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  • Luiz Carlos da Vila: A minha história com escola de samba já passou

    Agenda Bafafá em 23 de Maio de 2016    Informar erro
    Luiz Carlos da Vila: A minha história com escola de samba já passou

    Carioca, nascido em Ramos no dia 25 de julho de 1949 e criado na Vila da Penha, Luiz Carlos da Vila teve o primeiro contato com a música aos oito anos, tocando acordeom. Aos 15 anos, aprendeu violão e nunca mais largou, já que descobriu que ele era muito mais companheiro do samba. Na década de 70, participava das famosas rodas do Cacique de Ramos, onde dividia espaço com Jorge Aragão e Zeca Pagodinho. Com seis discos próprios, 250 gravados por outros cantores, além de quase 500 sambas autorais, Luiz Carlos da Vila foi um dos compositores do samba-enredo “Kizomba, A Festa da Raça”, que deu à Vila Isabel o seu primeiro título em 1998. Afastado desde essa época das escolas de samba, prefere investir na carreira profissional realizando shows em todo o Brasil e no exterior. “Minha carreira como sambista não está atrelada à escola de samba, como nunca foi. Prefiro sair na escola para me divertir”, assegura o artista.

    Como foram a sua infância e juventude? Nasci e fui criado em Ramos. O bairro, assim como a Vila da Penha, são emblemas da minha vida. Na casa dos meus avós com quem morava, tinha sempre muita festa e música. Com a minha tia Neli aprendi os primeiros acordes no acordeom e comecei a compor tocando este instrumento que é mais usado no baião, bolero e valsa do que no samba. Até os 15 anos, quando descobri o violão, cheguei a tocar em festas e eventos. O Ney Lopes era meu vizinho no Irajá e uma vez toquei acordeom numa festa lá (riso). Eu passei para o violão porque via as pessoas e gostava, além de que ele era muito mais companheiro do samba do que o acordeom.

    Quando de fato despertou para a música? Ainda menino, já frequentava as concentrações das escolas de samba na Candelária, quando o desfile era na Av. Presidente Vargas. Isso foi uma verdadeira “escola de samba” para mim. É incrível como isso ficou marcado na minha vida. Já tinha noção de que a música era o que queria.

    Sambista naquela época era descriminado, né? A discriminação do sambista existe até hoje. Até o Nelson Sargento e a Velha Guarda da Portela foram barrados recentemente num desfile da Portela na Sapucaí.

    E as rádios? Que emissoras tocam samba como tocam outros gêneros de música? Nos horários chamados nobres você não escuta samba. Tem algumas rádios que dizem claramente que não tocam samba. Com toda a descriminação, com todo o boicote, ele sempre esteve na crista. O que acontece é que as rádios seguem o modismo. Depois que acaba, ele volta naturalmente com força (riso), pois o samba é o cartão postal do Brasil, em todas as épocas. Eu não tenho pessoalmente muita queixa, pois encontro bastante espaço na mídia, principalmente na impressa. Graças a Deus, a minha obra, desde que gravei o meu primeiro samba em 1978, tem se tornado bastante conhecido. Mas, como um todo, o samba foi e continua descriminado.

    Como você vê essa rapaziada nova tocando samba? Isso me estimula, pois ela canta meus trabalhos e de outros contemporâneos. Os jovens estão dando continuidade a uma coisa que está aí para quem quiser ver e ouvir. Viajo pelo Brasil inteiro e vejo muitos jovens cantando samba em São Paulo, Belo Horizonte e até no Rio Grande do Sul. Isso está trazendo resultados bastante expressivos e deixa claro que o samba é o samba. O que falta é uma força da mídia. Nós somos uma nação de sambistas.

    Quantas músicas você gravou e compôs? Eu calculo entre 200 a 250 sambas gravados e pelo menos o dobro disso de minha autoria, inclusive os que nunca foram gravados. É mais difícil compor ou fazer um música? A música se divide em três partes: harmonia, melodia e ritmo. Tem sambista que faz melodia que outro põe letra. Às vezes, o contrário. Algumas vezes, o compositor faz tudo (riso). Que tem talento para compor está habilitado para fazer tudo. Eu gosto muito do exercício de compor letras para melodias de outros.

    Qual é a fonte de inspiração do sambista? É a vida, nela valem os vários momentos que dão inspiração a cada um. A mulher sempre é inspiração, assim como o amor, o céu, o tempo. O amor talvez seja a espinha dorsal. Como está a carreira atualmente? Estou com agenda cheia, viajando por todo o País e até no exterior, já me apresentei na Espanha, Cuba, Angola. Este ano pretendo continuar.

    Você agora tem bloco de carnaval, Os Suburbanistas? O bloco Os Suburbanistas foi uma idéia maravilhosa da cantora Dorina, a partir do show homônimo que exalta o samba do subúrbio. O bloco não desfila e faz uma festa parada alternadamente em Irajá, Oswaldo Cruz e Vila da Penha.

    E as escolas de samba? Pretende compor mais algum samba-enredo algum dia? A minha história com escola de samba já passou, praticamente acabou desde 1998, quando eu, o Jonas e o Rodolfo escrevemos o samba que ajudou a Vila Isabel a ser campeã. A partir dali as escolas têm outra cara, outro perfil. Ainda assim, saí ano passado pela Beija Flor na ala da diretoria e a escola acabou campeã. Minha carreira como sambista não está atrelada à escola de samba, como nunca foi. Prefiro sair na escola para me divertir (riso).

    Fevereiro 2008
    Entrevista concedida a Ricardo Rabelo



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