MAIS COISAS >> Entrevistas

  • Olímpio Alves dos Santos, presidente do SENGE-RJ

    Da Redação em 27 de Abril de 2017    Informar erro
    Olímpio Alves dos Santos, presidente do SENGE-RJ
    Local: Foto: Divulgação
    DETALHES:


    O SENGE-RJ é um dos sindicatos mais ativos do Rio. Sua função se destina defender os direitos dos profissionais de engenharia do estado, tais como engenheiros, agrônomos, geólogos, geógrafos e meteorologistas. Ele oferece assessoria jurídica, negociação coletiva, formação e cultura, consultoria em previdência complementar e tabela de honorário.

    O SENGE discute também a política nacional e debate temas importantes da sociedade. Destaque para o evento Café & Política que convida mensalmente cabeças pensantes do país e mais recentemente o simpósio “SOS Brasil Soberano” que debate um projeto para o país.

    Em entrevista ao Bafafá, o presidente do SENGE-RJ, Olímpio Alves dos Santos, fez uma análise consistente da conjuntura nacional. Para ele, a privatização do setor estratégico não resolve. “Os setores estratégicos como energia, saneamento, saúde, educação, não são mercadorias, têm de ser públicos”, defende. Para ele, no entanto, o modelo de empresa pública atual está superado. “É preciso que exista um controle público que não sirva de moeda de troca para a política”.

    Como avalia a situação política do país?

    Vivemos uma situação complicada e complexa. É uma regressão no campo político, social e econômico. Agora podemos ver com mais clareza qual foi a natureza do golpe contra Dilma. Ele é praticamente uma contrarrevolução com a revolução de 30. Todos os direitos que foram conquistados pós 30, toda possibilidade de construirmos uma nação, estão sendo desmontados.

    O impeachment da presidente Dilma fez um ano. O que tem a comentar sobre a data?

    Neste um ano, pudemos ver com muita clareza e entender que foi um golpe, em cima de várias e várias mentiras. A primeira delas é de que a presidente tinha cometido um crime por ter feito pedaladas fiscais. Já houve em outros períodos várias pedaladas piores que da Dilma. Uma delas agora sob o Temer, de tirar R$ 100 bilhões do BNDES para colocar no Tesouro Nacional. Os corruptos, os moralistas sem moral, todos eles são profundamente corruptos. O golpe é um processo de desconstrução do Brasil como um todo. De sua soberania, de seus direitos adquiridos e da entrega de suas riquezas naturais aos interesses privados e estrangeiros.

    A Petrobras se recuperou das fraudes e a corrupção?

    Corrupção é inaceitável. Havia na Petrobras um conluio de empresas privadas com alguns funcionários. O prejuízo não justifica o desmonte da maior empresa brasileira. E ainda entrega-se a riqueza natural do país. Recentemente foi vendido um campo de petróleo no pré-sal para a Standar Oil por R$ 2, 5 bilhões quando valia R$ 30 bilhões.

    Qual é o modelo de empresa pública ideal?

    O modelo atual está superado. Hoje as diretorias de estatais são entregues a indicações políticas que por sua vez colocam sobrepreço nos trabalhos da empresa. Entre eles, Nestor Ceveró, Paulo Duque e Paulo Roberto Teixeira. A direção maior da empresa também se corrompeu. É preciso que exista um controle público que não sirva de moeda de troca para a política. Estamos indo para a Bahia para o simpósio SOS Brasil Soberano e uma das discussões é um modelo de empresa pública para a exploração dos recursos naturais do país. Uma coisa é o controle estatal. Outra é o controle público.

    O Brasil tem plano de infraestrutura?

    O país só tem plano de curto prazo. O Brasil é prisioneiro do ganho financeiro imediato. O governo só se preocupa com a nota de classificação, com a taxa selic. Os planos de longo prazo são bombardeados pelo setor financeiro e pela maioria política que está no Congresso e representa esses setores. O único setor mais ou menos estruturado é o do agronegócio, mas mesmo assim em grande parte não é um setor nacionalizado, nós só entramos com a terra, todos os insumos vêm de multinacionais.

    Empreiteiras estrangeiras podem participar de obras no país?

    Na Petrobras, por conta dos escândalos de corrupção, estão proibindo que empresas brasileiras participem das licitações da empresa. Nós estamos abrindo para as estrangeiras. Isso é uma bobagem, uma grande falácia. Quem comete crime tem CPF, não CNPJ. Todos os crimes que gerentes e diretores da Odebrecht cometeram têm que ser punidos. Quem está pagando por isso são os funcionários que perderam o emprego. A empresa é um repositório de conhecimento, de engenharia e recursos humanos. Isso não pode ser destruído. Nós temos uma infraestrutura imensa a construir. Isso é renda e trabalho para os brasileiros. Se contratarmos empresas estrangeiras os projetos de engenharia virão de fora assim como engenheiros e até pedreiros. É um mercado imenso que não podemos abrir mão. Hoje a força de trabalho na engenharia foi reduzida a 30% de sua capacidade.

    Como analisa a privatização das estradas federais?

    No capitalismo tudo vira mercadoria. Até a circulação de pessoas. Quando você cria um pedágio na estrada, a circulação vira mercadoria. E como se para respirar você tivesse que pagar uma taxa. Ao adotar o pedágio, você eleva também o custo das mercadorias. Nós temos que ter um setor estatal bem infraestruturado para a manutenção das estradas. O estado privatizado é incapaz disso. É preciso entender que nem tudo pode virar mercadoria. Devemos sempre buscar baratear os custos da produção. Acho que não deveríamos ter pedágios. Na Alemanha, eles nem existem.

    E a privatização da CEDAE?

    É um absurdo. A água, o saneamento, também não são mercadorias. A água é um bem comum disponível na natureza. O saneamento é uma necessidade de saúde pública. Não faz sentido privatizar uma empresa que presta um serviço público, um bem necessário à vida como água e saneamento. Acho que ainda é possível reverter a privatização da CEDAE. Nosso povo precisa ser bem informado, não podemos permitir o monopólio da manipulação da informação. Os setores estratégicos como energia, saneamento, saúde, educação, não são mercadorias, têm de ser públicos.

    O que um jovem encontra na profissão de engenheiro?

    A engenharia é uma das mais belas profissões que temos. Você tem a possibilidade de interferir na natureza para criar bem estar. Na minha área, a engenharia elétrica, existem vários fenômenos que são naturais. Os jovens deveriam optar pela engenharia. No entanto, ela não pode ser vista apenas como um meio de enriquecer. Claro, que todo mundo quer o bem estar.

    Recomenda alguma área em específico?

    Nós temos um déficit habitacional enorme. Nossas cidades são depósitos de pessoas.

    Como vê o pré-sal?

    O pré-sal em si é uma coisa praticamente resolvida. A engenharia brasileira foi a primeira do mundo a rapidamente extrair petróleo em águas profundas. Isso gera toda uma cadeia de produção: indústria naval, montagem de navios, mão de obra. Temos desafios que o próprio Brasil pode resolver, sem a participação de empresas estrangeiras. É um país imenso que precisamos defender para dissuadir quem quiser nos atacar.

    Qual é o futuro da engenharia no Brasil?

    Com esse governo nenhum. Precisamos de uma engenharia para dar bem estar.

    Tem alguma utopia?

    Tenho várias (riso). Todas em que a humanidade é o centro da questão.



    • MAIS COISAS QUE PODEM TE INTERESSAR

      Exclusivo: Prefeito de Maricá fala ao Bafafá: "Fundo soberano chegará a R$ 2 bilhões em 2024"
      Saiba Mais
      Exclusivo: Igor de Vetyemy, presidente do IAB-RJ, fala sobre o 27º Congresso Mundial de Arquitetos UIA2021RIO
      Saiba Mais
      Entrevista: Eliete Bouskela, 1ª mulher a presidir a Academia Nacional de Medicina
      Saiba Mais


    • COMENTE AQUI

      código captcha

      O QUE ANDAM FALANDO DISSO:


      • Seja o primeiro a comentar este post

DIVULGAÇÃO