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  • Osmar do Breque: o sucessor de Moreira da Silva

    Agenda Bafafá em 16 de Agosto de 2020    Informar erro
    Osmar do Breque: o sucessor de Moreira da Silva

    O cantor, compositor e violonista Osmar Leite, mais conhecido como Osmar do Breque, é apontado como sucessor de Moreira da Silva, mestre do breque. O estilo é um gênero de samba intercalado com falas, semelhante ao que é hoje o rap.
     
    Osmar nasceu em Nova Iguaçu e foi criado num colégio interno na Ilha de Paquetá. Músico autodidata, começou tocando numa banda de rock.
     
    A partir dos anos 70, descobriu o breque. “Fiquei fascinado. Não é fácil cantar, parar, falar e voltar no mesmo ritmo e no mesmo tom”, assegura. O coroamento veio depois que conheceu Moreira da Silva que acabou avalizando seu trabalho. “Ele disse: igual a mim, ainda não vi ninguém fazer. Você tem tudo para seguir a minha trilha”, conta Osmar.

    Em entrevista ao Bafafá, Osmar do Breque fala sobre sua relação com o samba de breque, estabelece relações entre o ritmo com o rap e o hip hop, além de falar sobre a falta de espaço nas rádios e emissoras de televisão.

    Fale sobre a sua infância e adolescência
    Nasci em Olinda, município de Nova Iguaçu, no Estado de Rio de Janeiro. Fui criado num colégio interno em Paquetá, onde passei toda a minha infância. Com 12 anos, vim para Jacarepaguá em outro colégio interno, depois fui morar com o meu padastro e fiquei lá ate os 25 anos. Depois fui para Bento Ribeiro, morar com a minha avó até me casar. Há 10 anos estou morando em São João de Meriti.

    Como aprendeu a tocar?
    Fui autodidata. Aprendi por métodos comprados em bancas de jornal e também de ouvido. Aos 25 anos fiz escola de música. Mas, componho desde os 12 anos de idade, antes de aprender a tocar violão, eu compunha intuitivamente. A minha primeira música foi uma marchinha de carnaval.

    Você começou na banda de rock Ramal 3, como aconteceu a mudança do rock para o samba?
    Veja bem, a banda tocava várias tendências musicais. A parte de MPB, xote, baião e samba era comigo. Foi ai que me interessei em estudar música para me aperfeiçoar. A banda foi uma escola, fiquei de 1976 a 1980.

    O Moreira da Silva te considerava o seguidor dele?
    Levei um CD Demo para ele em sua casa e entreguei à sua filha, pois ele não estava. Liguei para saber se tinha ouvido e ele me chamou para cantar pessoalmente. Depois de três anos de convivência, me disse: “Igual a mim, ainda não vi ninguém fazer. Você tem tudo para seguir a minha trilha.” Isso está gravado e ele me disse que assinava embaixo. Em uma entrevista minha na Rádio Nacional eu disse que ele me considerava seu sucessor. Perguntaram se aprovava e ele respondeu: “Aprovo e assino embaixo, estou com ele e não abro”. Também tenho essa gravação, guardada a sete chaves. 

    Qual foi a influência dele na sua carreira? Ah, muita. Quando ouvi o Moreira da Silva, nos anos 70, num LP que eu ganhei, aí eu me apaixonei pelo samba de breque, porque eu achei malandramente carioca, genuinamente carioca. É um samba que conta a crônica do cotidiano. Fiquei fascinado. Convivi com ele durante 15 anos, freqüentava a sua casa. Ele me ensinou a técnica, porque não é fácil cantar, parar, falar e voltar no mesmo ritmo e no mesmo tom.

    O Moreira da Silva incorporava o malandro, você também tem essa relação com o malandro?
    Ele era um falso malandro, de malandro não tinha nada, era trabalhador. Eu também porque eu sou trabalhador, a música é em segundo plano. 

    Você incorpora esse personagem no show?
    Sinto que sim, com certeza. No figurino, em tudo. Eu não gosto de copiar a indumentária do Moreira, me visto de forma diferente: chapéu, camisa de seda. 

    Por que o samba de breque não é tão difundido hoje em dia? Porque não tem espaço na mídia. O que manda hoje nos grandes canais de comunicação é justamente a musica mais comercial, algumas descartáveis, outras de qualidade. O samba de breque é desconhecido da nova geração e depois da morte do Moreira não houve ninguém da nova geração que ousasse tentar cantar esse gênero. Muitos acham que só o Moreira cantava. Não tenho produtor, nem empresário, não consegui chegar à televisão para mostrar isso. 

    Como mostrar para o público que há outras pessoas fazendo samba de breque? T
    Tendo mais espaço para pessoas cantarem o gênero. O Marcos Sacramento canta muito bem, sambas sincopados e antigos, tradicionais, inclusive a maioria eu conheço, e ele canta às vezes o samba de breque. Tem muita gente que canta. O Nei Lopes, o Germano Matias em São Paulo, mas jovens cantando samba de breque não tem. Não há renovação do estilo

    Você acha que há alguma influencia do samba de breque em ritmos como o rap e o hip hop? Qual seria?
    Só tem. O rap por exemplo é o samba de breque de hoje, só que feito de uma nova forma musical, linguagem e ritmo. Seria o “breque inteiro”. Na verdade é o seguinte: o samba de breque é um samba sincopado com intervalos falados, para mandar um lero, jogar conversa fora, aquela coisa de malandro. Algo que no rap, o Gabriel o Pensador e o D2 fazem. No hip hop, o MV Bill.

    Por que você gravou apenas um CD, o “Girando Por Ai em 1997”?
    Porque é independente e gera custos. Hoje em dia, para gravar um independente é necessário ter uma verba para fazer um trabalho de qualidade. Gravei uma coletânea pelo Selo MEC: Adelson Alves – MPB de Raiz, em que há várias participações como Beth Carvalho e o Zeca Pagodinho.

    Tem feito shows? E um novo CD quando sai?
    Estou começando a reunir gravações feitas em estúdio e fazendo outras no estúdio do Pecê Ribeiro para fazer uma coletânea independente, com regravação de “Na Subida do Morro”, com lançamento no máximo ate o início de novembro

    Junho de 2009.
     



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