Que o carioca tem grande influência portuguesa todo mundo sabe. Muitos desconhecem que, com a abertura dos portos em 1808, aconteceu uma invasão comercial inglesa que mudou os hábitos dos moradores do Rio. Em apenas quatro anos, já havia 75 estabelecimentos de ingleses contra 207 dos portugueses.
O Rio de Janeiro virou também o sonho de consumo tropical de aventureiros e comerciantes escoceses, irlandeses e galeses. O Brasil era um mercado quase virgem para negócios e rapidamente se transformou no terceiro maior mercado externo da Inglaterra.
Não foi a toa que os ingleses escoltaram com 13 navios a corte portuguesa que fugia de Napoleão. A abertura dos portos acabou sendo um prêmio para a Grã-Bretanha.
Com o mercado aberto chegavam navios carregados de mercadorias que eram vendidas em lojas e leilões: roupas, lençois, tecidos em geral, chapéus, meias, sapatos, lenços, louças, talheres, relógios, ferramentas, tintas, móveis, vidros, binóculos e muitos outros itens do dia a dia.
E ainda trouxeram a energia elétrica, os telegráfos, bondes, estradas de ferro, serviço de água e esgoto, fábricas de tecidos, o hábito de tomar banho e se barbear diariamente, o piano, o chá, o pão de trigo, o sanduíche, a batata inglesa e o bife com batata, além da cerveja e o whisky, num mercado até então dominado pelos vinhos portugueses. E, claro, o chá das cinco.
Até mesmo as tradicionais venezianas de madeira deram vez a janelas de vidros.
Os ingleses tiveram ainda interferência direta na língua portuguesa ao adotarmos verbos como “chutar”, “driblar”, “blefar”, “boicotar”, “boxear” e termos como “gol”, “craque”, “truque”, “pedigree”, “pudim”, “recorde” e até o “alô” telefônico.
E ainda nomes como Charles, Daniel, Max, Samuel, Thomas, Benjamin, Wilson, Sofia, Isabel, Jéssica, Alice, Rose e Martha.
E sem esquecer do futebol, trazido para o Brasil por Charles Miller, filho de escocês e neto de ingleses. Ele fundou em 1901, a primeira entidade brasileira desse esporte, a Liga Paulista de Futebol.
Saber falar inglês ou francês nessa época era demonstração de prestígio. O sociólogo Gilberto Freyre dizia que enquanto o Brasil era maciçamente anglicizado, os ingleses também se abrasileiravam.
Essa dominação inglesa, que abrangeu também a cultura, a literatura e o teatro, durou até a metade do século XX quando o Brasil começou a de industrializar e a fabricar seus próprios produtos e a se aproximar mais da cultura americana.
Fonte: Multirio