Uma equipe de pesquisadores da USP iniciou uma expedição na Serra do Imeri, um conjunto de montanhas no norte do Amazonas, próximo à fronteira com a Venezuela, região desconhecida onde pessoas e cientistas nunca estiveram antes.
“Não temos a menor ideia do que vamos encontrar lá. É um lugar completamente desconhecido”, diz o professor Miguel Trefaut Rodrigues, do Instituto de Biociências (IB) da USP, um dos zoólogos mais experientes do País e líder da expedição. “A possibilidade é de sermos os primeiros a chegar na área”, relata Escobar, por sua vez.
O objetivo primário da missão é justamente esse: fazer um inventário de biodiversidade para saber que tipos de bichos e plantas vivem naquelas escarpas e de que forma eles se relacionam, ou não, com as espécies que habitam as partes mais baixas do bioma.
O potencial para a descoberta de novas espécies é enorme, visto que as condições ambientais e climáticas que caracterizam esses ambientes de alta montanha são bem diferentes das encontradas nas florestas tradicionais, de altitudes mais baixas, e que essas montanhas estão isoladas do restante da Amazônia — biogeograficamente falando —há vários milhões de anos.
Tempo mais do que suficiente para que elas desenvolvessem uma biodiversidade própria e exclusiva de seus domínios (endêmica, como se diz no vernáculo científico).
Imagens de helicóptero, feitas em voos de reconhecimento do Exército, revelam uma paisagem espetacular, com montanhas verdes coroadas por nuvens e rodeadas por vastas extensões de floresta tropical intocada, sem qualquer sinal evidente de interferência humana.
O acampamento será montado a cerca de 2 mil metros de altitude, no topo de um morro vizinho ao pico mais alto da região, que ultrapassa os 2.400 metros de altitude, segundo informações do Google Earth (a elevação exata precisará ser medida em campo com o uso de GPS). Foi a única área suficientemente plana e naturalmente descampada, identificada pelo Exército, para permitir o pouso dos helicópteros que transportarão as equipes até o local.
Serão ao todo 17 dias de expedição (de 4 a 20 de novembro), com uma equipe de 14 pesquisadores, incluindo especialistas em répteis e anfíbios (herpetologia), aves (ornitologia), mamíferos (mastozoologia), plantas (botânica) e parasitas.
O grupo inclui nove professores e alunos de pós-graduação da USP, mais cinco representantes de outras instituições do Brasil e do exterior, incluindo a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), o Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ), a Estación Biológica de Doñana (Espanha) e o Centre National de la Recherche Scientifique (França).
A equipe científica contará com o suporte de 76 militares — 21 em campo e 55 em Santa Isabel do Rio Negro, cerca de 100 quilômetros ao sul —, responsáveis pela logística e segurança dos trabalhos. “Estamos atribuindo grande prioridade a essa expedição”, disse o general Guido Amin Naves, chefe do Departamento de Ciência e Tecnologia (DCT) do Exército, em uma reunião realizada em julho na Fapesp, para assinar um acordo de cooperação científica e tecnológica entre o Comando do Exército e a Fundação — no qual está contemplada essa expedição. “Apesar de todas as limitações orçamentárias, é uma prioridade nossa manter esse apoio”, destacou o general. Desde abril o Exército já realizou vários sobrevoos no local para reconhecimento e planejamento da expedição.
A expedição é patrocinada pela Fapesp e conta com o apoio do Exército brasileiro que cedeu helicópteros e apoio lógistico.
A serra do Imeri é uma formação do relevo brasileiro localizada no planalto das Guianas, na fronteira do Brasil com a Venezuela. Nela, estão situados os picos mais altos do Brasil, sendo em primeiro lugar o pico da Neblina e, em segundo lugar o pico 31 de Março, no Amazonas (3.000m).
Fonte: USP