Na segunda metade do século XIX, o governo brasileiro adotou uma série de medidas para promover a imigração. Em 1876, foi criada a Inspetoria Geral de Terras e Colonização, órgão subordinado ao Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, responsável pela fiscalização e direção de todos os serviços atinentes a imigração e a colonização.
Cabia à Inspetoria assegurar ao imigrante hospedagem e transporte gratuito até o lugar que preferisse, dando-lhe plena e completa liberdade de se estabelecer na colônia que escolhesse para sua residência, bem como a garantia de acesso a terra, sementes e instrumentos de trabalho.
No Rio de Janeiro, era preciso encontrar um lugar perto e ao mesmo tempo isolado para abrigar quem chegasse à cidade sem ter onde ficar. Na hospedaria ficavam oito dias numa espécie de quarentena às avessas para proteger os viajantes de doenças que proliferavam na capital.
Após a visita da Comissão do Imperial Instituto Fluminense de Agricultura, iniciaram-se as negociações entre o governo imperial e o senador Francisco José Inácio Silveira da Motta, dono da Ilha.
No local, o senador por Goiás, tinha criação de peixes com mais de 12 mil exemplares. A venda ocorreu em 1883 quando, em 16 de janeiro, compareceram, na Diretoria Geral do Contencioso do Tesouro Nacional, o Senador Silveira da Motta e o Conselheiro João Cardoso de Menezes e Souza, procurador fiscal do Tesouro, concretizando a venda do arquipélago por 170 contos de reis. A partir de então deu-se início a construção da Hospedaria de Imigrantes da Ilha das Flores.
Inaugurada em 1º de março de 1883, a hospedaria acolhia gratuitamente até 1.000 indivíduos passageiros de 3ª classe que chegavam ao Brasil pelo Porto do Rio de Janeiro.
Tinha modernas instalações com tanques biológicos que eram utilizados para o tratamento da água e do esgoto dos prédios existentes na Ilha. Os imigrantes passavam por exames médicos para ter o visto de entrada liberado.
Os estrangeiros ficavam hospedados em prédios amplos e camas beliches. A hospedaria dispunha ainda de um berçario para os recém-nascidos com ótimas instalações e higiene. Tinha também farmácia e uma enfermaria com telas nas camas, além de refeitório e lavanderia coletiva.
A área até 1890 pertencia ao município de Niterói, a partir de então, com a emancipação de São Gonçalo, passou a fazer parte deste município.
A criação da Hospedaria da Ilha das Flores foi a política imigratória mais importante do governo imperial, pois, a partir da sua instauração, o Estado passou a regular os serviços de recepção e hospedagem dos imigrantes.
Além do fluxo de imigrantes, a Hospedaria da Ilha das Flores passou a registrar uma movimentação cada vez mais intensa de migrantes internos, oriundos de diversas regiões do país. Nas primeiras décadas do Século XX, essa circulação de pessoas começa a aumentar, embora ainda não de forma constante. Isto só vai acontecer a partir da Segunda Guerra Mundial, quando a migração interna se torna um grande fenômeno demográfico.
A hospedaria funcionou até 1966 quando foi desativada. Desde então as instalações pertecem à Marinha e hoje abrigam o Museu da Imigração.
Desde o ano de 2010, a Marinha do Brasil (MB) e a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) mantêm um convênio de cooperação que visa preservar a memória da imigração no Brasil, particularmente da Hospedaria de Imigrantes da Ilha das Flores, que funcionou entre 1883 e 1966, sendo a primeira hospedaria de imigrantes criada pelo governo brasileiro, ainda no período imperial, e que chegou a receber a ilustre visita de Dom Pedro II e anos depois, já na República, presidentes como Eurico Gaspar Dutra e Getúlio Vargas.
Em novembro de 2012 foi inaugurado o então Centro de Memória da Imigração da Ilha das Flores, dando início às visitas guiadas para visitantes externos (ver link acima).
Fonte: Museu da Imigração
Fotos: Coleção Leolpoldino Brasil