Em outros idiomas não existe, nem de longe, qualquer termo parecido com 'bonde' para designar esse tipo de veículo.
Nem Portugal nos acompanha - lá o veículo é chamado de 'eléctrico'. É que o termo surgiu no Brasil mesmo, mais precisamente no Rio de Janeiro.
Desde 1856, a cidade já contava com veículos parecidos com bondes, mas muito menores e chamados de 'gôndolas', pela semelhança com os barcos venezianos.
Em 9 de outubro de 1868, a empresa norte-americana Botanical Garden Railroad Company inaugurou sua primeira linha, que ia do Centro até o largo do Machado, no Flamengo.
A bitola (distância entre os trilhos) era muito maior e os novos veículos, ainda de tração animal, chegavam a transportar trinta passageiros, uma coisa estupenda para a época.
É preciso aqui abrir um parêntese: menos de um mês antes da inauguração, o presidente do gabinete do Império, o visconde de Itaboraí, tinha emitido um empréstimo nacional - que gerava muita polêmica - de trinta mil contos, com juros pagáveis em ouro, mediante a apresentação de bonds (apólice de dívida pública, vale, título a receber).
Voltando ao veículo, a Botanical Garden estipulou o preço da passagem em duzentos réis, mas como havia pouquíssimas moedas desse valor em circulação, decidiu emitir pequenos cupons em grupos de cinco - cada grupo custava um mil-réis.
Esses bilhetes, ricamente desenhados, inclusive com a figura do veículo, foram impressos nos Estados Unidos. Fazendo associação com o empréstimo de Itaboraí, o povo começou a chamar os bilhetes de bonds.
Afinal, se os capitalistas emprestavam dinheiro para o governo recebendo bonds, os trabalhadores da mesma maneira estavam fazendo o seu empréstimo em troca de papéis para cobrança futura.
Qualquer pessoa, por mais humilde que fosse, podia ter o seu bond. Em pouquíssimo tempo, rapidez certamente resultante do fato de o bilhete trazer estampado o desenho do veículo, o termo passaria a ser empregado para designar o próprio veículo.
Extraído do livro A Origem Curiosas das Palavras, do jornalista Márcio Bueno. Publicado pela editora José Olympio, teve seis edições esgotadas, pode ser encontrado no
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