Ruas estreitas sobrecarregadas de tráfego, aglomerados residenciais degradados e sem saneamento básico, imundice, promiscuidade, mau cheiro e epidemias davam o tom do centro do Rio daquela época.
Tais condições insalubres acabaram rendendo ao Rio de Janeiro, que recebia levas de imigrantes que vinham trabalhar nas lavouras de café, a fama mundial de “Cemitério de Europeu”.
Mesmo assim, o Plano de Melhoramentos não saiu do papel durante o Império. Os relatórios produzidos pela comissão que os elaborou serviram, contudo, de esboço para o plano diretor que viria a ser adotado por Pereira Passos, como prefeito do Distrito Federal, durante a presidência de Rodrigues Alves.
Em 1882, Passos assumiu a presidência da Companhia de Carris de São Cristóvão, que explorava linhas de bondes de tração animal entre o Centro e a Zona Norte. Em 1884, propõe à empresa a aquisição do projeto de Avenida Centra de uma grande avenida no centro da cidade.
O projeto foi comprado, aprovado, mas não saiu do papel, em função da burocracia e das condições políticas dos últimos anos do regime imperial. O projeto foi, entretanto, uma espécie de antecipação da futura Avenida Central (atual Rio Branco), que seria construída durante a gestão de Pereira Passos como prefeito da então capital do país.
As condições políticas e econômicas para pôr em prática o Plano de Melhoramentos, a reforma do porto e o projeto de construção de uma grande avenida, nos moldes dos novos bulevares franceses, só chegaram durante o governo republicano de Rodrigues Alves (1902-1906).
Nomeado prefeito pelo então presidente, Pereira Passos recebeu poderes quase que ilimitados para promover o processo de demolição das residências, cortiços e cabeças de porco da região central, a fim de fazer emergir uma nova cidade conectada com “a ordem e o progresso” da sociedade científica e tecnológica, da qual Paris se tornou símbolo.
Segundo o historiador Nicolau Sevcenko, esse processo foi saudado com simpatia pela grande imprensa, que o denominou de “Regeneração”, ao passo que os despejados sumariamente, a maioria sem ter para onde ir, o batizaram de “Bota-Abaixo”.
Seja com qual nome se queira referir à demolição/reconstrução do centro da cidade, seu marco foi a inauguração, em 1904, do eixo do novo projeto urbanístico: a Avenida Central (atual Rio Branco), que, após um concurso de fachadas, foi agraciada com uma arquitetura art nouveau. Para complementar os ares parisienses da cidade regenerada, Pereira Passos ainda importou pardais, as aves-símbolo da capital francesa.
No livro República dos Bruzundanga, o escritor Lima Barreto comenta a reforma: “De uma hora para outra a antiga cidade desapareceu e outra surgiu como se fosse uma mutação de teatro. Havia mesmo na coisa muito de cenografia”. Tamanha e tão rápida transformação surtiu efeito no imaginário republicano.
Em 1908, quando o então prefeito Francisco Marcelino de Souza Aguiar dava prosseguimento às obras iniciadas por seu antecessor, o jornalista Coelho Neto descreveu o Rio como “Cidade Maravilhosa”, em uma crônica no jornal A Notícia, enaltecendo as belezas da capital brasileira.
Poucos anos após deixar todo esse legado urbanístico e simbólico para o Rio de Janeiro e a jovem República do Brasil, Francisco Pereira Passos morre, no dia 12 de março de 1913, a bordo do navio Araguaia.
Texto: Márcia Pimentel/Multirio