A história do Palácio Monroe começa muito antes de abrigar o Senado. O palácio foi originalmente construído nos Estados Unidos, em 1904, como o pavilhão do Brasil na Exposição Mundial de Saint Louis, no estado do Missouri.
Esse tipo de exposição servia para que os países apresentassem ao mundo o que tinham de melhor, com o intuito de alavancar as exportações e atrair investidores estrangeiros. No caso brasileiro, o pavilhão funcionou como vitrine para o café. Estima-se que a cada dia tenham sido servidas 5 mil xícaras aos visitantes.
O governo incumbiu o engenheiro Francisco Marcelino de Sousa Aguiar (que dá nome a um dos hospitais públicos mais conhecidos do Rio) de projetar o pavilhão em Saint Louis. Ele já era experiente nesse tipo de missão. Sousa Aguiar havia assinado o pavilhão do Brasil na Exposição Mundial de Chicago, em 1893.
Na segunda vez, entretanto, havia uma exigência: o pavilhão teria de ser desmontável, de maneira que pudesse ser reconstruído no Rio. O engenheiro foi ousado e optou por empregar estrutura metálica, uma tecnologia que o Brasil não conhecia.
O futuro Monroe venceu o principal prêmio de arquitetura da feira e o jornal The St. Louis Republic dedicou a primeira página à obra brasileira chamando-a de um poema.
Encerrada a exposição, o pavilhão foi desmontado e despachado num navio cargueiro para o Rio. Ele seria erguido no ponto mais nobre da capital da República: a Avenida Central (atual Rio Branco), que ainda estava em obras.
O prefeito do Rio, Pereira Passos, havia demolido cortiços e criava uma versão tropical da Champs-Élysées, o sofisticado boulevard parisiense. O palácio foi montado em questão de meses, entre 1905 e 1906. O Jornal do Commercio o chamou de “teteia de açúcar branco”.
Os arredores da Praça Floriano (hoje mais conhecida como Cinelândia) logo passariam a ostentar belos exemplares da arquitetura eclética. Depois do pavilhão vindo dos EUA, ficariam prontos o Theatro Municipal, a Escola Nacional de Belas Artes e a Biblioteca Nacional (outro projeto de Sousa Aguiar).
Em termos simbólicos, aquelas linhas rebuscadas dos edifícios públicos ajudavam a compor a cara que os líderes políticos queriam dar à República, implantada em 1889 e ainda em consolidação. A ideia era varrer da paisagem da capital tudo que remetesse ao passado imperial.
No Rio, o pavilhão ganhou o nome de Palácio São Luís, em alusão à cidade de Saint Louis. Sua primeira missão foi abrigar a terceira edição da Conferência Pan-Americana, em 1906, que congregou presidentes e ministros do continente.
O edifício mudou de nome durante o evento, passando a Palácio Monroe. Era uma homenagem a James Monroe, o antigo presidente americano que pregava “a América para os americanos”, isto é, livre do colonialismo europeu. O novo nome era uma forma de o Brasil mostrar que queria entrar na órbita de influência dos EUA.
Nos primeiros anos, o Palácio Monroe não teve um papel definido e funcionou como uma espécie de salão de festas do governo. Nele se realizaram bailes, banquetes, formaturas, congressos e até velórios.
Em 1914, tornou-se a sede provisória da Câmara dos Deputados. Em 1922, recebeu o escritório do governo encarregado das comemorações do centenário da Independência.
A decisão de transformá-lo no Senado foi tomada logo em seguida, diante da pressão dos senadores para sair do Palácio Conde dos Arcos, um solar que havia sido construído na época da Colônia e abrigava a Câmara Alta desde sua criação, em 1826, no Império.
Os senadores reclamavam que o edifício estava em estado tão precário que poderia desabar a qualquer momento. Quando o bonde passava, de acordo com eles, as paredes todas estremeciam.
— Olhando para o teto, vi que já está rachando em diversos lugares. Em outros, a pintura dos afrescos já se vai quebrando, fragmentando. E também há muito já está o teto caindo aos pedaços sobre as nossas cabeças — queixou-se o senador Irineu Machado (DF) em junho de 1923.
Havia uma dose de exagero. O velho Senado não corria o risco de ruir. Tanto que o prédio está de pé até hoje e nele funciona a Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Na realidade, os senadores queriam um espaço que fosse confortável e pomposo e, ao mesmo tempo, não remetesse aos ultrapassados anos da Colônia e do Império.
Senador desgostoso
O presidente Artur Bernardes aceitou transferir o Monroe para o Senado. Antes, entretanto, o interior do prédio teve de ser totalmente reformado. As obras duraram um ano e meio.
Colunas internas foram removidas, andares novos foram criados e dois elevadores foram instalados — uma grande novidade na época, com portas que precisavam ser abertas e fechadas manualmente.
Fonte: Agência Senado