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  • Jandira Feghali: Dilma é honesta

    Da Redação em 03 de Maio de 2016    Informar erro
    Jandira Feghali: Dilma é honesta

    Jandira Feghali é uma das deputadas mais influentes do Congresso. Médica por formação e mãe de dois filhos, exerce o mandato desde 1990, eleita sucessivamente pelo PCdoB. Começou a atividade política em 1983, no cargo de presidente da Associação Nacional dos Médicos Residentes, função que deixou para dirigir o Sindicato dos Médicos no ano seguinte. Em 1986, elegeu-se deputada estadual, exercendo o mandato até 1991. Na Câmara, teve importante atuação como relatora do projeto de lei do poder executivo que cria mecanismos para coibir a violência doméstica contra a mulher, a lei Maria da Penha. A redação final é fruto do parecer apresentado por Jandira na comissão de mérito.

    Em entrevista ao Bafafá, Jandira defende enfaticamente o governo Dilma, a ordem constitucional e critica a atuação do judiciário e da grande mídia. “É preciso focar nas provas e não fazer disso um estardalhaço contra o PT, o Lula e a própria esquerda”, salienta. Para a deputada, o impeachment de Dilma não será aprovado, ao contrário da cassação do deputado Eduardo Cunha. “Por mais que protele, acho que na hora que for votada a cassação ele não escapa”. Para a retomada do crescimento, propõe uma reforma tributária progressiva, redução dos juros, redução de jornada de trabalho para gerar novos empregos, destravar os investimentos, principalmente dos bancos públicos. “É preciso dar a volta por cima para fazer o País crescer, dar um rumo correto e estratégico à economia”.

    Você acredita que existe uma ação orquestrada para derrubar o governo Dilma?

    Essa orquestração ficou muito nítida depois do resultado das eleições. Imediatamente a oposição começou a articular com o Judiciário com esta finalidade. Em vários casos, tiraram a toga e se juntaram aos tucanos contra Dilma. Isto está gerando uma overdose de manipulação e perseguição e vai ficando claro que o objetivo é atingir o Lula. Um triplex que nunca foi dele, eles não deixam de dizer que foi. Um sítio que não é dele, mas acham que pode ser. Com uma narrativa permanente para gerar no povo a dúvida e inviabilizar movimento de mobilização em seu favor. Eles têm medo do projeto que Lula representa e seu potencial em 2018. Agora chegam ao ponto de pedirem a cassação do registro do PT. Estão tentando gerar provas que nada têm a ver com a Dilma dentro do TSE. Tem ainda aquele promotor de São Paulo que usurpou o papel da primeira relatoria para citar o Lula como investigado. É um jogo que mexe com muitos instrumentos para interromper, sangrar e atingir o Lula.

    A mídia é fator de desestabilização no país?

    Com certeza. Ela integra o que chamo de consórcio organizado, cuja narrativa é o massacre midiático. Por mais que se mostre a corrupção nos governos do PSDB, o povo é induzido à dúvida.

    A presidente Dilma é corrupta?

    De jeito nenhum. É uma mulher honesta, nada de imoral pesa sobre ela.

    Como está vendo o processo de impeachment da presidente? Tem alguma chance de ela perder o cargo?

    Não vejo nenhuma chance de o impeachment passar no Congresso. Essa articulação PSDB-DEM-Cunha apostou nessa possibilidade, manobrou contra a lei e a Constituição, perdeu no Supremo. Agora atrasa o procedimento para ganhar tempo, inclusive descumprindo decisão do STF. Apesar de não gostar, tivemos que judicializar para barrar as manobras. Agora eles têm que cumprir as exigências do Supremo, eleger a comissão e dar procedimento ao processo. Acho que ele não será aprovado na Câmara e sequer irá para o Senado.

    Enquanto isso o país está parado?

    Pois é. O Congresso Nacional ficou o ano inteiro debatendo uma pauta extremamente regressiva e depois voltou todas as suas energias para a questão democrática, para impedir a ruptura democrática no Brasil. Temas importantes como saúde, economia, cultura, foram relegados. Ficamos amarrados numa discussão que não é central hoje no Brasil. Cria-se o rito para depois criar o fato. Essa inversão é inaceitável.

    E o processo de cassação do deputado Eduardo Cunha?

    Na Câmara você tem a ação pela renúncia e a cassação. Mesmo que renuncie será julgado, pois já foi instaurado o processo. O regimento da casa não prevê impeachment do cargo, por isso a saída dele hoje está nas mãos do Supremo. Enquanto for presidente da Câmara vai manobrar. Ele já fez o Conselho de Ética voltar à estaca zero duas vezes. Por mais que protele, acho que na hora que for votada a cassação ele não escapa.

    E a recente perseguição ao ex-presidente Lula?

    Isso é medo de urna. Eles querem fazer uma eleição por WO, sem adversários. Estão tentando desconstruir a imagem do Lula, pois ele é o mais forte nome para 2018. Querem tirar a esquerda do páreo. Precisamos reagir com muita força. Qualquer silêncio, omissão, é um desastre para a esquerda brasileira neste momento.

    Como viu o pedido de prisão do publicitário João Santana?

    Considero incompreensível. É uma manobra que tem por objetivo trazer Dilma e Lula para o centro do problema. É que não estão dando certo nas manobras do impeachment e do TSE. Agora vem esse pedido de prisão preventiva de um profissional que foi contratado para fazer um serviço. Vejo isso como uma necessidade política de envolver as campanhas de Dilma e Lula.

    Afinal, nesta denúncia da Lava Jato quem eram os protagonistas da corrupção?

    São poucos os petistas denunciados. O próprio Renato Duque não foi indicado na Petrobras pelo PT. Acho que eles não podem incriminar o conjunto do partido e muito menos prejudicar a empresa, fundamental para o desenvolvimento nacional. Ela tem uma cadeia de produção imensa que gera emprego e renda no país inteiro. Esse “petrolão” precisa ser investigado e os corruptos punidos. É preciso focar nas provas e não fazer disso um estardalhaço contra o PT, o Lula e a própria esquerda.

    Para onde caminha o país?

    É uma boa pergunta porque traz para nós um aspecto que precisamos questionar. O Brasil tem um potencial enorme, mas precisamos saber que país queremos? Que ele seja apenas exportador de commodities? Ou um país desenvolvido tecnologicamente? Com políticas sociais robustas? Com uma política monetária diferente das neo-liberais? Essa decisão política precisa ser tomada pelo governo. Acho ruim a proposta do ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, de reforma da Previdência. Ela não é correta do ponto de vista do conteúdo, como não é do ponto de vista político. A base social que sustenta a Dilma não quer essa reforma. Da mesma forma a reforma fiscal. Só prevê corte de gastos. Não há inversão na apuração de receita de grandes fortunas, heranças, bancos, juros sobre capital, imposto territorial rural, dívida ativa. É preciso de ir para cima de quem tem! A linha de Barbosa está muito próxima do ajuste fiscal. Essa não é a nossa pauta. Temos que parar de olhar só para corte de gastos. É preciso uma reforma tributária progressiva, redução dos juros, redução de jornada de trabalho para gerar novos empregos, destravar os investimentos, principalmente dos bancos públicos. Além disso, é preciso ampliar os recursos em saúde e manter claramente uma política de combate à intolerância. Temos uma pauta progressista e o governo precisa incorporar essa pauta. Não podemos aceitar autonomia do Banco Central, vender ativos da Petrobras e muito menos alterar o modelo de partilha com a Petrobras como operadora única. Não podemos admitir alguns projetos da Agenda Brasil no Senado tenham viabilidade. Como, por exemplo, limitar o endividamento público. Sabe o que é isso? Engessar a economia, impedir de dar crédito ao trabalhador.

    A estabilidade política é necessária também?

    Com certeza, sem ela ninguém quer investir. Ninguém sabe o que pode acontecer.

    Mesmo com a drástica desvalorização do Real com relação às moedas fortes, como explicar que a indústria brasileira não aproveita essa oportunidade para elevar o volume de suas exportações?

    Alguns setores têm exportado bastante. O problema é que a liquidez internacional não é boa para comprar. Temos que focar estrategicamente alguns mercados para que as exportações aconteçam. O problema do mercado interno é que me preocupa. Importar também ficou caro e os insumos aumentam como os farmacêuticos. Temos ainda dependência de insumos importados.

    Não lhe parece que esta orquestração da grande mídia e de políticos conservadores contra a Petrobras é muito mais pelo controle que ela tem do petróleo brasileiro do que pelo problema da corrupção?

    Não tenha dúvida. A questão é geopolítica, com interesses norte-americanos muito nítidos. O controle de parte da Petrobras por empresas estrangeiras ou o fato de abrir o pré-sal para outros, é uma problema grave de geopolítica. Pois isso faz parte da estratégia de desenvolvimento do país.

    A propósito das questões acima, queremos saber como a senhora encara essas movimentações todas em torno do pré-sal, lembrando que existe já um projeto do senador José Serra ampliando a participação de grupos privados na exploração daquela área vital para a economia brasileira. A Shell, aliás, através de seu presidente internacional, já disse que sua empresa está pronta para ampliar a participação no negócio do pré-sal.

    No mesmo dia que a Shell disse isso, o Senado passava a visão de que o projeto da partilha do pré-sal ia ser aprovado. Em conversas com alguns senadores progressistas, eles garantiram que está bem articulada a derrota da partilha. Na Câmara, existe um outro projeto pior: acabando o regime de partilha e voltando ao regime de concessão. O petróleo passaria a ser de quem tem a concessão. Isso seria como andar para trás, nós precisamos olhar para frente. É a partir do petróleo que teremos dinheiro para a saúde, educação.

    Acha que Dilma consegue dar a volta por cima?

    Em relação ao impeachment eu acho que sim. Mas, é preciso alinhar melhor o projeto que foi eleito com as políticas que a Fazenda vai anunciar. Primeiramente, acho a questão central é preservar a democracia. Dar a volta por cima também é fazer o país crescer, dar um rumo correto, estratégico. E não submetido a uma política de gastos e cortes. Afinal, não podemos fazer a política que a oposição quer que façamos. Paz institucional e social também é dar a volta por cima. Os movimentos sociais têm participação fundamental nisso. É preciso elevar o tom da demanda, ir para às ruas, para Dilma aplicar os projetos que sempre defendeu.

    O PMDB é fundamental para governar?

    No Congresso, sim. É uma bancada de 69 deputados. Sem ele, o governo não tem estabilidade no parlamento.

    Qual é a mensagem que você daria para a sociedade brasileira?

    Primeiro, é preciso acreditar na política. Se os políticos não são bons, troquemos eles. Não há democracia sem partidos e políticas sem partidos e democracia. A sociedade tem que ser proativa, participando, dando opinião. Quem for contra que ganhe no voto em 2018.

    Existe alguma possibilidade de uma candidatura unitária de esquerda para a Prefeitura do Rio?

    Estamos trabalhando para isso. Por enquanto, a discussão não deve ser em torno de nomes, mas de projetos.

    Você tem alguma utopia?

    Quero que as pessoas sejam felizes. A gente não defende o socialismo por uma questão dogmática. Simplesmente acha que o capitalismo nunca foi um modelo de sociedade de igualdade e de possibilidades para todos. A minha utopia é ver as pessoas bem, podendo definir o seu destino. Uma sociedade harmônica, humana, em que a felicidade seja uma realidade para todos.

    Fevereiro 2016, entrevista concedida ao editor do Bafafá Ricardo Rabelo.



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