MAIS COISAS >> Entrevistas

  • Marquinhos de Oswaldo Cruz: “Em SP as rádios tocam mais samba que no Rio

    Agenda Bafafá em 16 de Agosto de 2020    Informar erro
    Marquinhos de Oswaldo Cruz: “Em SP as rádios tocam mais samba que no Rio

    Marcos Sampaio, o Marquinhos de Oswaldo Cruz, é um dos mais destacados militantes do samba no Rio de Janeiro. Além de compositor, organiza desde 1996, o Pagode do Trem para comemorar o Dia Nacional do Samba, em 02 de dezembro.

    Em entrevista exclusiva ao Bafafá, Marquinhos de Oswaldo Cruz fala sobre seu começo como sambista, seu engajamento com a causa e os primórdios do principal evento de samba do País depois do carnaval. “A intenção era chamar a atenção para o bairro de Oswaldo Cruz. Até então só a Bahia comemorava o Dia Nacional do Samba”, assegura.

    Questionado se tem alguma utopia, não titubeia: “Ver o samba difundido sem preconceitos de classe, étnico, regional. Que essa grande pluralidade do samba possa chegar às rádios”.

    Como começou no samba?
    Eu nasci em Madureira e fui criado em Oswaldo Cruz. Desde criança eu ouvia samba, era quase música de ninar lá em casa (risos). Eu pegava latas, garrafas e saia batucando, cantando. O samba fazia parte do meu dia-a-dia. Minha mãe não deixava eu desfilar, mas eu fugia de casa para assistir os ensaios da Portela aos domingos. No início da década de 80, meu pai vendeu uma loja de construção que tinha e deu um presente para cada filho. Foi quando me perguntou o que eu queria. Respondi que era desfilar na Portela (risos). Foi tiro e queda. No primeiro ano que desfilei fui campeão. Apenas em 86 eu comecei a compor. 

    Quantos sambas compôs até hoje?
    Mais de cem. O mais famoso deles é o “Geografia Popular”, que estourou na voz da Beth Carvalho.

    Você acha que o samba é um fenômeno carioca?
    O samba veio dos porões dos navios negreiros. No Rio de Janeiro, por ser a capital, teve uma difusão maior. O samba é um ritmo muito rico e variado: partido alto, samba-enredo, exaltação, samba-canção, etc. O samba carioca foi difundido nacionalmente.

    A Bahia dá samba?
    Dá (riso). Há seis anos, eu achava que o samba tinha acabado na Bahia. Foi quando fui à festa do Rio Vermelho, de Iemanjá. Fiquei perplexo com os inúmeros terreiros que cantavam samba de roda e tocavam cavaquinho, pandeiro. O samba lá é tão forte quanto qualquer outro ritmo.

    Você acha que o estilo musical rompeu o preconceito?
    Vai rompendo aos poucos. As pessoas sempre rotulam o samba como algo menor, mas durante a Ditadura ele foi um grito popular por liberdade. O samba do Império Serrano de 1969 (Heróis de Liberdade) driblou a censura. O Silas de Oliveira fez isso numa escola de samba, foi preso e solto depois, pois os militares menosprezaram a capacidade dele de contestar o regime (risos). O preconceito ainda existe apesar de tudo.

    Por que o samba é separado da MPB?
    Existe algo mais popular, principalmente no Rio de Janeiro, do que o samba? É que o samba sempre foi associado aos negros.

    Onde se faz o melhor samba hoje no Rio de Janeiro?
    É difícil dizer. As casas da Lapa são ótimas, mas o samba no palco é mais espetáculo, diferente de uma roda tradicional, onde tudo é mais espontâneo. Essa é a diferença de uma boa roda de samba.

    O que acha das rádios tocarem pouco samba?
    Um absurdo. Em qualquer parte do País as rádios tocam as músicas locais. Em São Paulo elas tocam mais samba do que no Rio de Janeiro.

    Por que o samba predomina apenas no carnaval?
    Predomina mais porque o carnaval é uma festa espontânea. Eu não consigo pensar em carnaval sem samba, talvez seja por isso que nunca fui nesta data a Recife e Olinda (risos). No carnaval, por mais que as rádios não queiram, elas têm de tocar samba.

    Como surgiu a idéia do Trem do Samba?
    A primeira ideia foi em 1989, mas só aconteceu em 1991, ainda assim apenas naquele ano. A intenção era chamar a atenção para o bairro de Oswaldo Cruz. Até então só a Bahia comemorava o Dia Nacional do Samba. No entanto, só voltou em 96 em apenas um vagão. Em 98, eu convidei a Beth Carvalho e ela emprestou seu talento e magnitude para o evento ganhar dimensão. Só a partir de 2003 conseguimos o patrocínio da Petrobras que perdura até hoje.

    Você também é apontado como precursor do samba na Lapa?
    Em 1997, bem antes do Semente, eu, Renatinho Partideiro e Ivan Milanez fazíamos uma roda debaixo dos Arcos da Lapa. Naquela época, a Lapa era mais influenciada pelo Circo Voador, uma coisa mais pop. A nossa roda popularizou o samba na Lapa, foi fundamental. Tudo isso também em função do trem. 

    Você tem alguma utopia?
    Ver o samba difundido sem preconceitos de classe, étnico, regional. Que essa grande pluralidade do samba possa chegar às rádios.

    Abril de 2009



    • MAIS COISAS QUE PODEM TE INTERESSAR

      Exclusivo: Igor de Vetyemy, presidente do IAB-RJ, fala sobre o 27º Congresso Mundial de Arquitetos UIA2021RIO
      Saiba Mais
      Entrevistas históricas: Oscar Niemeyer
      Saiba Mais
      Sady Bianchin, secretário de cultura de Maricá: “A cultura é uma economia infinita”
      Saiba Mais


    • COMENTE AQUI

      código captcha

      O QUE ANDAM FALANDO DISSO:


      • Seja o primeiro a comentar este post

DIVULGAÇÃO