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  • Hamilton de Holanda: “O bandolim me escolheu”

    Agenda Bafafá em 08 de Maio de 2016    Informar erro
    Hamilton de Holanda: “O bandolim me escolheu”

    O carioca Hamilton de Holanda é o bandolinista mais cultuado do Brasil. Começou a tocar o instrumento com apenas cinco anos de idade e nunca mais parou. Nascido em 1977, mudou-se dez anos depois para Brasília de onde conquistou o país e o mundo. Intérprete de choro por excelência passeia ainda pelo jazz, samba, rock e lundu, entre outros estilos. O artista foi indicado para o Latin Grammy em 2007/2008/2010 com o melhor disco instrumental e tem como diferencial ter acrescentado duas cordas ao instrumento, maximizando a sua sonoridade. Hamilton já dividiu o palco com importantes músicos do cenário nacional e mundial, entre eles, Maria Bethânia, João Bosco, Seu Jorge e os integrantes do Buena Vista Social Club.

    Em entrevista ao Bafafá, Hamilton de Holanda fala sobre a infância, juventude, a introdução à música, fontes musicais e utopias: “Gostaria de ver o fim da guerra, da bomba atômica e de tudo aquilo que produz morte e tristeza pela violência, pela luta de poder. E também gostaria de ver um mundo onde não houvesse fome e miséria”. Ele revela também que o bandolim foi um presente do avô: “Foi amor imediato. Na verdade eu acho que ele me deu a chave do meu futuro”, segreda o artista. Como foram sua infância e juventude? Com muita música e muito amor dos meus familiares e de meus amigos. Tenho uma lembrança muito boa de minha infância, brincando, tocando, estudando, só alegria. Quando descobriu a vocação pela música? Meu pai que descobriu e incentivou. Tenho lembranças da sensação de tocar, do prazer de fazer música, antes de ler e escrever. Acho que eu já cantava na barriga da minha mãe. Estudou música? Estudei sim. Quando criança, tocava bandolim. Em Brasília não tinha professor, aí fui estudar violino, que tem a mesma afinação. Foi fundamental pra minha técnica ter estudado violino por cinco anos. Depois estudei violão pra aprender um pouco de harmonia. Tudo que eu aprendia, aplicava no bandolim. Depois, no período universitário, estudei composição na UnB. Sou bacharel em composição. Sempre estive ligado ao estudo formal da música. Mas com certeza, a base de tudo foi o aprendizado informal em rodas de choro. O bandolim surgiu desde cedo? O bandolim foi um presente de meu avô quando eu tinha cinco anos de idade. Foi amor imediato. Na verdade eu acho que meu avô me deu a chave do meu futuro, mas ele não sabia disso. Depois de muito tempo fui procurar saber porque ele escolheu o bandolim como presente. Até hoje não tenho a resposta. Prefiro aceitar que o bandolim me escolheu. Não imagino minha vida sem esse instrumento tão difícil e tão maravilhoso. Qual é seu estilo? Estilo HH. A base é o choro feito com bandolim. É uma música que presta reverência ao passado, mas não desliga do tempo, do que está acontecendo no momento. Tem jazz, tem samba. É música pra sorrir e pra chorar. A técnica instrumental também é um elemento fundamental na minha música. E as melodias, se eu não gostar, se não forem boas, não toco. Tem que emocionar. Você chegou a morar fora? Morei um ano em Paris. Ganhei o Prêmio Icatu de Artes aqui no Rio, em 2001. Morei entre 2002 e 2003. Foi um divisor de águas em minha vida. De que fonte musical você bebe? As fontes que mais bebo : Pixinguinha, Bach, Villa-Lobos, Jacob, Tom Jobim, Hermeto Pascoal, Egberto Gismonti, Milton Nascimento e Baden Powell. Gosto muito também de música clássica, de jazz e de música flamenca. O que destaca da música brasileira hoje? O Brasil é um celeiro de talentos, temos vários compositores, cantores, instrumentistas fazendo coisa muito boa por aí. Destaco três músicos brasilienses : Pedro Martins, Pedro Vasconcellos e Rafael dos Anjos. Do cenário mais pop gosto da Ellen Oléria e do Emicida. Concorda da diferenciação MPB e Samba? Pra mim MPB é uma sigla que me remete à música feita por Caetano Veloso, Gilberto Gil, Milton Nascimento, Chico Buarque, Ivan Lins, João Bosco, Djavan. E todos que de alguma maneira seguiram esse caminho. Samba foi feito por Cartola, Ataulfo Alves, Geraldo Pereira, Nelson Cavaquinho, Beth Carvalho e tantos outros. Samba também é um ritmo, além de ser um gênero. Os compositores da chamada MPB se utilizam de vários ritmos pra se expressar, inclusive o samba. Mas, no final, música é uma coisa só. E a música brasileira é muito generosa. Porque as gravadores estão perdendo espaço? Internet. Acha que algum novo estilo musical pode surgir no Brasil? Sempre, o Brasil é o país que tem mais ritmos diferentes. Isso porque os talentos aqui brotam até no asfalto e a capacidade do brasileiro de fazer uma boa mistura e daí nascer uma manifestação original é muito grande! Quais são seus projetos? Meu projeto de vida é ver minha família e meus amigos bem e poder sempre colaborar para um mundo melhor. Fazer música sem parar, compor, viajar, tocar, gravar… Agora estou envolvido em alguns projetos diferentes: Hamilton de Holanda Trio, Os Caprichos para bandolim, o Baile do Almeidinha e o disco Mundo de Pixinguinha, que é um projeto do Natura Musical em que homenageio nosso grande mestre. Além de shows e concertos pelo Brasil e pelo mundo. Tem alguma utopia? Não sei se é utopia, mas eu gostaria de ver o fim da guerra, da bomba atômica e de tudo aquilo que produz morte e tristeza pela violência, pela luta de poder. E também gostaria de ver um mundo onde não houvesse fome e miséria. O ser humano tem de ter o direito de gozar a vida com tudo de bom que ela pode oferecer.

    Abril 2013



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