona Sul o Bip Bip foi pioneiro em tocar samba. Não tem nenhuma casa como a nossa no Rio de Janeiro. O Bip acolhe sempre jovens em rodas de samba e choro. Essa garotada do Bip é de grande dignidade. Você não vê moleque no meio dela. Moleque aqui não se cria, vai procurar outro lugar.
O Bip Bip é apontado como a “Embaixada do Samba” no Rio?
Realizamos vários lançamentos de livros e CDs, shows e debates aos sábados sobre temas de interesse. O segredo do Bip Bip é amizade e boa música. Tem muita gente que gosta até do meu esporro (riso). Vem para cá para tomar esporro. Mas, eu não sou mal humorado, eu fingo. É que se tu abre a retaguarda, é uma chatice. Tem hora que tu tem que se fechar, não é possível.
Como está vendo a conjuntura política?
A direita quer um 3º turno que não vai ter. Ela está querendo sacanear a Dilma para o sapo barbudo não vir em 2018. Foi horrível ver o Aécio durante a campanha xingando a Dilma. O que é isso? Uma falta de respeito. Em momento algum ele respeitou a presidente. Hoje o maior partido de direita no Brasil é a mídia. Acho que o Brasil vai melhorar muito com o Pré-Sal.
E a conjuntura internacional?
Novos movimentos estão acontecendo na Grécia e na Espanha. Na França que é uma tristeza, né?
Como são seus projetos sociais?
Distribuo 42 cestas básicas por mês para famílias carentes. Para não ter atropelos marco hora, assim faço a distribuição tranquilo. Para comprar as cestas eu corro o chapéu, vendo livros, mas só isso não dá. Papai do céu tem me ajudado, pois tem sobrado dinheiro para completar. Casa cesta que eu dou custa R$ 140. Nós doamos também remédios. Para ajudar é simples. Na entrada do Bip Bip tem um latão para depositar o dinheiro. Pode ser qualquer valor.
Como são os debates que promove no Bip Bip?
Aos sábados promovemos debates. Chamo até gente de direita, mas ela não vem.
O que acha do Papa?
Esse Papa é um Papão! Eu me arrependo de não ter ido vê-lo quando esteve aqui. Esse homem vai mudar a história. Se não o matarem. O que ele está fazendo no Vaticano! Outro que eu admirava era Dom Helder Câmara. Pessoa digna.
Você tem religião?
Sou católico praticante e socialista. O irmão da minha mãe foi cônego e minha tia freira no Uruguai.
Como resume o Rio de Janeiro?
Será que nós que viemos do subúrbio amamos mais o Rio de Janeiros que nossos governantes? Vou dar um exemplo aqui perto do Bip Bip. O restaurante Alcazar foi à falência. Não podia o poder público deixar de cobrar ICMS e outras taxas para evitar o fechamento? Estaríamos salvando uma relíquia do Rio de Janeiro. A verdade é que hoje para andar no Rio você está arriscado a cair. As ruas todas esburacadas. Me lembra o Fausto Wolff que falava: “Alfredo, o Rio está fedendo a merda”.
E a violência?
As favelas continuam sendo sacrificadas. Nós no asfalto não sofremos nada, só um roubinho aqui e ali.
Qual é seu conceito de vida?
Ser honesto em tudo na vida.
Você tem alguma utopia?
A minha utopia é que todo empresário impedisse que tivesse tantos pobres como hoje. A vida é curta, para que segurar tanto dinheiro? Tem que pensar no ser humano como um todo. Temos que torcer que o nosso país vá para frente. Eu sempre digo: amar o próximo é tão fácil. Se nos amássemos não teria racismo, preconceito. Cada um faz o que quer com sua vida, não é verdade? O papa falou uma vez: você já viu enterro com caminhão de dinheiro?
Maio 2015
Entrevista concedida ao editor do Bafafá Ricardo Rabelo
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