Quem freqüenta restaurantes e costuma pedir o cardápio ao garçom com naturalidade não imagina que a palavra foi criada artificialmente.
O criador foi o inventivo e polêmico filólogo carioca Antônio de Castro Lopes (1827-1901) com o objetivo de substituir o termo francês menu.
Ele juntou os substantivos latinos charta [papel] e daps, dapis [refeição, comida, iguaria], ou seja, papel, lista de comidas ou iguarias.
O filólogo não se limitou ao cardápio, embora este tenha sido o seu maior sucesso. É de sua autoria também o vocábulo 'convescote', criado para substituir o inglês picnic.
Em 1889, ele se refere assim à sua invenção (com a grafia da época): "Em portuguez, desde seculos que existe a palavra 'escóte', a qual significa 'quinhão dado por cada um para a despesa'; temos a palavra tambem portugueza 'convivio', 'festim, festa familiar' (de convivium, ii, latino). Com estes dous elementos se forma muito natural e euphonicamente 'convescóte' (...)".
Mas 'convescote', convenhamos, não conseguiu ter a mesma aceitação de 'cardápio'. Outras propostas do filólogo definitivamente não pegaram. É o caso de 'lundâmbulo', para substituir o termo francês tourist.
Será que algum cidadão se disporia a viajar sabendo que passaria a ser chamado de 'ludâmbulo'? O mesmo aconteceu com outras invenções suas: 'lucivelo' ou 'lucivéu', para substituir abat jour, 'nasóculos', em lugar de pince-nez, e 'preconício', em vez de réclame [propaganda].
Além de filólogo, Castro Lopes foi professor do Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro, colaborou com o Jornal do Commercio e deixou livros de poesias e de ensaios.
O termo 'cardápio' começou a ser usado inicialmente no Rio de Janeiro mas, aos poucos, foi ganhando a disputa com o francês menu e hoje frequenta as mesas de restaurante de todo o país.
Extraído do livro A Origem Curiosas das Palavras, do jornalista Márcio Bueno. Publicado pela editora José Olympio, teve seis edições esgotadas, pode ser encontrado no site Estante Virtual