O tradicional restaurante Cosmopolita, na Lapa, retirou as mesas e instalou cinco mesas de sinuca para não fechar as portas. O local agoniza e nem serve mais pratos, entre eles, o famoso Filé a Oswaldo Aranha que nasceu lá.
Confira o texto do jornalista Juarez Becoza que constatou a mudança:
No salão quase centenário do outrora glamuroso Bar Cosmopolita - a casa onde o Filé a Oswaldo Aranha foi criado - só há agora mesas de sinuca. Daquelas de ficha. A tradicional chopeira de bronze, que floria tulipas à perfeição, sumiu.
No balcão, só latão. Na prateleira, cachaças sem procedência, oferecidas dentro de garrafas pet, ainda com o rótulo de Coca-Cola colado no plástico.
Da cozinha, não sai mais nada. Do Oswaldo Aranha, só as fotos amareladas na parede, que nada significam para os atuais frequentadores.
Até uma coluna minha, escrita em outra vida para um vetusto matutino, ainda está lá, jazendo num canto. Resolvo entrar.
Sob olhares desconfiados, tento tomar uma cerveja - latão mesmo. Não consigo. Só dinheiro é que se aceita. Não tenho.
Devolvo a lata fechada, respiro fundo e pergunto ao atendente entristecido sobre Seu Juan, o dono, já com medo da resposta. Mas sim, ele está vivo e bem - graças a Deus. Em casa, aguardando a pandemia acabar. Mas perdeu a mulher para a Covid, oito meses atrás. Lamento.
"Assim que der vamos recolocar as mesas e reabrir a cozinha", promete o rapaz, desanimado. Esforço-me para acreditar.
Há muito que o Cosmopolita sofre com a decadência da Lapa. A esquina em que está localizado, na Travessa do Mosqueira, há alguns anos abriga um imenso cortiço, onde moradores de rua, traficantes e prostitutas disputam espaço.
Já tem um tempo que a coisa ali não é fácil.
Mas hoje, a visão do Cosmopolita, com seu salão de mesas de sinuca, é a pra mim a visão definitiva do deprimente purgatório em que a pandemia e o descaso transformaram a minha Lapa querida, onde tive orgulho de morar por quatro anos, e a qual frequento há quatro décadas.
Hoje foi um dia triste pra mim.
Pra Lapa, já faz um ano.
Que o bairro, o Cosmopolita e todos os bares que ali insistem em sobreviver possam em breve viver dias melhores.
Foto: Juarez Becoza