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  • Serginho Procópio: A minha utopia é ser campeão pela Portela

    Agenda Bafafá em 16 de Fevereiro de 2021    Informar erro
    Serginho Procópio: A minha utopia é ser campeão pela Portela

    O cantor e compositor Sérgio Procópio da Silva, conhecidocomo Serginho Procópio, foi eleito presidente da Portela com uma diferença de apenas três votos neste ano. Na primeira entrevista à imprensa, ele conta ao Bafafá seus planos à frente da azul e branco de Madureira. Garante que encontrou a escola quase falida com milhões em dívidas e os salários atrasados há quatro meses. “Em um mês de gestão, conseguimos colocar os salários em dia”. Sobre os planos, assegura que já tem uma equipe de marketing trabalhando em projetos que irão revitalizar a escola. Questionado se tem alguma utopia, não pensa duas vezes: “A minha utopia é ser campeão pela Portela”.
     

    Como foram sua infância e juventude?
    Nasci em Jacarepaguá, mas passei a minha infância em Marechal Hermes. Adorava soltar pipa, jogar bola, pião, ir à escola, à igreja. Aos 15 anos, me dediquei à igreja chegando a participar de grupos de jovens, chegando inclusive a entrar no seminário para tentar ser padre (riso). Fui seminarista durante um ano e meio quando desisti ao descobrir que não era a minha vocação (riso).

    A vocação pelo samba veio cedo?
    Isso vem desde nascença, meu avô tocava chorinho e meu pai era ligado à Portela e tocava samba com o Candeia, que inclusive me deu o meu primeiro cavaquinho.  Esse pessoal frequentava a minha casa e cresci no meio deles. Embora eu fizesse parte da igreja, nunca abandonei o cavaquinho. Inclusive, mesmo no seminário, a gente incluía sambas do Luiz Carlos da Vila como tema de meditação (riso). Lá pelos 20 anos, tentei estudar filosofia e economia, mas decidi me dedicar integralmente à música. Isso porque já estava tocando com artistas como Agepê e outros. Passei a estudar música com o Paulão 7 Cordas que hoje é o maestro da banda do Zeca Pagodinho.

    E quando começou a compor?
    Depois do seminário. Os meus primeiros parceiros foram Argemiro da Velha Guarda e Marquinhos Diniz (filho do Monarco). Depois fiz parceria com o Zeca Pagodinho que inclusive gravou a minha primeira música “Mafuá de Iaiá”.

    Qual é a melhor fonte de inspiração?
    O amor sempre é a melhor fonte. Como diz o Monarco: se a mulher vai embora, você faz um samba. Se a mulher volta, você faz outro samba (riso). Gosto também de brincadeiras com temas do dia-a-dia.

    Quanto sambas já compôs?

    Cerca de 1000 sambas sozinho e em parceria, sendo que pelo menos 200 foram gravados, inclusive por Zeca Pagodinho.

    O que achou da mágoa do Noca com o antigo presidente Nilo?
    Isso são águas passadas. Aconteceu com ele, mais ou menos o que aconteceu comigo. Ambos discordamos em 2012 por não ter sido escolhido o melhor samba em disputa na Portela, independente de ser o nosso. O Nilo deu gelo no Noca e negou-se a convidar seu médico pessoal para desfilar. Foi omissão, bastava falar que não podia, mas não responder ao pedido foi uma descortesia.

    O que o fez disputar a eleição?
    Foi a indignação com a situação que a Portela estava passando. Hoje eu tenho a certeza de que a escola poderia não existir mais em função de 6 milhões de reais em dívidas. Devíamos ao mais simples funcionário até bancos, fornecedores, água, luz. Os funcionários estavam com os salários quatro meses atrasados, alguns sendo quase despejados por falta de pagamento do aluguel. Em um mês de gestão, conseguimos colocar os salários em dia. Isso com apenas um evento, que é a feijoada mensal da Portela.

    Quais projetos imediatos pretende implementar?
    Com certeza, vamos movimentar a nossa quadra para arrecadar e pagar as dívidas. Temos alguns eventos programados: festival de samba de terreiro, disputa de samba enredo (a partir de agosto), explorar a marca Portela incrementando a lojinha da casa com a venda de camisas, canecas, bottons, canetas, etc. Já temos um pessoal me marketing trabalhando nas ideias, nada será amadorístico. 

    Como vê o atual modelo de desfiles? Antigamente os desfiles terminavam no dia seguinte à tarde (riso). A própria Portela já chegou a desfilar ao meio dia com o sol na cabeça. Com a formação da LIESA (Liga Independente das Escolas de Samba), os desfiles foram profissionalizados. Esse formato me agrada, agora temos tempo marcado para desfilar.

    Os bicheiros ainda mandam no carnaval?
    Não, as escolas hoje não precisam dos bicheiros como antes. O bicheiro deve estar até feliz, pois agora está no cantinho dele, sem cobranças.

    O que pode ser feito para melhorar?
    Eu estou chegando agora (riso). Na minha escola será a parte plástica do desfile.

    O sambódromo é para “inglês ver”?
    Isso não deixa de ser verdade (riso). No entanto, não falta povo, pois ele está desfilando. 

    O samba não está muito cadenciado?
    Essa marcação dos desfiles é decorrente do grande número de integrantes. Foi preciso diminuir o tempo e consequentemente necessário acelerar a batida. Os sambas ficaram mais marcheados.

    O que achou da explosão do carnaval de rua do Rio de Janeiro?
    Maravilhoso, as pessoas poderem brincar sem abadás, inclusive com novas associações como a Folia Carioca. Não tem coisa melhor o povo livre, sem ter que pagar nada.

    Tem alguma utopia?
    A minha utopia é ser campeão pela Portela. É um sonho que quero transformar em realidade (riso). Gostaria também que as pessoas fossem tratadas com igualdade, independente de cor, sexo, orientação política. As pessoas precisam se respeitar mais, assim o nosso país e o mundo seriam melhores. O Brasil precisa melhorar, mas também não vou dizer que está mal. A gente está vendo as manifestações pedindo mais ainda. Não é possível que se invista tanto dinheiro em estádios de futebol e os hospitais continuem abandonados.

    Como está vendo as manifestações de rua?
    É bonito o povo se manifestando de maneira ordeira e organizada. Agora, vandalismo, isso ninguém quer. Tem muitos aproveitadores tentando faturar, mas está claro que os manifestantes não querem isso. O Brasil ficou muito tempo calado, temos que saber usar a liberdade que conquistamos. Temos que saber ser livres. Ditadura nunca mais!

    Entrevista concedida ao Bafafá em julho de 2013



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